A Câmara Municipal do Porto tem agendada para esta segunda-feira a condecoração com uma medalha de ouro ao mérito de Sindika Dokolo, genro do presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, marido da sua filha Isabel.
A justificativa apresentada por Rui Moreira para tão importante distinção a alguém que não tem qualquer ligação à cidade é de ir patrocinar a apresentação da exposição “You Love me, You love me not”, assente na sua coleção de arte contemporânea africana, marcada na Galeria Municipal Almeida Garrett, no próximo dia 5 de Março. O documento refere que o colecionador não só irá ceder a sua coleção como suportar “necessidades logísticas e financeiras essenciais” à concretização da exposição.
Rui Moreira diz ainda que “com este gesto de grande generosidade, Sindika Dokolo, permite à cidade do Porto desenvolver um dos projetos mais relevantes no âmbito da arte contemporânea da atualidade, ajudando a estabelecer uma ponte singular entre a cidade e o mundo”.
Nascido em Kinshasa, em 1972, Sindika Dokolo casou com Isabel dos Santos em 2003 e criou, nesse mesmo ano, na capital angolana, Luanda, a Fundação Sindika Dokolo. Com milhares de obras, a fundação tem sido responsável pela participação de Angola em diferentes exposições internacionais, incluindo, em 2007, na Bienal de Veneza.
Estreia política desastrada
Para além de desenvolver a sua coleção de arte, Dokolo assumiu os negócios da sua família, mas a sua estreia num papel político não podia ter corrido pior. Em dezembro de 2013, numa tentativa de acabar com a especulação em torno da ida a Barcelona do Presidente angolano, deixando de comparecer à cerimónia do 38ª aniversário da Independência, Sindika Dokolo resolveu dar uma entrevista explicando que José Eduardo dos Santos não estava doente, como se especulava, mas sim apenas cansado devido à elaboração do... Orçamento de Estado.
Negócios pouco claros
Já nos negócios, o marido de Isabel dos Santos tem tido mais sucesso, mas envolvendo-se por vezes em transações pouco claras. Em fevereiro de 2014, a revista Forbes revelou que Isabel dos Santos, através de Sindika Dokolo, em parceria com o Estado angolano, adquirira a joalharia suíça De Grisogono, uma marca conhecida por ter como clientes grandes estrelas mundiais do cinema e da moda, como Sharon Stone e Heidi Klum, num negócio pouco claro, que permitiria a canalização dos diamantes angolanos para aquela joalharia.
Em novembro de 2013, o jornalista Rafael Marques, em entrevista à Deutsche Welle, explicou que “Este negócio não envolveu um centavo da família presidencial, é em troca de diamantes angolanos”, frisando que “temos aqui um processo em que os diamantes angolanos estão a beneficiar diretamente a família presidencial e não os cofres do Estado”.
E garantiu: “Tenho acesso aos documentos que provam, de facto, mais um ato ilícito por parte do Presidente da República”.
Na mesma entrevista, o jornalista investigativo afirma que “a elite angolana, para saquear o país à vontade, precisa do apoio de Portugal. Mas Portugal tolera isso, porque é a forma que encontrou de ser chamado para participar do saque de Angola. E é o que está errado”, concluiu o jornalista.