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Naomi Klein: “O sistema económico que temos criou o aquecimento global”

Podemos deter o aquecimento global? Só se mudarmos de modo radical o nosso sistema capitalista, defende a ensaísta Naomi Klein, em entrevista à revista alemã Der Spiegel.
Naomi Klein – Foto de Truthout.org/Flickr

Numa entrevista para a revista alemã Der Spiegel, realizada por Klaus Brinkbäumer, ela explica por que chegou o momento de abandonar os pequenos passos a favor de uma perspetiva radicalmente nova, tal como detalha no seu livro “Isto muda tudo: o capitalismo contra o clima”.

Der Spiegel: Naomi, por que não conseguimos deter a mudança climática?

Naomi Klein: Má sorte. Mau momento. Muitas coincidências lamentáveis.

Spiegel: A catástrofe errada no momento errado?

Klein: O pior momento possível. A conexão entre gases de efeito de estufa e aquecimento global vem sendo uma questão política central para a humanidade desde 1988. Foi precisamente a época em que caiu o Muro de Berlim e Francis Fukuyama nos certificou do “fim da história”, a vitória do capitalismo ocidental. O Canadá e os EUA assinaram o primeiro acordo de livre comércio, que serviu como protótipo para o resto do mundo.

Spiegel: A senhora diz que começou uma nova era de consumo e energia precisamente no momento em que a sustentabilidade e a contenção teriam sido mais adequadas?

Klein: Exato. E foi precisamente nesse momento quando nos disseram que já não havia nada parecido com a responsabilidade social e com a ação coletiva, que deveríamos deixar tudo por conta do mercado. Privatizámos as nossas ferrovias e a rede energética, a OMC e o FMI comprometeram-se com um capitalismo desregulado. Desgraçadamente, isso conduziu a uma exploração das emissões.

Spiegel: A senhora é uma ativista e tem culpado o capitalismo por todo tipo de coisas ao longo dos anos. Agora também o culpa pelas alterações climáticas?

Klein: Não há motivo para sermos irónicos. Os números contam qual é a história inteira. Durante os anos 90, as emissões aumentaram 1% ao ano. Desde o ano 2000, foram subindo a uma média de 3,4%. Exportou-se globalmente o sonho americano e rapidamente se expandiram bens de consumo que acreditávamos ser essenciais para satisfazer as nossas necessidades. Começámos a ver-nos exclusivamente como consumidores. Quando o comprar como forma de vida é exportado para todos os cantos do globo, isso exige energia. Muita energia.

Spiegel: Voltamos à nossa primeira pergunta: por que nós não pudemos deter essa mudança?

A conexão entre gases de efeito de estufa e aquecimento global vem sendo uma questão política central para a humanidade desde 1988. Foi precisamente a época em que caiu o Muro de Berlim e Francis Fukuyama nos certificou do “fim da história”, a vitória do capitalismo ocidental. O Canadá e os EUA assinaram o primeiro acordo de livre comércio, que serviu como protótipo para o resto do mundo

Klein: Sistematicamente desprezámos as ferramentas. Hoje faz-se piada de regulações de todo tipo. Os governos já não aplicam regras severas que ponham limites às petrolíferas e demais empresas. Essa crise veio no pior momento possível. Já não temos tempo. Estamos num momento de agora ou nunca. Se não atuarmos como espécie, o nosso futuro estará em perigo. Temos que reduzir as emissões de modo radical.

Spiegel: Voltemos a outra pergunta: A senhora não estará a apropriar-se indevidamente das alterações climáticas para as utilizar na sua crítica ao capitalismo?

Klein: Não. O sistema económico que criámos também criou as alterações climáticas. Eu não inventei isso. O sistema não serve, a desigualdade económica é demasiadamente grande e a falta de contenção por parte das empresas energéticas é desastrosa.

Spiegel: O seu filho Toma tem dois anos e meio. Em que tipo de mundo viverá quando sair da escola, em 2030?

