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Catarina Martins: Portugal será próxima vítima, se Grécia sair do euro

Porta-voz do Bloco de Esquerda diz em entrevista à agência Reuters que "a partir do momento em que um país é expulso do euro, todos os países estão sob forte pressão da Finança, porque o Banco Central Europeu (BCE) não atua” e que “a especulação sobre as dívidas dos outros países será fortíssima porque se sabe sempre que o euro pode quebrar".
Catarina Martins: "Se sai um país, outros podem sair. A especulação será fortíssima e Portugal é o país que está mais frágil". Foto de Paulete Matos
Catarina Martins: "Se sai um país, outros podem sair. A especulação será fortíssima e Portugal é o país que está mais frágil". Foto de Paulete Matos

A porta-voz da Comissão Política do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, advertiu, em entrevista à agência Reuters, que a dívida de Portugal será o próximo alvo dos especuladores, se os parceiros europeus continuarem a alinhar com a Alemanha na destrutiva austeridade imposta à Grécia e a expulsarem do euro, ditando o colapso da Moeda Única.

A deputada do Bloco de Esquerda, partido que a Reuters apresenta como sendo “irmão” do Syriza, sublinhou que está provado que a austeridade “não serve para equilibrar contas, nem para cumprir compromissos financeiros", pois destrói a economia, provoca recessão e cria desemprego: "a pobreza não paga contas".

A partir do momento em que um país é expulso do euro, quando todos os países estão sob forte pressão da Finança, porque o Banco Central Europeu (BCE) não atua, “a especulação sobre as dívidas dos outros países será fortíssima porque se sabe sempre que o euro pode quebrar".

E enfatiza: "Se sai um país, outros podem sair. A especulação será fortíssima e Portugal é o país que está mais frágil".

Depois da primeira saída, Euro estará condenado

Por outro lado, "a partir do momento em que o primeiro país sair, o euro está condenado. Resta saber se já não está", afirmou.

"Estes tempos são muito perigosos porque a reação dos vários governos europeus, para usar as palavras do ministro alemão Schauble, é muito irresponsável", disse Catarina Martins, criticando outros governos que diziam que compreendiam a situação grega, mas que agora tiram o tapete ao governo grego.

A reação dos vários governos europeus, para usar as palavras do ministro alemão Schauble, é muito irresponsável

Esses governos, alguns deles socialistas, "que agora aparecem alinhados com a Alemanha", dizem que afinal não se podem respeitar escolhas nenhumas porque não há espaço para escolhas democráticas na União Europeia (UE), porque já está tudo decidido à partida.

Para Catarina Martins, há duas certezas: “por um lado, o governo grego está a fazer tudo para, cumprindo os seus compromissos eleitorais, manter-se no euro, ou seja não causar um problema sistémico em toda a zona euro". Mas ninguém sabe muito bem o que acontecerá se um país for empurrado para fora do euro: “O problema não vai ser só desse país, o euro fica logo todo em causa", afirmou Catarina Martins.

PS não é a solução, pelo contrário

Acerca das sondagens colocarem o Partido Socialista à frente nas intenções de voto para as próximas eleições legislativas em setembro de 2015, Catarina Martins afirmou que o PS não é a solução, pelo contrário: "Uma boa parte do problema à esquerda tem sido termos passado tempo demais, todos, muito porque a desarticulação do centro não aconteceu em Portugal como noutros países, a discutir soluções de alternativa, colocando o PS no centro", disse.

"E o PS não fará parte de uma solução alternativa, no contexto europeu que vivemos (...) porque não está disponível para o nível de confronto que hoje está em causa na Europa".

Adiantou que o novo governo "tem de ter o compromisso para uma renegociação da dívida, de preferência a nível europeu, e para a libertação dos país dos compromissos impossíveis que só nos afundam, nomeadamente o Tratado Orçamento – ou seja sobre défice, dívida, cortes nos Orçamentos de Estado.

"O Bloco estará empenhado, com total abertura, para uma solução de compromisso sobre um programa que tenha a reestruturação da dívida como necessidade para o país poder 'respirar', tenha a criação de emprego como prioridade, proteja os serviços públicos e que pare as privatizações", disse.

Acerca das sondagens darem 4% das intenções de voto ao Bloco de Esquerda, contra os 5,4% nas anteriores eleições, Catarina Martins observou que houve uma recuperação recente, vincando: "ninguém gosta de ver sondagens a descer, toda a gente prefere ter sondagens a subir, ninguém é imune a isso, em todo o caso sondagens são só sondagens".

Dívida privada de Portugal é mais alta que a da Grécia

Para a deputada do Bloco, a fragilidade de Portugal decorre de ter um rácio de dívida pública bruta em redor de 130% do PIB, que apesar de inferior aos 180% da dívida grega ainda assim é elevado, recordando que a dívida privada é mais alta do que a da Grécia e, como não alterou a estrutura económica do país apenas consegue aumentar muito as exportações com uma forte subida das importações.

Além disso, a população envelhecida, a natalidade é baixa, os jovens estão a emigrar, o desemprego real é muito alto, os salários baixos e "há uma desigualdade social clara".

"Antes das transferências sociais, metade da população portuguesa está abaixo do limiar de pobreza (...) É um país que precisa muito de um estado social, que responda porque as pessoas não têm mesmo condições (de vida)", afirmou.

Catarina Martins apontou que "é consensual, entre os economistas que não estão a defender o Governo português, que a dívida (portuguesa) não é sustentável porque tem aumentado em valores absolutos e porque o PIB tem diminuído em valores absolutos também".

A dívida pública portuguesa é insustentável. 

"A dívida pública portuguesa é insustentável. Se o estado social está no 'osso', se a população é pobre e depende fortemente do estado social, se a balança comercial é muito débil, se a dívida privada e dívida pública são ambas altas e isso é tudo dependência externa, vamos pagar como?".

Apesar de o PIB ter crescido 0,9% em 2014, após três anos de 'cavada' recessão, Catarina Martins disse que não é suficiente para resolver a equação.

"Era preciso o PIB recuperar imenso, era preciso nós termos saldos primários positivos gigantescos. Mas se vamos cortar ainda mais, o país não aguenta, colapsa".

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