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Os 18 Tiranos da Grécia

Se, na Grécia antiga, a constituição democrática foi abolida e trocada pela Tirania dos Trinta, hoje vemos que o projeto europeu que deveria respeitar os povos e a sua democracia foi substituída por uma tirania dos Dezoito do Eurogrupo, onde manda Schäuble, Merkel e a finança alemã.

Olhando para o que se passa na Grécia e para a chantagem do Eurogrupo recordei-me da sétima carta de Platão e de como é uma boa metáfora para os tempos que vivemos.

Em menos de 5 anos de crise do euro o regime de austeridade tornou a Europa num garrote que destrói as vidas de milhões de pessoas e que, à semelhança do que Platão dizia, faz-nos olhar para o tempo anterior como algo tão precioso como ouro.

Se, na Grécia antiga, a constituição democrática foi abolida e trocada pela Tirania dos Trinta, hoje vemos que o projeto europeu que deveria respeitar os povos e a sua democracia foi substituída por uma tirania dos Dezoito do Eurogrupo, onde manda Schäuble, Merkel e a finança alemã.

Por observar o mau governo do regime, Platão escolheu não se dedicar à política, apesar do seu ímpeto de juventude de querer participar na causa pública. Da mesma forma, milhares de cidadãos e cidadãs que vivem na Europa observam com estupefação a brutalidade radical com que o governo grego foi atacado pelos governos e instituições do espaço europeu. Como temia Habermas no seu Ensaio sobre a Constituição Europeia, o contínuo afastamento da política da vida das pessoas faz com que as pessoas de afastem cada vez mais da política.

Com os direitos e as vidas varridos e com o mal a crescer em todas as direções, é natural que vejamos muita gente a ficar tão atordoada como Platão descrevia ter ficado. Esse atordoamento, esse medo, tem-se notado principalmente na social democracia europeia, curvada ao neoliberalismo. Toda a família do partido socialista europeu, do qual fazem parte Papandreous, António Costa, Schulz ou Dijsselbloem, mantém a austeridade e o Tratado Orçamental como o seu alfa e ómega. E mesmo outros sociais democratas mais à esquerda estão desorientados, não conseguindo mais do que proclamar a necessidade de fazer acordos para a ir para o governo e promover uma austeridade light.

O “estado das suas leis é quase incurável”, dizia Platão, como hoje se poderia dizer com propriedade dos Tratados Europeus, da União Europeia, do Banco Central Europeu e do Euro.

Se hoje há 18 tiranos no Eurogrupo, se hoje a descida a Pireu significa a privatização do porto, se a soberania e a democracia estão em risco em toda a Europa, só há salvação se os povos reclamarem a ideia de Justiça, derrubando a hegemonia de quem insiste em tornar verdade a mentira da austeridade.

Sobre o/a autor(a)

Engenheiro e mestre em políticas públicas. Dirigente do Bloco.
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