Klein: Isso é o que se está a dizer agora mesmo. Vejo sinais de que poderá haver um mundo radicalmente diferente do que temos hoje, e de que a mudança poderá ser bastante positiva ou extremamente negativa. Já é certo que, pelo menos em parte, será um mundo pior. Vamos experimentar as alterações climáticas e muito mais desastres naturais, isso é certo. Mas temos tempo ainda para impedir um aquecimento verdadeiramente catastrófico. Temos tempo ainda de mudar o nosso sistema económico para que não se torne mais brutal e impiedoso ao enfrentar as alterações climáticas.

Spiegel: O que se pode fazer para melhorar a situação?

Klein: Temos hoje que tomar algumas decisões sobre que valores são importantes para nós e como queremos viver de verdade. E, é claro, existe uma diferença no facto de a temperatura aumentar 2 graus ou aumentar 4 ou 5, ou mais. Ainda é possível aos seres humanos tomar as decisões corretas.

Spiegel: Passaram 26 anos desde a fundação do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change) em 1988. Sabemos no mínimo, desde então, que as emissões de CO2 causadas pela queima de petróleo e carbono são responsáveis pelas alterações climáticas. Mas pouco se fez para enfrentar o problema. Não fracassámos já?

Klein: Eu vejo a situação de forma diferente, dado o enorme preço que teremos que pagar. Enquanto tivermos a mínima oportunidade de êxito ou de minimizar o dano, temos que continuar a lutar.

Spiegel: Há vários anos, a comunidade internacional estabeleceu um objetivo para limitar o aquecimento global a dois graus centígrados. Ainda considera isso alcançável?

Klein: Bom, ainda é uma possibilidade física. Teríamos que reduzir imediatamente as emissões globais para 6% ao ano. Os países mais ricos teriam que ter um peso maior, o que significa que os EUA e a Europa teriam que cortar emissões entre 8% e 10% ao ano. Imediatamente. Não é impossível, só que politicamente é profundamente irrealista no nosso sistema atual.

Spiegel: A senhora está a dizer que as nossas sociedades não são capazes de fazê-lo?

Klein: Sim. Precisamos de uma mudança espetacular, tanto na política como na ideologia, porque existe uma diferença fundamental entre o que os cientistas nos dizem que temos que fazer e a nossa realidade política atual. Não podemos mudar a realidade física, de modo que temos que mudar a realidade política.

Spiegel: Uma sociedade que se centra no crescimento poderá combater de verdade e com êxito a mudança climática?

Klein: Não. Um modelo económico baseado num crescimento indiscriminado leva inevitavelmente a um maior consumo e a maiores emissões de CO2. Pode e deve haver crescimento no futuro em muitos setores da economia: tecnologias verdes, transporte público, todas as profissões que proporcionam cuidados, nas artes e, é claro, em educação. Porém, o núcleo do nosso produto interno bruto compreende apenas o consumo, as importações e exportações. Aqui é preciso haver cortes. Qualquer outra coisa será enganarmo-nos.

Spiegel: O Fundo Monetário Internacional afirma o contrário. Diz que o crescimento económico e a proteção do clima não se excluem mutuamente.

Claro que a minha posição entra em conflito direto com o neoliberalismo

Klein: Eles não analisam os mesmos números que eu. O primeiro problema é que em todas essas conferências sobre o clima, todos agem como se fôssemos chegar ao nosso objetivo por meio de um compromisso próprio de obrigações voluntariamente aceites. Ninguém diz às empresas de petróleo que precisarão de ceder. O segundo problema é que estas empresas vão lutar como feras para proteger o que não querem perder.

Spiegel: A sério, quer eliminar o livre mercado com a finalidade de salvar o clima?

Klein: Não falo de eliminar mercados, mas faz-nos falta muito mais estratégia, direção e planeamento, e um equilíbrio muito diferente. O sistema em que vivemos está abertamente obcecado com o crescimento, considerando bom qualquer crescimento. Mas existem formas de crescimento que, claramente, não são boas. Para mim, está claro que a minha posição entra em conflito direto com o neoliberalismo. É verdade que, na Alemanha, embora tenham acelerado a mudança em direção às energias renováveis, o consumo de carbono está, na realidade, a aumentar?

Spiegel: Isso era certo entre 2009 e 2013.

Klein: Para mim, isso é expressão da recusa a tomar decisões sobre o que precisa de ser feito. A Alemanha nem sequer vai cumprir o seu objetivo de emissões nos próximos anos.

