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“Na Grécia, há um grande apoio popular ao governo do Syriza”

Esquerda.net entrevistou Fernando Rosas, que visitou recentemente a Grécia e salienta a “popularidade indiscutível” do governo do Syriza, que “resgatou a dignidade” do povo grego. Sublinhando também que “a preocupação central” é “saber se vai ser possível mudar dentro do euro”, Fernando Rosas realça: “vivemos tempos interessantes como diria um historiador como Hobsbawm”.
“O povo grego está ao lado do governo do Syriza na posição de resistência e dignidade que ele tem tido” - Foto de Paulete Matos

Como está o povo grego a viver a vitória do Syriza?

Eu participei na Grécia numa grande manifestação que ocorreu no passado domingo. Tive oportunidade de ter muitos contactos, quer na universidade, quer fora dela, e nas ruas também a falar com as pessoas. O fenómeno da popularidade do governo do Syriza é absolutamente indiscutível. Não só por parte do eleitorado que normalmente apoia o Syriza, mas em muitos setores dos eleitores, até ao centro e à direita, que apreciam e simpatizam com a posição patriótica, a posição firme, que, até agora, o governo do Syriza tem tido ao defender o fim e o termo da política de austeridade para a Grécia e ao fazer face na Europa aos políticos que querem pura e simplesmente fazer ajoelhar o governo grego.

Há indiscutivelmente um fenómeno de grande popularidade, de grande apoio popular ao governo do Syriza e que, no último domingo como eu disse, se manifestou numa enorme mobilização popular, em Atenas e noutras cidades na Grécia, de apoio ao governo do Syriza. Isso é indiscutível.

O fenómeno da popularidade do governo do Syriza é absolutamente indiscutível, até ao centro e à direita

O Syriza resgatou a dignidade da Grécia, a sua dignidade nacional, e o povo grego, neste momento em larga maioria, penso que se reconhece nas posições que o governo do Syriza tem tomado, no sentido de se constituir como alternativa às políticas que até agora têm sido seguidas e que trouxeram a miséria, o desemprego, a destruição da economia na Grécia. E está ao lado do governo grego na posição de resistência e dignidade que ele tem tido.

O que faz o partido Syriza, estando no governo?

Tive possibilidade de reunir com vários dirigentes e militantes do Syriza, muitos dos quais de um momento para o outro, assumiram posições governamentais ou para-governamentais.

O Syriza mobilizou alguns dos seus militantes da universidade, ou mobilizou personalidades que, não sendo do partido, são personalidades independentes de esquerda, cujas competências são indiscutíveis.

Toda a gente está mobilizada para implementar novas políticas nas diversas frentes da transformação económica e social na Grécia.

A preocupação central neste momento é saber se vai ser possível mudar dentro do euro ou se, pelo contrário a Alemanha impõe o seu diktat e fecha a porta a qualquer possibilidade de evolução. Faço notar que na manifestação de domingo circulava amplamente um manifesto que dizia “o dracma é preferível à capitulação”

Apercebi-me que um velho amigo meu, é atualmente o ministro da Educação. Vários outros estão na economia, nas finanças, na segurança social que são os vários campos fundamentais da mudança na Grécia.

A saúde, a segurança social, a educação, as finanças, a economia são os campos mais sensíveis para onde o Syriza tenta mobilizar novas competências, novos quadros, pessoas que venham dar ideias novas para a mudança.

Mas é claro que neste momento o esforço principal concentra-se nesta batalha europeia para saber se há ou não possibilidade de no quadro do euro financiar as novas políticas que o Syriza propõe e que foram anunciadas, as mais urgentes, logo na instalação do governo.

A preocupação central neste momento é saber se vai ser possível mudar dentro do euro ou se, pelo contrário a Alemanha impõe o seu diktat e fecha a porta a qualquer possibilidade de evolução. Faço notar que na manifestação de domingo circulava amplamente um manifesto que dizia “o dracma é preferível à capitulação”.

Achas que o governo está preparado para enfrentar esta situação tão difícil?

Os dirigentes do Syriza estão conscientes das dificuldades, mas encontrei-os otimistas relativamente à possibilidade de se encontrar uma solução com as autoridades europeias. Devo dizer até, ao esquerda.net, que acho que eles estão mais otimistas do que eu

Os contactos que eu tive na Grécia com os dirigentes do Syriza mostram que eles estão conscientes das dificuldades, mas encontrei-os otimistas relativamente à possibilidade de se encontrar uma solução com as autoridades europeias.

Devo dizer até, ao esquerda.net, que acho que eles estão mais otimistas do que eu. Mas eles estão otimistas, entusiasmados com a vitória e acham que há uma dinâmica de negociação, que ainda vai prosseguir, mas que há possibilidade de obter um acordo que preserve o essencial da orientação programática e do compromisso eleitoral do Syriza.

Quero crer que os dirigentes do Syriza e deste governo - que não é só do Syriza, é preciso dizer que o próprio ministro das Finanças não é do Syriza é um independente -. mas encontro-os com a disposição otimista relativamente à possibilidade de encontrar uma plataforma que assegure a viabilidade financeira daquilo que o governo Syriza quer fazer sem uma abdicação do essencial.

Os contactos que eu tive na Grécia com os dirigentes do Syriza mostram que eles estão conscientes das dificuldades, mas encontrei-os otimistas relativamente à possibilidade de se encontrar uma solução com as autoridades europeias.

Acho que vivemos tempos interessantes como diria um historiador como Hobsbawm

Aliás, a abdicação essencial não penso que esteja em causa até porque acho que seria uma grande derrota para o Syriza e acho que essa possibilidade nem sequer é equacionada. Vamos ver como é que isto evolui.

Acho que vivemos tempos interessantes como diria um historiador como Hobsbawm.

Entrevista conduzida por Carlos Santos para esquerda.net

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