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Praia Dona Ana – Mais um caso de destruição em nome de interesses privados
A Praia Dona Ana, em Lagos, tem vindo a ser alvo de uma intervenção promovida pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) – entidade controlada pelo Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia –, com o objetivo de promover tanto a preservação da natureza como a segurança das pessoas sujeitas ao desmoronamento da arriba, no âmbito da “gestão integrada e participada das políticas de ambiente e de desenvolvimento sustentável”. Essa intervenção, que conta com o apoio da Câmara Municipal de Lagos, consiste em aumentar a quantidade de areia na praia em 140 mil metros cúbicos (areia essa retirada do fundo do mar e com uma cor diferente da cor doirada do areal existente), passando a praia a ter uma distância de mais 25 metros relativamente à atual, entre a arriba e o mar, e sendo soterradas rochas já conhecidas e admiradas por todos os que as observaram; para além disso, foi construído um dique de retenção, que liga a praia ao conhecido Leixão dos Artilheiros.
Pensemos, então: não é por se aumentar a área da praia ou por se construir um dique que a instabilidade da arriba deixa de existir – não é por isso que as pessoas passam a estar mais seguras. Não obstante, é por isso que uma das praias com melhor reputação internacional, cuja beleza natural (digna de ser observada), ecossistemas diferentes e ao mesmo tempo ricos que lhe valeram a fama e o título, e que vai ficar lotada de qualquer forma, sujeitando sempre as pessoas ao desmoronar da falésia, deixa de ser o que era.
O único e verdadeiro motivo da obra é, obviamente, a promoção do turismo de massas e a promoção do negócio de privados, grandes e pequenos grupos que se instalaram junto à arriba (muitos deles em terrenos de Domínio Público Marítimo) e que, com toda a certeza, contribuíram para a sua instabilidade, devido ao peso colocado sobre as mesmas, destruição do coberto vegetal, impermeabilização do solo, entre outros fatores, e nunca se preocuparam nem preocupam com o mal que fizeram desde que o seu lugar continue reservado. Esses, sim, são os únicos a beneficiar com tudo isto.
Após tomar conhecimento do que estava em curso e ainda de que o custo associado à intervenção era elevadíssimo (cerca de 2 milhões de euros de fundos do Estado, ou seja, dos contribuintes), a Almargem, Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental do Algarve, com o apoio de outros cidadãos Lacobrigenses e de surfistas e ambientalistas, apresentou propostas alternativas como “campanhas de sensibilização que permitissem uma utilização sensata da sua superfície e das praias subjacentes”. Apesar de não ter tido resposta do Ministro do Ambiente, Moreira da Silva, defendeu ainda que, relativamente à arriba, “deveria ser proibida ou, caso necessário, demolido qualquer tipo de construção pesada à sua beira pois esse é um fator primordial para a sua desestabilização” e que devia haver “uma vedação dissuasiva, formada por simples estacas e corda, em volta de todas as zonas de risco” mesmo tendo em conta que “no caso da Praia de Dona Ana isso iria diminuir drasticamente a lotação do areal”. Considera que só dessa forma o falso objetivo da APA poderia ser de facto concretizado. A organização de manifestações, a partilha de fotografias nas redes sociais, a recolha de assinaturas para petições também têm sido iniciativas tomadas por estes grupos.
As melhores soluções e alternativas (consistentes e com bases fortes) para combater a instabilidade da orla costeira são assuntos sensíveis que deviam ter sido parte constitutiva do debate público, característico de um Estado Democrático, no qual a voz do povo também interessa, onde participassem pessoas especializadas no assunto e com diversas opiniões acerca do mesmo.
Estão em causa não só a destruição de Património Natural que tem e deve, em toda a parte do Mundo, ser preservado e cuidado, dado que marcou a História da cidade e de quem lá vive e viveu, como a credibilidade externa no que toca ao turismo sustentável característico da zona, e também a consideração que os mais altos responsáveis do Governo Português têm para com os que vivem no local e que nunca têm palavra a dizer sobre o que quer que seja, já que nem a CML faz com que a sua voz seja ouvida.
É importante referir que quem foi permitindo que se fossem dando estes sucessivos e descontrolados passos destruidores deve ser chamado a responder perante as populações.
A Praia Dona Ana não será o primeiro caso desta política de (des)organição territorial –o exemplo da Praia da Rocha, em Portimão, ainda está bem presente –, mas poderá ser o último, se nos empenharmos nesse sentido.
O Algarve não pode ser destruído em nome de interesses privados e o Bloco de Esquerda de Lagos fará, com certeza, parte dessa luta.