Spiegel: A presidência de Obama é o pior que poderia acontecer para o clima?

Nos EUA, todas as transformações importantes legal e socialmente nos últimos 150 anos foram resultado de movimentos sociais massivos, conforme se posicionaram a favor das mulheres, contra a escravidão ou em prol dos direitos civis. Precisamos de novo dessa força, e rapidamente, porque a causa das alterações climáticas é o próprio sistema político e económico

Klein: De certo modo. Não porque Obama seja pior do que um republicano, que não é, mas porque estes oito anos foram a maior oportunidade desperdiçada das nossas vidas. Havia os fatores justos para uma convergência realmente histórica: consciência, urgência, ânimo, a sua maioria política, o fracasso dos três grandes fabricantes de carros norte-americanos e até a possibilidade de encarar de uma vez a mudança climática e o falhado mundo financeiro. Mas quando chegou ao cargo, não teve o valor de fazê-lo. Não venceremos esta batalha a menos que estejamos dispostos a discutir por que Obama considerou que o facto de ter controle sobre bancos e empresas de carros era mais uma carga do que uma oportunidade. Estava prisioneiro do sistema. Não quis mudá-lo.

Spiegel: Os EUA e a China chegaram finalmente a um acordo inicial sobre o clima em 2014.

Klein: Acordo que, é claro, é algo bom. Mas tudo o que pode ser penoso no acordo não entrará em vigor até que Obama conclua o seu mandato. Contudo, o que mudou é que Obama disse: “Os nossos cidadãos estão a manifestar-se, não podemos ignorar isso”. Os movimentos de massas são importantes, têm repercussões. Mas para empurrar os nossos líderes até onde eles têm que chegar, os movimentos têm que tornar-se ainda mais fortes.

Spiegel: Qual deveria ser a sua meta?

Klein: Nos últimos 20 anos, a extrema direita, a absoluta liberdade das empresas petrolíferas e a liberdade do 1% dos super-ricos da sociedade se transformaram em norma política. Temos que deslocar de novo o centro político norte-americano da franja direitista para o seu lugar natural, o verdadeiro centro.

Spiegel: Srª Klein, isso não tem sentido porque é uma ilusão. A senhora está a ir demasiado longe. Se quer eliminar o capitalismo antes de empreender um plano para salvar o clima, saiba que isso não vai acontecer.

Klein: Veja, se o senhor quiser deprimir-se, existem muitas razões para isso. Mas continuará a equivocar-se, porque o facto é que centrar-se em mudanças graduais supostamente atingíveis, como o comércio de emissões e a troca de lâmpadas, fracassou miseravelmente. Em parte, isso deve-se ao facto de que, na maioria dos países, o movimento ambientalista continuou elitista, tecnocrático e supostamente neutral no campo político durante duas décadas e meia. Já vemos hoje quais são os resultados: levaram-nos ao caminho equivocado. As emissões estão a aumentar e aqui está a mudança climática. Em segundo lugar, nos EUA, todas as transformações importantes legal e socialmente nos últimos 150 anos foram resultado de movimentos sociais massivos, conforme se posicionaram a favor das mulheres, contra a escravidão ou em prol dos direitos civis. Precisamos de novo dessa força, e rapidamente, porque a causa das alterações climáticas é o próprio sistema político e económico. A sua perspetiva é demasiado tecnocrática e estreita.

Spiegel: Se a senhora tenta solucionar um problema específico dando a volta a toda a ordem social, não o resolverá. Isso é uma fantasia utópica.

Klein: Se a ordem social for a raiz do problema, não. Visto por outra perspetiva, nadamos literalmente em exemplos de pequenas soluções: há tecnologias verdes, leis locais, tratados bilaterais e impostos sobre o CO2. Por que não temos tudo isso à escala global?

Spiegel: A senhora está a dizer que todos esses pequenos passos – tecnologias verdes e impostos sobre o CO2, além de um comportamento ecológico individual – não têm sentido?

