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O Grupo ou o Euro
Na reunião de quarta-feira do eurogrupo, o governo grego confirmou uma proposta de reestruturação da dívida que não envolve nenhum corte nos montantes. Assumiu também o compromisso de cumprir 70% das medidas do memorando da Grécia. Essas medidas incluem, entre outras questões, a corrupção ou a evasão fiscal, com as quais, vá-se lá saber porquê, nem o anterior governo grego, nem a rigorosa Troika estiveram particularmente preocupados. Exclui, naturalmente, as medidas recessivas, que estão em total contradição com o mandato do Governo.
O Eurogrupo, pelo contrário, manteve a posição inicial, que é basicamente, um terceiro programa de ajustamento como condição para financiamento. Fantástico é que a cobertura mediática cá do burgo atribua o impasse de ontem à "recusa" do governo grego em aprovar o comunicado que o eurogrupo levava pronto. Ou seja, os "inflexíveis" são os que já cederam em vários dos pontos de desacordo, levando a sua posição ao limite do que lhes permite o seu mandato. Os "sensatos" são os que querem forçar um terceiro programa de ajustamento, depois dos resultados dos primeiros dois.
A coisa não está com bom aspeto mas, se esta barbaridade for mesmo uma linha vermelha para o Eurogrupo, então o que está a ser feito é apontar à Grécia a porta da rua. Aceitar um novo programa de ajustamento com mais 3 anos de austeridade seria uma loucura e uma traição, e é óbvio que este governo grego não o fará. Restará ao governo grego desobedecer e suspender o serviço da dívida até que seja assinado um acordo que não seja completamente insano, assumindo o risco de o impasse se transformar em ruptura.
Claro que pode dar-se o caso de a eurocracia estar tão habituada a lidar com lacaios sem qualquer espécie de dignidade ou palavra (o que se compreende), que não consiga reconhecer um governo comprometido com os que o elegeram. Mas seria um fabuloso sinal de estupidez e de irresponsabilidade apostar o futuro da zona Euro na presunção de um bluff grego. Em qualquer caso, esta gente a anda a brincar com o fogo.
Comments
"Sem uma restruturação da
"Sem uma restruturação da dívida que imponha perdas substanciais aos credores, incluindo os credores institucionais que detêm, de longe, a maior fatia da dívida grega, qualquer discurso sobre o fim da austeridade é conversa."
Isto escrevia José Gusmão em 26 de Janeiro.
Hoje parece acreditar ser possível um programa que não aceite a austeridade e ao mesmo tempo aceite "uma proposta de reestruturação da dívida que não envolve nenhum corte nos montantes".
Já anteriormente o interpelei sobre esta contradição evidente. Volto a fazê-lo hoje.
Tsipras no discurso de tomada de posse no parlamento grego reafirmou que iria cumprir as suas promessas eleitorais. Apoio incondicionalmente e como eu o povo grego que lhe dá mais de 70% de aprovação segundo os dados publicados.
O Syriza propôs-se a pagar a divida com o crescimento da economia grega.
Está claro que se durante vários anos a Grécia tiver um crescimento robusto de, digamos, 5% ao ano, talvez ao fim de alguns anos pudesse começar a pagar a divida.
Não esqueçamos que tendo tido uma quebra do produto de 25% a Grécia demoraria 6 anos, crescendo 5% ao ano, a retornar ao nível anterior à crise.
O problema é que na actual situação da economia mundial não se percebe de onde viria esse crescimento.
O capital financeiro mundial, europeu, alemão quer que as dividas sejam pagas e para isso têm imposto a austeridade e as reformas estruturais por toda a europa.
O Syriza prometeu uma série de reformas, que apoio, que melhorariam as condições de vida do povo grego, mas, para isso necessita de as financiar e está claro que não conseguirá o apoio dos abutres da Comissão Europeia, BCE e FMI.
O confronto será inevitável se o Syriza pretender cumprir com o seu programa.
Para cumprir o seu programa, tal como prometeu Tsipras e tal como o povo grego exige, terá que romper com as instituições europeias (que representam o capital financeiro), suspender o pagamento da divida e expropriar os bancos e as principais empresas na Grécia, assumindo assim o controlo da economia e obtendo os meios para financiar as suas propostas.
Ficará o Syriza isolado se toma essas medidas?
De maneira nenhuma! Pelo contrário terá ao seu lado milhões de trabalhadores gregos e milhões e milhões de trabalhadores europeus que serão galvanizados por uma politica anticapitalista consequente.
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