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Varoufakis: “Salários e pensões são sagrados”

O ministro das Finanças grego afirmou esta segunda-feira que o pagamento de salários e pensões não estará em causa. E diz que não aceita assinar um acordo que não preveja a restruturação da dívida grega.
Yanis Varoufakis na entrevista desta segunda-feira à noite

Numa longa entrevista televisiva no canal Star – que terminou depois das 2h30 da madrugada na Grécia – Yanis Varoufakis voltou a sublinhar que as pensões e salários são “sagrados” e que cortar pensões não é fazer nenhuma reforma. Se a Grécia tiver de escolher, “prefiro entrar em incumprimento com o FMI do que com os nossos trabalhadores e pensionistas”, garantiu o ministro das finanças grego.

Outro dos aspetos fundamentais que o governo de Atenas quer ver no acordo com os credores é a resolução do problema da dívida incomportável do país. “Não assinaremos nenhum acordo que não contenha a restruturação da dívida”, prometeu Varoufakis.

Recusando os rumores sobre uma eventual subida do IVA, Varoufakis desvendou a proposta que o governo tem negociado com os credores para a reforma deste imposto, que hoje inclui as taxas de 6.5%, 13% e 23%. Varoufakis diz que a Grécia vai ter apenas duas taxas: a reduzida de 6.5% e a normal de 15% para pagamentos em cartão, com os pagamentos em dinheiro a serem taxados a 9.5% e 18%, respetivamente. Com esta medida da dupla taxa do IVA, Varoufakis diz que a utilização de cartões de crédito e débito no consumo irá disparar e com isso reduzir a evasão fiscal.

“A Grécia é um dano colateral na tentativa do Sr. Draghi salvar a zona euro”

Varoufakis diz estar convencido de que o acordo das equipas de negociadores em Bruxelas está “muito próximo” e que o cenário de rotura das negociações ou da criação de uma nova moeda não está em cima da mesa. “Não estamos preparados para uma rotura, mas felizmente os nossos parceiros também não. Nenhum dos lados quer romper e isso é muito positivo”, prosseguiu.

Reagindo às declarações do presidente do Bundesbank, que criticou a extensão das garantias de liquidez do BCE aos bancos gregos, Varoufakis lembrou que Jens Weidman é um reconhecido crítico da atuação de Mario Draghi e do seu plano de compra de dívida (quantitative easing), tendo até contestado a medida no Tribunal Constitucional da Alemanha. “A Grécia é um dano colateral na tentativa do Sr. Draghi salvar a zona euro”, resumiu.

Já sobre Merkel e Schäuble estarem a fazer o papel de “polícia bom e polícia mau”, com o último a querer empurrar a Grécia para fora do euro, Varoufakis não quis comentar, alegando que só conhece o homólogo alemão e tem com ele uma “excelente” relação pessoal. Varoufakis disse querer manter o compromisso de nunca revelar as suas discussões com outros ministros das Finanças europeus e disse acreditar que Schäuble também o cumpre.

“Não há negociação nenhuma no Eurogrupo”

Respondendo às críticas da oposição sobre a gestão das contas públicas e o respeito pelos compromissões, Varoufakis lembrou que “nos 30 meses do governo Samaras/Venizelos havia mais receita de empréstimos do que despesa com reembolsos, com 1900 milhões de euros de empréstimos a entrar por trimestre. Nós nestes quatro meses de governo não recebemos um cêntimo e pagámos 6500 milhões aos nossos credores”.

Yanis Varoufakis explicou que “não fazia nenhum sentido” levar o entendimento de 20 de fevereiro no Eurogrupo a votos no parlamento grego, por não se tratar de um novo memorando. Pelo contrário, o acordo que negoceia com os credores para garantir o financiamento do país no próximo período será levado ao parlamento e serão os deputados a decidir.

Respondendo a questões do público presente, Yanis Varoufakis retomou as críticas à forma como a união monetária foi criada e voltou a afirmar que foi um erro a Grécia ter entrado no euro. “Na Grécia, uma empresa paga 12% de juros ao banco, enquanto na Holanda paga 2%. Isto não é uma união monetária”, rematou. Sobre a forma como as decisões são tomadas, Varoufakis também não teve meias palavras: “Não há negociação nenhuma no Eurogrupo, as decisões na Europa são tomadas em sítios obscuros onde os tecnocratas se juntam”. Questionado sobre o convite para a Grécia entrar no núcleo fundador do “Banco dos BRICS”, Varoufakis considerou a iniciativa como “uma luz brilhante numa paisagem escura”.

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