Desde pequena que se questiona sobre o destino das palavras quando não se diz o que se sente. Durante muito tempo habituou-se a ignorá-las. Engolia-as sem as mastigar, sem conseguir mesmo, por vezes, entender o que lhe queriam transmitir.
Posso chorar que ninguém nota. Posso rir-me que ninguém ri comigo. Posso gritar que ninguém se incomoda. Há anos que estou aqui na mesma janela, todos os dias, às mesmas horas. Há anos que o mundo corre à minha volta sem conseguir que ele me toque.
Disseste que não aguentavas mais e foste embora. Sei perfeitamente o que te fez partir e confesso que também já estava exausta. Jamais irás aceitar ou mesmo entender a minha maneira de amar. A minha maneira de te amar.
Passava horas com o olhar fixo no relógio que estava ao fundo do corredor. Durante algum tempo acalentou a esperança que voltasse a trabalhar, mas desistiu.
25 de abril de 2014. Cravo ao peito, pressa no andar, mas apenas uma tímida sombra de esperança de que algo poderia mudar, que alguma vez o povo voltaria a unir-se para se reclamar e se conquistar.