Comments
As pessoas gostam muito de
As pessoas gostam muito de falar à toa. A praia estava em degradação, durante o inverno de 2013 várias fachadas das arribas cairam na praia, e se tivessem ocorrido no Verão de certo teriam matado pessoas.
É necessária uma intervenção às arribas pois mais tarde ou mais cedo deixaríamos de ter praia, devido ao estado em que estas se encontravam.
Quanto ao areal, poderá ser um desperdício, como poderá não ser. Os 2 milhões gastos agora podem reverter em lucro mais tarde, mas independentemente disso, areia é colocada em todas as praias quase todos os anos e ninguém nota pela diferença. Como estão a fazer umas construções fazem logo um escândalo.
Quando as obras terminarem logo vemos se valeram a pena ou não, agora mandar bitaites é fácil, fazer melhor é que tá quieto.
O Sr.Manuel não sabe ler o
O Sr.Manuel não sabe ler o que o Sr. Luís disse, mas sabe "mandar bitaites".
Ora, o Sr. Luís disse precisamente que a instabilidade foi causada pelas construções, que não deveriam existir (ou é preciso tirar um curso para perceber isto?) . Para agravar esta "não " compreensão, o Sr. Manuel acha que , mais construções até poderão ser boas.
E esta, hem !
não sabes mesmo o que dizes,
não sabes mesmo o que dizes, como é obvio as construções agravam a queda das arribas, mas essa é inevitável. Por outro lado podem-se fazer contruções que evitem a sua queda sim, as construções já existem e ponto, como é obvio o ideal seria não ter lá os hoteis e os apartamentos, mas se eles já lá estão queres fazer o quê oh espertinho, deixar que caiam?
Se calhar devias era tirar mesmo o curso para perceber que há construções preventivas, visto que a falta de compreensão não é minha mas sim tua oh chico esperto.
Eu frequento a praia da D.
Eu frequento a praia da D. Ana e mergulho com óculos, barbatanas e respirador na sua água desde os seis ou sete anos. Conhecia cada milímetro daqueles seis ou sete metros de mar que agora foram engolidos por areia cinzenta, tão diferente do seu areal grosso e dourado. Ali viviam chocos, polvos, várias espécies de anémonas, caranguejos, santolas, bodiões, pepinos do mar. Ali se refugiavam cardumes de sargos juvenis, que se alimentavam das algas que cresciam perto da margem. Na semana passada estive de férias em lagos. Só no penúltimo dia arranjei coragem para ir ver "a obra". Sou um homem de 40 anos, pai de filhos, mas não tenho vergonha de dizer que saí de lá com lágrimas nos olhos. Que tamanha barbaridade tenha sido orquestrada pela Agência Portuguesa do Ambiente - à qual cabe precisamente combater este tipo de atrocidades - é a prova definitiva que ainda vivemos num país do terceiro Mundo.
Só para finalizar: e no meio
Só para finalizar: e no meio destas preocupações todas com as arribas, ninguém se lembrou da hipótese de demolir aquela aberração descomunal que dá pelo nome de Edifício Montana e que está, precisamente, assente sobre a arriba que tem dado sinais de fragilidade? As arribas, por definição, vão-se desfazendo. Mas ninguém acha estranho que um processo que normalmente leva milhões de anos se tenha acentuado de tal forma nas últimas décadas? Ou será que destruir milhões de espécies animais é aceitável em nome do bem estar dos banhistas mas demolir uma aberração urbanística já não poder ser, porque custa muito dinheiro?
Se calhar demolir uma
Se calhar demolir uma aberração urbanistica é muito mais dificil, olha os hoteis do Belmiro todos queimados que se querem demolir, mas não é permitido por causa do dono.
Não concordo que se acabe com aquele habitat, mas antes os animaizinhos do que nós... Se por acaso morressem umas pessoas nas arribas era logo culpa do estado que não fez nada para prevenir aquilo...
Eu sou sincero esteticamente gostava mais dela antes, mas acho-a muito mais segura agora. Cada um tem a sua opinião é verdade, agora só acho mal é culparem quem não tem culpa e mandarem bitaites à toa sem se informarem. Mas olha é o povo, bem haja!
O foco do texto é
O foco do texto é precisamente o fato de terem aumentado a extensão do areal sem que isto representasse menos perigo para as pessoas.
Destruíram um ecossistema marítimo e a beleza de uma praia, mas não resolveram o perigo do colapso das arribas e nem sequer tomaram medidas para as pessoas não se aproximarem destas.
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