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A União é um colete de forças
Saída da Grécia da Zona Euro? Cavaco explica: "somos 19, se sair ficam 18". A despreocupação do presidente da República tem a vantagem de deixar bem exposta a estrutura do pensamento dominante. Reduzir a meras contas de subtrair o que se está a passar, com a Grécia mas também com a Europa, foi exatamente a (não inocente) lógica que nos trouxe a este trágico impasse.
Não, o que se está a passar na Grécia não é (apenas) um problema dos gregos e da sua intransigência porque sim, mas da arquitetura disfuncional da Zona Euro, e de uma Europa que há muito deixou de ter um projeto político para ser a porta-voz dos interesses do sistema financeiro.
Mas, façamos então as contas que contam. A começar pelas da famosa "ajuda" e "solidariedade" europeia. Dos 254 mil milhões de euros que foram para o Estado grego, quase 180 mil milhões foram diretamente para juros e sistema financeiro. Para o funcionamento do Estado helénico? 27 mil milhões. Em 2009, 80% da dívida pública estavam nas mãos de investidores privados. Em 2015, 80% estão concentrados nos países da Zona Euro e Banco Central Europeu. Não há como dar a volta. O resgate foi para salvar os bancos franceses e alemães, expostos até ao pescoço na Grécia, e constitui a maior nacionalização de prejuízos e risco privado à escala global.
Somemos ainda os resultados da austeridade que querem enfiar, em nova dose, pela goela do povo grego abaixo. Destruição de 27% do PIB, 3 milhões de pessoas sem acesso à saúde, 300 mil famílias sem luz, só para começar. E nem um cêntimo da dívida foi pago.
Posto isto, os gregos cometeram erros? Claro que sim. Mas associá-los ao governo do Syriza ultrapassa todas as marcas da desfaçatez. A existir, a corrupção e o descontrolo financeiro foram obra dos governos apoiados pelo PSD, CDS e PS e nunca do Syriza - que tomou posse há meses.
Se sair a Grécia ainda ficam 18. Errado. Se a Grécia sair, o euro fracassa enquanto projeto político e económico. Se a Grécia sair, o princípio da irrevogabilidade da conversão monetária foi quebrado e a especulação financeira será o menor dos problemas. O principal é que a suposta União provou não ter espaço para quem exerce a sua democracia. A União passou a colete de forças. E não há garantias de solidez do euro (parece que estamos a ouvir Cavaco a assegurar a solidez do BES), ou almofada financeira que amortize esse facto.
De que tem tanto medo, esta Europa que trocou a política pela finança e a solidariedade pelos interesses partidários da Direita? É que outra solução que não a da austeridade sem fim seja aplicada. E depois, se funciona?
Artigo publicado em Jornal de Notícias em 30 de junho de 2015
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MM
MM
Cavaco é ele próprio, desde sempre, um homem insensível, de interesses, de que não vem nunca nada de bom, a não ser eventualmente uma ou outra excepção que confirma a regra. Ele podia ter uma formação na área financeira, e não ser como é. Faltam-lhe bases, como por exemplo humanismo e cultura. E sem elas não se governa. Relembrando só algumas:
- assustou meio mundo com a situação da bolsa, num péssimo discurso à noite, que levou ao crash na mesma logo pela manhã, e muita gente a perder dinheiro;
- apelidou uma geração de rasca, e hoje está a geração correspondente toda à rasca, como a maioria do povo em sentido amplo; ele ainda não deu por nada;
- ganhou uma fortuna num negócio de acções, que os seus homens de mão, vigaristas, lhe proporcionaram (BPN/SLN);
- disse que os 10.000,00€ que ganhava, mal lhe davam para pagar as suas despesas mensais; uma vergonha (ou a falta dela), inaceitável num país em que a larga maioria das pessoas não tem o mínimo dos mínimos para viver com dignidade, havendo quem não receba nada sequer de prestações sociais.
Não falei da Grécia, mas na verdade falei. Cavaco e as "elites" das "elites" europeias não são melhores. Falta-lhes humanismo, cultura, inteligência. E isso mina qualquer solução razoável para aquele país. Mina desde logo a possibilidade de se ser um bom político.
Cumprimentos,
PF (monárquico, social democrata triste com este PSD)
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