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A direita tem pavor de referendos

Os comentadores do costume já acertaram o discurso para combater o governo grego. Disfarçam o pavor que nutrem pela democracia e acusam Tsipras de não saber decidir.

No dia em que Alexis Tsipras disse não ao ultimato da troika e anunciou a convocatória de um referendo para que seja o povo grego a dar a última palavra sobre as exigências coloniais, a direita portuguesa demorou pouco a acertar-se e enviar para as TVs os comentadores do costume com um discurso ensaiado na ponta da língua.

Vê-se e não se acredita. Parecem clones, marionetes um pouco desconjuntadas esforçando-se por tornar credível um raciocínio tosco e absurdo.

Vê-se e não se acredita. Parecem clones, marionetes um pouco desconjuntadas esforçando-se por tornar credível um raciocínio tosco e absurdo.

Que dizem José Gomes Ferreira, Marques Mendes, Luís Delgado (os que eu vi, mas há outros)?

Que Tsipras é um fraco, que lavou as mãos porque não quis decidir.

Que Tsipras estava confuso e passou a confusão para o povo.

E por que o líder do Syriza convocou o referendo? Porque sabia que o partido não aprovaria a proposta da troika, e porque sabia que a troika não aceitaria nenhuma das propostas do partido. Diante disto, preferiu ser Pilatos.

É tudo ao contrário do que entra pelos olhos a dentro.

Tsipras foi forte. Disse não ao ultimato da troika. Sem papas na língua, afirmou que a proposta final de Merkel, Hollande, Lagarde e Draghi “contraria os princípios fundadores da Europa e compromete a recuperação da sociedade e da economia grega”. Porque amplia a austeridade e impede qualquer possibilidade de relançamento da economia.

E como Tsipras sabe que esse “não” significará quase certamente a saída do euro – e o mandato que o povo lhe deu foi o de acabar com a austeridade mas não o de sair do euro – decidiu pedir ao povo grego que decidisse se aceitava ou não a proposta. Ao mesmo tempo, o Syriza anunciou de imediato que recomendaria o voto óxi (não).

A direita portuguesa não sabe, ou não quer saber, mas chamar o povo a decidir chama-se democracia. Para a direita portuguesa, chamar o povo a decidir é não saber governar. 

A direita portuguesa não sabe, ou não quer saber, mas chamar o povo a decidir chama-se democracia. Para a direita portuguesa, chamar o povo a decidir é não saber governar. Para estes senhores, sabem governar os que prometem mundos e fundos e depois fazem o oposto. Os que negam que vão mexer nos subsídios de férias e no 13º e depois roubam-nos sem qualquer pejo. Ou seja, mentem. Para a direita portuguesa, os fortes mentem. Passos Coelho diz que nunca mandou emigrar os portugueses. Nunca aumentou o IVA. Nunca cortou benefícios aos mais pobres. Isso é “mito urbano”.

A direita portuguesa sempre foi contra referendar o euro, o tratado orçamental, qualquer tratado. Dos referendos fogem como o diabo da cruz. Na Europa também. Porque há sempre a possibilidade de o povo “não saber” votar. E nesse caso ter-se-ia que mudar de povo – mandando-o emigrar todo, quem sabe? (É melhor não lhes dar ideias).

Nos próximos dias vai travar-se na Grécia e na Europa uma batalha cruel. Merkel e Hollande, Draghi e Lagarde não vão usar argumentos lógicos para tentar ganhar o referendo grego. Vão usar a asfixia financeira, vão atiçar o pânico. Vão usar a força dos mafiosos. O povo grego precisará da nossa solidariedade. Desmontar os argumentos da direita portuguesa é uma obrigação de todos nós.

Sobre o/a autor(a)

Jornalista do Esquerda.net
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