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O ministro vermelho e o banqueiro mau

Um governo que cumpre o seu programa eleitoral, um governo que tem o apoio do povo, é algo de inédito na Europa. De tal forma que parece irreal, um conto de crianças. Mas este conto é a nossa vida.

Era uma vez um ministro vermelho que ia visitar a sua avozinha, a Europa. Pelo caminho, encontrou um banqueiro mau, que lhe tentou roubar a lancheira. O ministro recusou e o banqueiro ameaçou que iria destruir toda a economia e toda a gente ficaria na pobreza. O ministro de novo recusou e acelerou o passo em direção à casa da avozinha. Ao chegar a casa, contudo, notou algo de estranho. A avozinha tratava-o mal, falava de forma arrogante e ameaçava-o com castigos diversos caso não desse a lancheira ao pobre banqueiro. O ministro, perspicaz como sempre, percebeu que o banqueiro se tinha disfarçado de avozinha e que a velha Europa estava enclausurada algures.

O fim desta estória ainda está por escrever. Os que defendem o banqueiro mau, como o nosso Primeiro-Ministro, dizem que tudo não passa de um conto de crianças, como se houvesse algo de errado com ser criança, e que é preciso entregar a lancheira ao banqueiro. Os que defendem o ministro vermelho, como o seu assessor, dizem que os contos de crianças acabam sempre com uma mensagem de esperança, pelo que a lancheira será entregue à Europa.

A estória ilustra a escolha com que o povo grego se deparou nas eleições. Escolheu não entregar a sua vida ao grande capital e a sua soberania ao governo alemão. Escolheu mal, dizem os governos neoliberais da Europa. Escolheu bem, dizem os 99% que não são capitalistas nem governantes neoliberais.

Entretanto, a estória já teve um final feliz para muita gente. Para as empregadas de limpeza que foram despedidas do Ministério das Finanças e agora foram recontratadas pelo ministro vermelho, que no mesmo momento despediu os assessores contratados pelos ladrões que governavam a Grécia. Para as famílias que viviam sem eletricidade por serem demasiado pobres para pagar a conta e que agora podem cozinhar e ter luz à noite. Para as crianças de emigrantes, que agora veem a sua nacionalidade grega reconhecida. Para todo o povo grego, que finalmente tem um governo seu, um governo que não se verga perante os governadores coloniais da “troika”.

Um governo que cumpre o seu programa eleitoral, um governo que tem o apoio do povo, é algo de inédito na Europa. De tal forma que parece irreal, um conto de crianças. Mas este conto é a nossa vida. Não será um qualquer príncipe encantado ou uma fada a salvar-nos, somos nós que temos de escrever o final da estória. Pensemos na avozinha, coitada, que merece melhor que isto.

Sobre o/a autor(a)

Ricardo Coelho, economista, especializado em Economia Ecológica
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