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Esta cidade não é para... lisboetas!

O elétrico 24, desativado há 20 anos, está já em funcionamento, com um preço absurdo de 6€ por 24h (bilhete que apenas pode ser utilizado no equipamento em questão).

A 27 de maio de 2015 veio a público uma notícia que indicava que seria possível a reabertura de um percurso de elétrico há 20 anos desativada e que servia muitas populações, mas apenas para turismo dali a uns dias. Pois assim foi e este “novo” elétrico está já em funcionamento, com um preço absurdo de 6€ por 24h (bilhete que apenas pode ser utilizado no equipamento em questão).

O turismo tem sido e vai continuar a ser um eixo essencial da Câmara Municipal de Lisboa mas tem que ser algo muito bem pensado para que possa haver um equilíbrio saudável entre quem habita e trabalha a e na cidade todos os dias e quem a visita por períodos temporários. E o momento para pensar este equilíbrio deve ser este, apesar de já vir tarde

Além da indignação de moradores e comerciantes que se juntaram numa plataforma pelo elétrico 24 (reativado na totalidade do seu percurso e com uma lógica de serviço público), também a presidente da junta de freguesia da Misericórdia já veio manifestar a sua posição desfavorável a esta reativação apenas para turistas, e ainda bem.

Esta situação vem no seguimento de um processo de concessão dos transportes públicos e pode ser um bom exemplo do que poderá vir a ser um horizonte de privatização dos transportes públicos em Lisboa.

Como é óbvio, e para nós sempre o foi, o privado não pode gerir aquilo que é público porque o seu objetivo essencial é completamente oposto: é o lucro, logo não vai favorecer nem vai pensar o seu modelo de funcionamento tendo em conta o serviço público e o acesso universal que deve haver do direito de mobilidade.

Esta notícia deve fazer-nos pensar na antecâmara do que pode vir a acontecer daqui a umas semanas, a uns meses com toda a rede de transportes de Lisboa.

Além da questão do acesso ao transporte público enquanto direito existem outras questões que gravitam à volta deste percurso que denotam o estado da cidade de Lisboa: em primeiro lugar, temos o problema do estacionamento que em especial nesta zona é muito complicado e se vai agravar.

Em segundo lugar, prende-se com a lógica que se pretende para a cidade: uma cidade virada pura e simplesmente para o turismo. Também tem sido relatado por órgãos de comunicação social, e pode ser experienciado no dia-a-dia por quem circule em certas partes da cidade, o sentimento que tem sido vivido por quem habita a cidade de uma espécie de invasão do espaço público, do espaço que cada um e cada uma precisa para viver, para trabalhar, para ter o seu espaço de lazer.

A questão do percurso do elétrico 24 é a epítome da lógica de turismo que deve ser combatida. E não é com declarações como as do presidente dos transportes de Lisboa que se combate: chega-se ao absurdo de propor criar um passe especial para os habitantes abrangidos pelo percurso deste equipamento. Mas as pessoas já têm um passe, e a questão de fundo é o acesso universal aos transportes públicos, que não está, assim, garantida

Este sentimento de invasão e os serviços cada vez em mais quantidade e mais descaradamente direcionados para o turismo tem que ser parado com urgência, sob risco de intensificar a gentrificação e afastar cada vez mais pessoas do centro da cidade.

O turismo tem sido e vai continuar a ser um eixo essencial da Câmara Municipal de Lisboa mas tem que ser algo muito bem pensado para que possa haver um equilíbrio saudável entre quem habita e trabalha a e na cidade todos os dias e quem a visita por períodos temporários. E o momento para pensar este equilíbrio deve ser este, apesar de já vir tarde.

No fundo, a questão do percurso do elétrico 24 é a epítome desta lógica de turismo que deve ser combatida. E não é com declarações como as do presidente dos transportes de Lisboa que se combate: chega-se ao absurdo de propor criar um passe especial para os habitantes abrangidos pelo percurso deste equipamento. Mas as pessoas já têm um passe, e a questão de fundo é o acesso universal aos transportes públicos, que não está, assim, garantida.

E o executivo do PS, até há pouco liderado por António Costa, compactua com estas situações e ainda está para se ver o belo resultado da implicação da câmara no processo de privatização dos transportes públicos em Lisboa. Infelizmente este pequeno exemplo pode ser o levantar do véu do que pode vir a acontecer.

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Licenciada em Ciências Políticas e Relações Internacionais e mestranda em Ciências Políticas
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