Klein: Não. Todos deveríamos fazer o possível, é claro. Mas não podemos enganar-nos achando que isso é suficiente. O que digo é que esses pequenos passos continuarão a ser demasiado pequenos se não se transformarem num movimento de massas. Precisamos de uma transformação económica e política, que se baseie em comunidades mais fortes, empregos sustentáveis, maior regulação e um distanciamento dessa obsessão pelo crescimento. Estas são as boas notícias. Temos de verdade a oportunidade de resolver muitos problemas de imediato.

Spiegel: Não parece contar com a razão coletiva de políticos e empresários.

Klein: É porque o sistema não pode pensar. O sistema recompensa o lucro a curto prazo, o que quer dizer lucros rápidos. Veja o Michael Bloomberg, por exemplo...

Spiegel: … empresário e ex-presidente da câmara da cidade de Nova York...

Klein: … que entende a gravidade da crise do clima como político. Como empresário, prefere investir num fundo especializado em ativos de petróleo e gás. Se uma pessoa como Bloomberg não pode resistir à tentação, pode-se assumir que, nesse caso, não é tão grande a capacidade de autoconservação do sistema.

Spiegel: Um capítulo especialmente inquietante do seu livro é o de Richard Branson, presidente do grupo Virgin.

Klein: Sim, não esperava.

Spiegel: Branson tratou de apresentar-se como um homem que quer salvar o clima. Tudo começou num encontro com Al Gore.

Klein: E em 2006 comprometeu-se, num ato na Clinton Global Initiative, que investiria 3.000 milhões de dólares em investigação em tecnologias verdes. Naquela época, eu pensava que seria uma quantia realmente fantástica. O que não me ocorreu pensar foi “que sacana cínico você é”.

Spiegel: Mas Branson não estava mais que a simular e só investiu uma parte desse dinheiro.

Klein: Pode ser que tenha sido sincero naquele momento, mas sim, investiu uma parte.

Spiegel: Desde 2006, Branson acrescentou 160 novos aviões às suas inúmeras linhas aéreas e já incrementou as suas emissões em 40%.

Klein: Sim.

Spiegel: O que se pode aprender com essa história?

Klein: Que temos de pôr em causa o simbolismo e os gestos feitos pelas estrelas de Hollywood e pelos super-ricos. Não podemos confundir isso com um plano cientificamente sério para reduzir emissões.

Spiegel: Na América do Norte e na Austrália, gasta-se muito dinheiro a tentar negar as alterações climáticas. Porquê?

Klein: É diferente da Europa. Trata-se de uma indignação semelhante à de quem se opõe ao aborto e ao controle de armas. Não se trata apenas de que estejam a proteger um modo de vida que não querem mudar. É que entenderam que a mudança climática ridiculariza o núcleo do seu sistema de crença contrário ao governo e em prol da liberdade de mercado. De modo que precisam de negá-lo para proteger a sua própria identidade. Por isso, existe essa diferença de intensidade: os liberais querem atuar um pouco na proteção do clima. Mas, ao mesmo tempo, estes liberais têm uma série de questões à parte que figuram de modo mais destacado na sua agenda. Mas temos que entender que quem nega com mais veemência a mudança climática entre os conservadores fará tudo o que estiver ao seu alcance para impedir que se atue.

Spiegel: Com estudos pseudocientíficos e desinformação?

Klein: Com tudo isso, é claro.

Spiegel: Isso explica por que relaciona todas essas questões – questões de meio ambiente, igualdade, saúde pública e trabalho –, que são tão populares entre a esquerda? Por razões puramente estratégicas?

Só há um modo de vencer numa batalha contra um pequeno grupo de pessoas que te enfrentam porque têm muito a perder: é preciso iniciar um movimento massivo que abarque toda aquela gente que tem muito a ganhar

Klein: Essas questões estão relacionadas e, ainda assim, faz-nos falta relacioná-las no debate. Só há um modo de vencer numa batalha contra um pequeno grupo de pessoas que te enfrentam porque têm muito a perder: é preciso iniciar um movimento massivo que abarque toda aquela gente que tem muito a ganhar. A quem nega só se pode derrotar se você se mostrar igualmente apaixonado, mas também quando está em maior número. Porque a verdade é que eles são realmente muito poucos.

Spiegel: Por que a senhora não acredita que a tecnologia verde tenha potencial para nos salvar?

