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Madeira: Maioria absoluta? Não, obrigada

O que está em causa nestas eleições é a vida de todos nós nos próximos quatro anos. Retirar o poder absoluto a um só partido, e fazer com que o mesmo fique verdadeiramente dependente do Parlamento, é um ato de inteligência e uma resposta fundamental.

Passados que são 40 anos sobre a liberdade que conquistámos em Abril do século passado, e depois da Região ter sido sempre governada por maiorias absolutas de um só partido, sai uma sondagem a dizer que, esse mesmo partido, pode reconquistar a maioria absoluta no dia 29 de Março.

Realmente, às vezes acho que as memórias são mesmo muito limitadas, e que o que as pessoas dizem à surdina todos os dias, quando vão de encontro aos partidos da oposição para pedir ajuda, não passa de uma visão utilitarista da política que me preocupa imenso.

Sempre achei que a política só faz sentido se for útil às pessoas e aos seus interesses. Mas também considero que o ponto a que chegou a política nesta Terra, tenha criado mais abertura para que a maioria das pessoas compreendam que, retirar o poder absoluto a um só partido e fazer com que o mesmo fique verdadeiramente dependente do Parlamento, é um ato de inteligência e uma resposta fundamental para que exista uma verdadeira forma de fazer política, com mais democracia e transparência. Colocar a maioria dos ovos no mesmo saco é continuar a dizer que o que está, está bem, e isso não é o que se ouve todos os dias um pouco por todo o lado e em toda a Região.

Para algumas pessoas, basta o senhor que se auto-intitula de renovação ser doutor e ser mais novo, dizer que é diferente do tutor de mais de 3 décadas, e fazer promessas que o outro não fez. Ainda se dá ao luxo de continuar a ter o apoio dos mesmos lóbis, mas na realidade não diz nada de novo em relação à forma como vai resolver os grandes problemas que a Região enfrenta como o desemprego e a emigração, o custo de vida, o aumento de impostos, as insuficiências do sistema regional de saúde, etc….

O que está em causa nestas eleições é a vida de todos nós nos próximos quatro anos. Para que ela mude para melhor, é necessário tirar a maioria absoluta a esses senhores, de forma a que fiquem dependentes do parlamento, obrigando-os a negociar com os/as outros/as deputados/as para governarem de forma diferente. Há realmente deputados/as que podem fazer toda a diferença. Basta os/as eleitores/as quererem que a sua voz seja ouvida, que os seus problemas sejam debatidos, que as suas aspirações sejam tratados com seriedade, sem fantochadas, porque a vida já é demasiado dura e triste para os que sofrem mais com o peso da dupla austeridade que vivemos.

Ainda existem pessoas sérias e honestas que levam a política a sério, como uma missão de serviço público. Ao contrário do que muita gente às vezes afirma, os políticos não são todos iguais e eu prezo muito ter sido companheira de um desses políticos que nunca se vendeu, e que sempre viveu com a humildade Democrática de servir o povo e nunca dele se servir.

É preciso dar atenção aos programas eleitorais e distinguir as propostas e as soluções que são apresentadas. Orgulho-me muito de ser militante de um partido que merece ter uma boa representação parlamentar, porque apresenta compromissos concretos, tem identidade própria e não se esconde por detrás de ninguém, apresentando-se de cabeça erguida e procurando ter o apoio de que necessita para voltar ao parlamento. Mesmo sem ter tido acesso a qualquer “Jackpot” andamos sempre na luta, mostrando que acima de tudo temos ideais e colocamos as pessoas acima dos lucros e dos interesses de grupo.

A renegociação da dívida, a rejeição da austeridade, o combate ao desemprego, a rejeição da privatização dos serviços públicos, o fim dos monopólios dos transportes marítimos, o inverter a degradação dos serviços de saúde, o criar mais investimento na educação, o promover medidas para a igualdade de género, o aprovar um verdadeiro regime de incompatibilidades na política e promover medidas para o bem-estar animal são pontos concretos que serão levados e desdobrados em propostas concretas nos próximos quatro anos. É preciso continuar a acreditar que a política pode voltar a ser dignificada. Basta querermos.

Artigo publicado no jornal “Diário de Notícias da Madeira”.

Sobre o/a autor(a)

Deputada na Assembleia Municipal do Funchal. Antiga dirigente sindical e deputada regional
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