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Paralíticos Gregos vs Donas de Casa da HSBC

Ouvimos José Rodrigues dos Santos a fazer eco das vozes que apontam como principal problema da crise grega exemplos como o dos falsos paralíticos. O argumento cola bem quando se quer atiçar pobres contra pobres, mas a verdade é que o subsídio atribuído aos falsos paralíticos que enganavam fisco grego não se compara nem de perto nem de longe com o roubo gigantesco das “donas de casa” da HSBC... Publicado por Rui Curado Silva no blogue Aventar

Ouvimos José Rodrigues dos Santos a fazer eco das vozes que apontam como principal problema da crise grega exemplos como o dos falsos paralíticos. O argumento cola bem quando se quer atiçar pobres contra pobres, mas a verdade é que o subsídio atribuído aos falsos paralíticos que enganavam fisco grego não se compara nem de perto nem de longe com o roubo gigantesco das “donas de casa” da HSBC. Dona de casa era uma das profissões virtuais declaradas por clientes do HSBC que na verdade eram industriais, artistas, jornalistas, princesas, traficantes de armas ou de droga. É esta diferença de campeonatos entre os paralíticos e as donas de casa que ajuda a compreender melhor a crise grega. As contas “especiais” (contas artilhadas para fugir ao fisco) do HSBC relacionadas com a Grécia ascendem a mais de 2,3 mil milhões de euros (~2,6 mil milhões de dólares). Por exemplo, um dos apanhados, o grego Lavrentis Lavrentiadis tinha sete contas no HSBC com ligações a outras contas bancárias (paraísos fiscais) onde detinha 4,6 milhões de dólares. O senhor Lavrentiadis não era paralítico, mas em 2012 foi acusado de fraude, lavagem de dinheiro, participação em associação criminosa e de emprestar a si próprio, cerca de 600 milhões de euros, através de um banco do seu próprio grupo. Esteve 18 meses em prisão preventiva e vai ser julgado em março deste ano.

Em Portugal, as denúncias de fraude favoritas dos ultraliberais são os beneficiários do rendimento de inserção, os desempregados e pessoas de baixa. São eles que destroem o estado, são eles que desmotivam a sociedade, não querem trabalhar, fomentam preguiça, etc. Ora, em média o rendimento de inserção é da ordem dos 90€ mensais. Só o montante total das contas especiais da HSBC relacionadas com Portugal ascendem a cerca de 850 milhões de euros, ou seja cerca de três vezes o orçamento de estado para o rendimento de inserção. E convém sublinhar que a fraude das contas especiais do HSBC é apenas uma pequena parte da fraude fiscal relativa a esses anos.

A grande preocupação dos ultraliberais são as migalhas, porque o bolo já é deles.

Publicado por Rui Curado Silva no blogue Aventar

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