Klein: Produziu-se um progresso tremendo no armazenamento de energias renováveis, por exemplo, e na eficiência solar. Mas e na mudança climática? Eu, em todo caso, não tenho muita fé para dizer: “Como inventaremos alguma coisa num dado momento, deixemos de lado todos os demais esforços”. Isso seria uma insensatez.

Spiegel: Pessoas como Bill Gates veem as coisas de modo diferente.

Klein: E eu acho ingénuo o seu fetichismo tecnológico. Em anos recentes, fomos testemunhas de certos fracassos verdadeiramente ressonantes, nos quais algumas das pessoas mais preparadas meteram os pés pelas mãos em escala grandiosa, seja nos derivados que desencadearam a crise ou na catástrofe petrolífera na costa de Nova Orleães. Na sua grande maioria, as pessoas, nós, destroçamos as coisas e não sabemos como arranjá-las. E, por isso, o que estamos a destruir é o nosso planeta.

Spiegel: Ouvindo-a, poderia-se ter a impressão de que a crise do clima é uma questão de género.

Klein: Por que diz isso?

Spiegel: Bill Gates disse que temos que avançar e idealizar novas invenções para assumir o controle do problema e, em última instância, desta nossa Terra tão complicada. Por outro lado, a senhora disse: parem, não, temos que adaptar-nos a este planeta e tornar-nos mais leves. As empresas petrolíferas norte-americanas são comandadas por homens. E a senhora, uma mulher crítica, é descrita como uma histérica. Não é um absurdo pensar isso?

Klein: Não. A industrialização, no seu conjunto, estava ligada com o poder, a ver se seria o homem ou a natureza que dominaria a Terra. Para alguns homens, é difícil reconhecer que não temos tudo sob controle; que acumulámos todo esse CO2 ao longo dos séculos e que a Terra nos diz hoje: olhe, você não é mais do que um convidado na minha casa.

Spiegel: Convidado da Mãe Terra?

Klein: Isso soa demasiado ridículo. Mas, apesar de tudo, tem razão. A indústria petrolífera é um mundo dominado por homens, algo muito semelhante ao que ocorre na alta finança. É uma coisa de machos. A ideia norte-americana e australiana de “descobrir” um país infinito e do qual se possam extrair inacabáveis recursos contém um relato de dominação, que representa tradicionalmente a natureza como uma mulher frágil e débil. E a ideia de estar em relação de interdependência com o resto do mundo natural é considerada uma debilidade. Por isso, é duplamente difícil aos machos alfa reconhecer que se enganaram.

Spiegel: Há no seu livro uma questão da qual parece querer desviar-se. Embora a senhora fale mal das empresas, nunca disse que os seus leitores, que são clientes dessas empresas, também são culpados. Também não disse qualquer coisa a respeito do preço que cada um dos seus leitores terá de pagar pela proteção do clima.

Klein: Ah, eu acho que a maioria das pessoas ficaria feliz em pagar por isso. Sabem que a proteção do clima exige um comportamento razoável: conduzir menos, voar menos e consumir menos. Ficariam encantados em utilizar energias renováveis se lhes fossem oferecidas.

Spiegel: Mas a ideia não é suficientemente grande, não é?

Klein: (risos) Exato. O movimento verde passou décadas instruindo as pessoas para utilizar o seu lixo como adubo, para reciclar e andar de bicicleta. Mas veja o que aconteceu com o clima durante essas décadas.

Spiegel: O seu estilo de vida é benéfico para o clima?

Klein: Não o suficiente. Ando de bicicleta, utilizo o transporte público, trato de dar palestras por Skype, partilho um carro híbrido e cortei os meus voos a um décimo do que eram antes de começar este projeto. O meu pecado está em tomar táxis e, desde que o livro saiu, em voar muito. Mas também não acredito que apenas as pessoas perfeitamente verdes, que vivem sem emitir CO2 sejam as únicas que devam falar sobre essa questão. Se fosse assim, ninguém poderia dizer uma palavra, em absoluto.

Spiegel: Obrigado por esta entrevista senhora Klein.

Naomi Klein escreveu, entre outros livros, “A doutrina do choque” e “No logo”.

Tradução de Daniella Cambaúva para Carta Maior. Revista para português de Portugal por Carlos Santos para esquerda.net.

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