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O sindicalista dos patrões, o rei do salário mínimo e Aníbal: quase um presidente

Nos últimos três dias, três declarações dignas de análise séria chegaram aos ecrãs e jornais diários de todos os portugueses.

Felipe VI decidiu descer o valor do seu salário e, a partir de 2015, vai começar a receber apenas uns míseros 234.204 euros por ano. Agora sim, podemos dizer que não há discrepância nenhuma entre os vencimentos dos trabalhadores e da realeza espanhola. Mesmo que o crescente medo da realeza espanhola demonstrado com a subida do Podemos nas sondagens fosse proporcional aos cortes nos seus salários, não chegaria nunca uma maioria absoluta para deixarem de ser valores obscenos.

Porém, é possível deduzir a razão da escolha do rei de Espanha, se um dos seus conselheiros for o secretário-geral da UGT, Carlos Silva - disse que o salário mínimo na Grécia é tão alto que vai levar à falência metade das empresas gregas. Com analistas desta natureza, quem fica sem emprego são os economistas da Standard & Poors.

A semana começava bem, mas Cavaco Silva sentiu de novo aquela vontade estapafúrdia de um Presidente da República tomar posição sobre questões de interesse público, por exemplo: a dívida e o novo governo de esquerda na Grécia. São poucas as vezes que isso acontece, mas quando fala ao país consegue sempre duas coisas: por um lado, nunca deixar de ser o melhor porta-voz do Governo de Passos Coelhos e, por outro lado, espantar até aqueles que ainda dizem que a dívida portuguesa não aumentou.

É nestas alturas que só podemos dar razão a Nuno Crato quando defende a Matemática como um dos pilares fundamentalíssimos para o ensino. Contra factos não há argumentos e Cavaco Silva é a prova viva que há professores de Economia que aprenderam a comprar ações do BPN mas ninguém lhes ensinou o que significa um ciclo recessivo. Alguém que diga, por favor, ao senhor presidente que o problema não reside no empréstimo de Portugal à Grécia, mas sim às medidas de austeridade impostas à economia e ao povo grego que os impossibilitaram não só de pagar as suas dívidas, como ainda as aumentaram.

Apenas por curiosidade, consultei as faturas que tenho para inserir na declaração de IRS e não vi nenhuma relativa a salários de funcionários públicos gregos. Tenho muitas do buraco do BPN, outras tantas relativas ao negócio dos submarinos e a maior delas todas em juros usuários do empréstimo da Troika e do FMI.

Hoje, o desnorte tem uma razão: o medo mudou de lado.

Sobre o/a autor(a)

Museólogo. Investigador no Centro de Estudos Transdisciplinares “Cultura, Espaço e Memória”, Universidade do Porto
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