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“A austeridade é um roubo”

Durante um jantar em Coimbra, a porta voz do Bloco lembrou que, em tempo de crise, “as empresas do PSI20 distribuíram dividendos como nunca”. “Como é que neste país os créditos fiscais à banca são tão naturais como a lei da gravidade mas os direitos humanos não lhes dizem nada?”, questionou ainda Catarina Martins. A dirigente bloquista frisou também que "a promessa" de Passos Coelho de "cortar mais" nos custos de trabalho "tem um nome: TSU [Taxa Social Única].
Foto de Paulo Novais, Lusa.

“Enquanto foram cortados os salários e as pensões, enquanto foi cortado o valor das horas extraordinárias, enquanto acabaram com os feriados, e enquanto o valor de cada hora de trabalho descia em Portugal nestes anos de crise, as empresas do PSI20 distribuíram lucros como nunca, distribuíram dividendos como nunca. A austeridade é um roubo”, avançou Catarina Martins durante um jantar comemorativo dos 16 anos da fundação da distrital de Coimbra do Bloco.

A dirigente bloquista lembrou ainda que “enquanto a ministra das Finanças nos fala da razoabilidade do seu projeto para o país, e nos diz como é inevitável dar créditos fiscais à banca – só para o Novo Banco são 2826 milhões de euros –, a pobreza subiu como nunca e hoje quem é pobre é muito mais pobre”.

“Como é que neste país os créditos fiscais à banca são tão naturais como a lei da gravidade mas os direitos humanos não lhes dizem nada?”, questionou.

"A promessa de Passos Coelho tem um nome: TSU"

A porta voz do Bloco criticou a afirmação de Passos Coelho, durante uma conferência sobre investimento em Portugal, de que o custo de trabalho nas empresas ainda é muito elevado em Portugal.

“O que o primeiro ministro prometeu é de facto uma ameaça. Passos Coelho prometeu que Portugal ia ser a economia mais competitiva do mundo e prometeu que para lá chegar quer baixar o custo do trabalho” no país, afirmou a dirigente do Bloco, lembrando que este é "menos de metade de Espanha e muito menos de metade da zona Euro".

“Portugal foi o país que mais comprimiu os custos trabalho na zona euro no último trimestre de 2014”

"Queremos competir com quê, com os baixos salários do Bangladesh?", interpelou, acrescentando que “Portugal foi o país que mais comprimiu os custos trabalho na zona euro no último trimestre de 2014”.

Para Catarina Martins, "a promessa" de Passos Coelho de "cortar mais" nos custos de trabalho "tem um nome: TSU [Taxa Social Única].

De acordo com a dirigente do Bloco, o Governo não conseguiu aprovar as alterações àquela taxa, lembrando o mês de setembro de 2012, "quando um milhão saiu à rua contra um corte na TSU dos patrões, para que quem trabalha pagasse mais, mas não desistiu".

"Cortou tanto ou mais com as outras medidas todas à volta e agora chega ao fim da legislatura e apresenta-se ao país, ameaçando o país, de que o seu projeto continua a ser esse. Baixar os custos de trabalho, descapitalizar a Segurança Social, retirar a proteção a quem trabalha", acusou.

É preciso ajustar contas

Segundo a porta voz do Bloco, é preciso “ajustar contas”.

“Um país que pode distribuir dividendos como nunca nas maiores empresas é um país que tem de repor os salários num nível digno. Um país que está a dar dinheiro aos hospitais privados é um país que tem de poder recuperar o Serviço Nacional de Saúde. Um país que tem 'cofres cheios' ou 'almofadas' não é um país que possa conviver com a pobreza ou com a degradação dos serviços públicos”, defendeu.

Um país que tem 'cofres cheios' ou 'almofadas' não é um país que possa conviver com a pobreza ou com a degradação dos serviços públicos”

Para a dirigente bloquista, a quem o país deve pagar as suas dívidas é àqueles que trabalharam toda uma vida e depois viram a pensão cortada, a quem trabalha e vê o seu salário cortado, a quem trabalha neste país e está sujeito ao subemprego, à precariedade, ao desemprego.

Durante a sua intervenção, Catarina Martins saudou ainda os resultados eleitorais do Bloco nas eleições legislativas regionais na Madeira, frisando que os mesmos “nos deixam a todos muito orgulhosos”.

“Na Europa, uma mão lava a outra”

Marisa Matias frisou, por sua vez, que “a austeridade passou a ser a regra e a lei que se vive na União Europeia e em Portugal”.

“Não é a dívida grega que é o problema. As dívida grega e portuguesa são instrumentos para servir de chantagem e para tentar impedir que sejam postas em prática alternativas às políticas de austeridade. Porque se essas políticas forem postas em prática, como aliás o Syriza pretende, serão não só os gregos, mas sim 500 milhões de europeus que poderão confirmar que podemos fugir a esta chantagem”, avançou a eurodeputada bloquista.

“O governo francês é tão responsável pela situação que se está a viver na Grécia e em Portugal como aqueles que estão à frente das instituições europeias”

Fazendo referência às declarações do primeiro-ministro socialista francês, que referiu que as perspectivas para a economia nacional este ano "são encorajadoras" e que agora "Portugal beneficia da confiança dos investidores", Marisa Matias salientou que não há diferença entre as declarações de Manuel Valls e da chanceler alemã ou do presidente da Comissão Europeia e dos responsáveis do Fundo Monetário Internacional.

“Na Europa, uma mão lava a outra”, frisou, defendendo que “o governo francês é tão responsável pela situação que se está a viver na Grécia e em Portugal como aqueles que estão à frente das instituições europeias”.

“No Eurogrupo, metade dos países são ditos socialistas, são ditos sociais democratas”, acrescentou a eurodeputada, destacando que nas negociações com o governo grego “não se notou nenhuma voz distinta dentro do Eurogrupo”.

Marisa Matias lembrou ainda que António Costa afirmou que considera Manuel Valls um bom companheiro na luta contra a austeridade, e que o líder do Partido Socialista recusa qualquer confronto com uma Europa que, segundo a eurodeputada, está a matar o projeto europeu.

Maria Luís Albuquerque mentiu ao Parlamento

Durante a sua intervenção, a eurodeputada acusou a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, de ter mentido no parlamento quando disse que não há dívida nova, acusando a governante de estar a garantir os seus interesses futuros.

"Não é por acaso que continuamos a ouvir a ministra das Finanças a mentir, como mentiu no parlamento, quando disse que não havia dívida nova. Há dívida nova, não é apenas dívida que não estava revelada", disse Marisa Matias.

"Não é por acaso que Maria Luís Albuquerque continua a insultar-nos todos os dias, a lembrar os piores momentos da história deste país. Sim, tínhamos os cofres cheios e as pessoas viviam na miséria, não é por acaso que isto continua a acontecer, é porque não se pode por em causa um sistema que se tem que reproduzir, em nome da salvaguarda dos interesses de alguns", acusou.

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