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Como responderam os sindicatos à transformação capitalista?
1. Contra a ditadura nas empresas, mais democracia nas organizações laborais
Muitos sindicatos têm um problema de fundo que lhes tolhe as respostas necessárias à brutalidade da exploração nos novos tempos: dirigentes que atuam como há 30 anos atrás, “vivem na ilusão”. Dirigentes que entendem que as organizações dos trabalhadores são correias de transmissão de um partido e tentam colar procedimentos repetitivos e conceitos decorados, dogmáticos, acríticos e antimarxistas em realidades que lhes fogem pelos dedos.
A ortodoxia centralista afirma que ao sindicato corresponde um e só um partido de classe. O partido, ou quem o dirige, tem que garantir a direção, dificultar oposições ou “dar-lhes migalhas de poder”.
Limitam-se os direitos sindicais ao ponto do direito de tendência, ainda hoje, passados 41 anos do 25 de abril, ser uma miragem democrática na maioria dos sindicatos. A tendência induz contraditório e democracia sindical e faz da “ilusão” uma fortaleza de papel; a eleição por método de Hondt atrai a participação. A tendência e a eleição proporcional são vilipendiadas pelos que se opõem à “parlamentarização sindical” – na verdade porque representam a democracia. Colocando o dedo na ferida: a “democracia sindical” é por vezes menos democrática que a “democracia capitalista” e isso soma dificuldades à resistência.
Não basta escolher o lado certo da luta de classes: as organizações precisam de juntar forças e abrir as portas à participação da base. A luta contra a ditadura nas empresas implica mais democracia nos movimentos dos trabalhadores. No caso da EDP, os sindicatos ignoraram um abaixo-assinado de 1.250 trabalhadores pedindo a votação do Acordo Coletivo de Trabalho.
Só será possível salvar a contratação coletiva com a participação decisiva dos trabalhadores!
Na maioria da CGTP, como na UGT, o poder está essencialmente nas direções e comissões negociadoras. Os poucos sindicalizados pagam quotas mas “não podem decidir”. Regra geral pouco decidem sobre propostas ou formas de luta, não votam acordos sendo raríssimos os casos que, quando se faz, o é por voto secreto. Por vezes, a peneira tapa o sol da democracia com plenários pouco participados onde a linha é dar poder à comissão negociadora sindical.
À direita, o sindicalismo colaboracionista serve para subir no partido, subir na empresa, ganhar “pequenos privilégios”. A UGT consolidou-se como legitimadora dos governos de direita e de uma concertação social que é cada vez mais uma capitulação.
É extraordinário como a reivindicação da redução do horário de trabalho para as 35 horas tem estado tão pouco presente na luta contra o desemprego e contra o banco de horas. O Bloco de Esquerda está de parabéns por o ter feito neste 1º de Maio.
A exígua luta ideológica pela solidariedade de classe representa outra derrota dos sindicatos. “A solidariedade é um fator educador, mediático e pilar da luta política e reivindicativa. A solidariedade deverá ser fator integrante e planeador da luta, do envolvimento da população e de personalidades” que fazem opinião pública e não apenas sempre dos mesmos camaradas ligados ao partido.
Raros são os sindicatos têm fundos de greve para dar mais capacidade à luta dos trabalhadores. Já em agosto de 1946, Soeiro Pereira Gomes, em “Praça de Jorna”, defendeu a criação e desenvolvimento das “Caixas de Solidariedade” ou “Caixas de Resistência”. Coisa que a ilusão dogmática não deixa perceber.
2. O momento político que se aproxima
É importante a forma como as organizações de trabalhadores respondem ao novo Estado, realmente existente; mas mais importante será a resposta que os eleitores darão nas próximas eleições legislativas. Aí outras ilusões se tentam criar, nomeadamente a de que o PS será capaz de uma política de esquerda não revertendo as privatizações, atacando os direitos dos trabalhadores e nem sequer declarando voltar à Lei Geral de Trabalho do tempo de Guterres – o seu sebastianista candidato presidencial.
No novo Estado, “o estado a que isto chegou”, o Tratado Orçamental marca a linha que separa a esquerda da direita. Há que reforçar a esquerda que não tem “ilusões”.
Comments
Mais um texto cheio de reptos
Mais um texto cheio de reptos e intenções mas que não trata daquilo que inicialmente diz que vai tratar.
Haja vontade para a esquerda
Haja vontade para a esquerda se avaliar
e não ser apenas avaliada por outros. Vi propostas no texto. Falta completar explicando a estrat'egia.
- A força dos movimentos
- A força dos movimentos sindicais no nosso país, têm vindo gradualmente a perder força, muito pela existência de 2 tendências que raramente estão unidas na luta pelo mesmo objectivo.
- As novas gerações estão pouco ligadas aos movimentos sindicais, o que explica a contínua degradação dos direitos e salários, o que deixa muito satisfeito o patronato capitalista.
- Saúda-se a força das greves no sector dos transportes, onde estive de 1970 a 1980 e recordo com saudade a participação em várias lutas. Quem desiste de lutar recebe o que lhe quiserem dar, e nada resolve choro e lamentações. Apela-se á sindicalização das novas gerações, e criem capacidade reivindicativa pelos direitos inerentes ao valor do seu trabalho.
Meus caros amigos. De fato há
Meus caros amigos. De fato há aqui um repto e em coincidência uma estratégia: juntar forças para podermos "acabar com estado a que isto chegou". E o texto é bem claro. Mas para juntar forças é preciso mais DEMOCRACIA nas organizações dos trabalhadores - em particular nos sindicatos. Ninguém junta forças sem uma relação biunívoca de partilha e decisão!
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