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Alemães nunca quiseram pagar reparações de guerra à Grécia

O chanceler Helmut Kohl e o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Hans Dietrich Genscher, fizeram de tudo para que a Grécia e outros países vítimas da barbárie nazi não fossem indemnizados, revela na sua última edição a revista alemã Der Spiegel.
Em setembro de 2012, um grupo de trabalho grego avaliou o montante das compensações em dívida em 162 mil milhões de euros.

O governo alemão entende que o assunto das indemnizações de guerra à Grécia, que o atual executivo presidido por Alexis Tsipras reclama, ficou resolvido em 1990 com o tratado que as potências aliadas assinaram sobre a reunificação da Alemanha.

O argumento foi recentemente repetido pelo ministro da Economia e vice-chanceler Sigmar Gabriel. No entanto, a Grécia não fez parte das negociações, que envolveu as duas alemanhas, a antiga União Soviética, a França, o Reino Unido e os Estados Unidos da América.

Segundo documento analisados pela revista Der Spiegel na sua mais recente edição, o chanceler à época, Helmut Kohl, e o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Hans Dietrich Genscher, fizeram de tudo para que a Grécia e outros países vítimas da barbárie nazi estivessem arredados da mesa das negociações.

A história começa na Conferência de Londres de 1952 quando a Grécia, tal como os países aliados, subscreveram um acordo sobre a dívida da Alemanha. O representante alemão nessa conferência, Hermann Josef Abs, prometeu pagar todas as indemnizações e reparações de guerra quando se chegasse a “um Tratado de Paz ou a um acordo semelhante”.

Essa promessa incluía também, no tocante a Atenas, o pagamento de um empréstimo que o Banco da Grécia foi obrigado a conceder às forças ocupantes alemãs.  Quando se deram as revoluções de 1989 no leste e a consequente queda do muro de Berlim, levantou-se a questão sobre o caminho jurídico a percorrer para a reunificação da Alemanha.

Kohl e Genscher viam com preocupação uma possível Conferência de Paz em que os 53 estados, que tinham combatido contra Alemanha na II Guerra Mundial, começassem a apresentar faturas antigas.

Genscher optou então por acelerar as negociações ("há pressa por que o círculo dos que nos querem falar cresce permanentemente”, disse segundo um documento citado pelo Der Spiegel) e, para sorte da Alemanha, as potências aliadas que ganharam a guerra também quiseram negociações fechadas.

Assim, a fevereiro de 1990, os governos da República Federal da Alemanha, da extinta República Democrática Alemã, da União Soviética, dos Estados Unidos da América, da França e do Reino Unido começaram as negociações no chamado formato 2+4.

O presidente francês, François Mitterand, entendeu que o seu país não estava afetado pela questão das reparações e o presidente dos Estados Unidos, George Bush, mostrou compreensão quando Kohl lhe comunicou que mais de 50 anos após o fim da guerra não se podia voltar a falar de reparações de guerra.

Aos britânicos Kohl advertira que reabrir o assunto era a estratégia perfeita para fortalecer os neonazis na Alemanha. Só os soviéticos mantiveram o tema das reparações.

No entanto, o que os soviéticos pretendiam, antes de mais nada, era um Tratado de Paz porque o governo alemão se tinha comprometido a só num documento dessa natureza renunciar definitivamente aos territórios perdidos a leste na II Guerra Mundial, o que implicava o reconhecimento das fronteiras formadas pelos rios Oder e Neisse.

Um Tratado de Paz, em sentido estrito, teria obrigado os alemães a negociar com a Grécia e com outros países sobre reparações de guerra, por isso, as potências optaram por lhe atribuir um nome diferente, satisfazendo as preocupações territoriais dos soviéticos sem abrir a caixa de pandora das indemnizações.

Dessa forma, chamaram-lhe o Tratado Dois Mais Quatro sobre a Regulamentação Definitiva referente à Alemanha.

Moscovo renunciou às reparações, outros países, entre eles alguns alheios às negociações, como a Finlândia, também o fizeram. O governo grego anunciou que reclamaria reparações mas só o proporia cinco anos depois.

Um documento dos serviços académicos do Bundestag sustenta que Atenas devia ter apresentado um protesto formal em 1990 sobre as reparações de guerra, o que não fez.

Até hoje, nenhum governo grego recorreu ao Tribunal de Haia para aclarar definitivamente o assunto que a Alemanha considera encerrado desde 1990. Um argumento possível do governo de Atenas é que o Tratado 2+4 contém decisões tomadas nas costas de terceiros que são ilegítimas.

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