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É uma loucura 'privatizar' Marx
A crise económica e financeira global produziu um renovado interesse em Karl Marx. Algumas semanas atrás, o New York Times lançou um debate com renomados economistas sobre o tema “Marx estava certo?”
O recente livro de Thomas Piketty, O capital no século XXI, trava um diálogo implícito com Marx sobre como entender o capitalismo e confrontar as suas contradições. É triste o facto de, neste momento, a editora Lawrence & Wishart estar a forçar o Marxist Internet Archive (Arquivo Marxista na Internet – MIA) a tirar do ar as Obras Completas de Karl Marx e Friedrich Engels que estavam hospedadas nesse repositório com a autorização da editora. É particularmente triste que esta última tenha insistido para que as obras sejam retiradas antes do 1° de maio, quando se celebra no mundo inteiro a solidariedade dos trabalhadores.
O MIA é uma extraordinária fonte para estudiosos e ativistas, que dá acesso livre às obras não apenas de Marx e Engels, mas de muitos outros pensadores socialistas. A Lawrence & Wishart apresenta-se como uma editora que luta pela preservação dos seus direitos autorais (copyright) sobre as Obras Completas para evitar um “suicídio institucional”. Esclareceu que “o trabalho necessário para produzi-las exigiu anos de pesquisa documental, recompilação e organização, a contratação de centenas de tradutores, assim como o trabalho académico sobre as referências e o contexto”.
Isso, com certeza, é verdade. Eu mesma trabalhei na Academia de Ciências e Humanidades Berlim-Brandeburgo, onde está a ser preparada a edição histórico-crítica das Obras Completas de Marx e Engels, a Mega (Marx-Engels Gesamtausgabe).
De modo que aprecio o enorme trabalho que traz consigo um projeto dessa natureza. Mas o objetivo dos protestos contra a decisão da Lawrence & Wishart não é deixar “sem salário os trabalhadores da cultura, como editores, gráficos e escritores”. A petição que contribui para organizar não discute os direitos autorais da Lawrence & Wishart.
A questão é que a maior parte das edições em inglês das Obras Completas foi produzida primeiramente pela editora Progresso de Moscovo, como um projeto estatal da União Soviética, até que esta entrou em colapso no ano de 1991. A Lawrence & Wishart, historicamente associada com o partido comunista britânico, é o legatário desse investimento soviético.
A sua decisão produziu uma onda de protestos, duas petições receberam o apoio de milhões de signatários em todo o mundo, e existem ações levantar esse tema entre os sindicatos britânicos.
Entre os signatários da petição na qual colaborei, existem proeminentes investigadores marxistas que vivem no norte (Jacques Bidet, Alex Callinicos, Bob Jessop, Michael Heinrich, Michael Löwy, David McNally, Helena Sheehan) e no sul (Ricardo Antunes, Abelardo Mariña Flores, Vijay Prashad), colaboradores da Mega (Kevin Anderson, Michael Krätke, Rolf Hecker), intelectuais críticos (Stanley Aronowitz, Timothy Brennan, Rashmi Varma, Hilary Wainwright), economistas heterodoxos (Guglielmo Carchedi, Doug Henwood, Steve Keen, John Weeks), e figuras culturais radicais (Pat Kane e Michael Rosen).
A natureza contraproducente da decisão da Lawrence & Wishart foi evidenciada pelo aparecimento de réplicas do site original do MIA e pelo envio de versões em pdf da totalidade das Obras Completas que estavam online. Os editores dizem agora que foram “surpreendidos pela resposta online” e estão “considerando o que podemos fazer para satisfazer o desejo de um melhor acesso”. Essas notícias são boas, e estimularemos a Lawrence & Wishart e o MIA para que cheguem a um acordo. Mas esse acordo deve incluir a restauração do acesso livre e online às Obras Completas no site do MIA. Não é o momento de privatizar Karl Marx.
Clicando aqui você confere o Arquivo Marxista da internet em português.
Petição: savemarx.net
Artigo publicado no The Guardian, tradução para o espanhol por Politika e para português por Carta Maior
Comments
O século XXI será a nova
O século XXI será a nova idade das trevas, ou da ditadura clara do capital ??
Na idade média, as autoridades da igreja católica envenenavam as páginas dos livros de filósofos gregos, para impedir o acesso a essa informação que era contraditória em relação a certos princípios da Igreja Católica. Houve assim uma atitude clara de censura por parte das autoridades religiosas, onde se tentou monopolizar a informação, com o objectivo de manter o Povo ignorante. Assim, o objectivo de manter o povo ignorante existiu, e existe,e isto porque um povo ignorante é mais fácil de Manipular.
No século XXI, sensivelmente 900 anos depois, uma editora Inglesa , portanto num pais neoliberal, vem agir como um fantoche ao serviço do grande capital com esta acção de retirar o acesso as obras dos Grandes Marx e Engels na Internet. É evidente que aqui o objectivo é o de censurar essas obras impedindo o seu acesso por parte do Povo. Pois é evidente, que existe o medo que o Povo tenha acesso a essa informação, porque as obras de Marx e Engels são claramente contraditórias do nosso caduco sistema capitalista.
É uma vergonha que no século XXI ainda existam mentalidades destas, iguais às da idade Média...E mostra-nos claramente a fase de Retrocesso Evolucional em que vivemos. Portanto de certo modo vivemos uma nova idade das trevas, para assim melhor manipular o Povo. E esta nova idade das trevas é imposta pela ditadura do capital ( grandes lobbys económicos ).
É mais uma prova da ditadura do capital em que vivemos ! É ridículo, quando ao mesmo tempo se fala de "liberdade" de expressão !
As obras de Marx e Engels, deveriam, de ser protegidas como Património da Humanidade !!
E nós temos que votar em partidos que seguem justamente Marx e Engels, em partidos da Esquerda Progressista/Revolucionária !!
Para que a ditadura do capital termine e este género de acções ditatoriais !
Força !
A Luta Continua !
Já que o assunto é esse, o
Já que o assunto é esse, o que falar então das centenas de obras proibidas pelos educadores esquerdistas simplesmente por serem ocidentais, coloniais, americanas? bloqueiam o acesso as obras clássicas, querendo impor ideologia para os outros, querendo minar a cultura e o intelecto, baniram Monteiro Lobato só porque usava a palavra negra ao se referir a tia Anastácia, banir Marx não é diferente disso, embora a obra de Marx não seja tão relevante quanto era antes, obviamente ele é importante e deve ser lido. Mas isso serve para a elite esquerdista sentir na pele o que é impor ideologia goela abaixo dos outros. O que falar das centenas de obras proibidas na URSS, centenas de intelectuais, artistas e escritores mortos em nome das próprias obras de Marx, que isso sirva de lição para aqueles indivíduos que gostam de dominar tudo que veem.
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