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A pesca e a agricultura são ofícios de alto risco em Gaza

A indústria pesqueira de Gaza tem sido dizimada e milhares dos seus moradores são privados dos meios para manterem as suas famílias. Os agricultores que tentam chegar aos seus campos agrícolas, dentro da zona de separação da fronteira com Israel, também são alvos habituais das forças israelitas. Por Mel Frykberg, da IPS
Os pescadores de Gaza, Ibrahim Al Quka e o seu irmão Sami Al Quka, que perdeu a mão quando a marinha israelita disparou contra ele, embora estivesse dentro da zona de pesca restringida por Israel – Foto de Mel Frykberg/IPS

Três palestinianos ficaram feridos quando forças navais israelitas abriram fogo contra barcos de pesca diante das costas de Al Sudaniyya, no norte da Faixa de Gaza, elevando para 15 o número de agricultores e pescadores baleados pela marinha de Israel. Este país restringe o trabalho dos pescadores de Gaza a uma zona de três milhas náuticas da costa de Gaza. Porém, mesmo dentro dessa área a marinha israelita feriu ou matou vários trabalhadores, ou destruiu ou confiscou as suas embarcações.

Como a maioria dos bancos de pesca fica mar adentro, a indústria pesqueira de Gaza tem sido dizimada e milhares dos seus moradores são privados dos meios para manterem as suas famílias. Os agricultores que tentam chegar aos seus campos agrícolas dentro da zona de separação da fronteira com Israel, que varia de 500 metros a um quilómetro, também são alvos habituais das forças israelitas, que os ferem e, em certas ocasiões, os matam.

As limitações israelitas às exportações de Gaza também prejudicaram dois dos seus principais mercados, a ocupada Cisjordânia e Israel. Os produtos agrícolas e bens manufaturados eram a base da economia do território costeiro, antes que Israel e Egito impusessem o bloqueio a Gaza.

Após o conflito armado de julho e agosto de 2014, entre o movimento islâmico Hamas e Israel, que registou o bombardeamento inclemente sobre o território palestiniano por militares de Telavive, uma das condições para o cessar-fogo foi a flexibilização do bloqueio. Embora Israel tenha permitido algumas exportações de Gaza, estas não foram suficientes para revitalizar a decaída económica local.

Analistas e comentadores políticos alertaram repetidamente que o contínuo assédio e as restrições de Israel sobre Gaza poderiam desestabilizar ainda mais a região, o que provocaria mais violência e, possivelmente, uma nova guerra. Um informe sobre a situação, realizado pelo Comité Ad Hoc de Ligação do Escritório do Representante do Quarteto de Paz para o Médio Oriente, integrado por Estados Unidos, Rússia, Organização das Nações Unidas (ONU) e União Europeia, foi divulgado após uma reunião realizada em Bruxelas, no dia 27 de maio.

Segundo o documento, “mais de um ano depois do rompimento das conversações entre Israel e os palestinianos, ainda não existe um horizonte político tangível à vista. O último ano recordou-nos em várias ocasiões não só onde persistem os focos de tensão e as dificuldades, com também que, na falta de um horizonte político, o vazio é preenchido rapidamente de animosidade e violência”.

O informe descreve como a eliminação ou redução das restrições israelitas ao movimento, comércio e acesso dos palestinianos é essencial para garantir o crescimento económico. “As restrições ao movimento e acesso, tanto físicas como normativas, são obstáculos ao desenvolvimento económico na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, e afetam quase todos os aspetos da vida palestiniana”, acrescenta o documento.

Israel ajudaria o emprego e a economia de Gaza se aliviasse o bloqueio, o que fortaleceria o setor privado. Isto, por sua vez, reduziria as tensões e contribuiria para as necessidades de segurança israelitas. A falta de acordo entre Hamas e Israel é agravada pela paralisação dentro do governo de unidade palestiniano, porque não existe consenso entre o Hamas e a Fatah para governar de maneira conjunta em Gaza e Cisjordânia. Esta rivalidade atrasou a ajuda internacional, sem a qual não será possível a reconstrução, remodelação e o crescimento económico de Gaza.

A destruição em Gaza após o conflito armado de 2014 entre o Hamas e Israel – Foto de Mel Frykberg/IPS

O Escritório do Representante do Quarteto destacou cinco áreas de desenvolvimento que devem receber atenção para melhorar a situação: um governo palestiniano eficaz, movimento e comércio, infraestrutura confiável, investimento e uso sustentável da terra. No entanto, o governo de Israel continua com o plano de desalojar milhares de beduínos na Cisjordânia e em Israel, depois de receber a aprovação do Supremo Tribunal. Cerca de sete mil beduínos do centro da Cisjordânia, na sua maioria residentes no leste de Jerusalém, e mais 450 no sul de Hebron serão “desalojados” à força.

Os transferidos forçados são acompanhados de outras medidas coercivas, como demolição de casas e de obras de infraestrutura com o argumento de que foram construídas sem autorização, segundo o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários. Entretanto, na zona C da Cisjordânia, que compreende 60% do território, pouquíssimas autorizações foram emitidas pela Administração Civil de Israel, que controla a Cisjordânia, porque a maior parte da terra foi apropriada para a expansão dos colonatos israelitas.

Israel ajudaria o emprego e a economia de Gaza se aliviasse o bloqueio, o que fortaleceria o setor privado. Isto, por sua vez, reduziria as tensões e contribuiria para as necessidades de segurança israelitas. A falta de acordo entre Hamas e Israel é agravada pela paralisação dentro do governo de unidade palestiniano, porque não existe consenso entre o Hamas e a Fatah para governar de maneira conjunta em Gaza e Cisjordânia

“Os beduínos e pastores correm o risco de transferência forçada, numa grave violação do Quarto Convénio de Genebra (relativo à proteção devida às pessoas civis em tempo de guerra), bem como múltiplas violações dos direitos humanos”, afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Os beduínos do colonato não reconhecido de Umm al Hiran, no deserto de Neguev, em Israel, também podem ser desalojados pela força depois que o Supremo Tribunal rejeitou o seu apelo para que pudessem ficar.

“Este tribunal não é o lugar para criar o caos”, afirmou o juiz Elyakjim Rubinstein recentemente, ao rejeitar a apelação dos residentes beduínos no assentamento, informou o jornal israelita Haaretz. Na sentença, Rubinstein diz que os residentes, que serão desalojados das suas casas demolidas para dar lugar à construção da cidade judia de Hiran, vivem no lugar há 60 anos, após se mudarem para a zona de Nahal Yatir em 1956 por ordem do governador militar, e que o despejo e a demolição das aproximadamente 50 estruturas que construíram afetará a vida de centenas de pessoas.

No entanto, o juiz acrescenta na sentença que o despejo é razoável e proporcional, porque a terra em questão era propriedade o Estado e que as construções foram erguidas sem permissão. Cidadãos judeus conseguiram o direito de propriedade sobre a terra onde haviam se estabelecido, mas os direitos dos beduínos às suas terras nunca foram formalizados.

Envolverde/IPS

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