You are here

"Senhor ministro, não me deixe morrer também"

PSD propôs expulsar doentes com hepatite C da sala onde o ministro dava explicações aos deputados. Helena Pinto exige que o ministro enfrente as farmacêuticas e explique "de uma ponta a outra" os casos de doentes em espera há um ano pelo medicamento que lhes pode salvar a vida.
Um doente com Hepatite C, que espera há um ano pelo medicamento que lhe pode salvar a vida, interpela o ministro da Saúde no Parlamento. Foto Miguel A. Lopes/Lusa

“A mãe do David morreu, não me deixe morrer também. Não há direito, é preciso acabar com isto”, disse José Carlos Saldanha ao ministro, interrompendo os trabalhos da Comissão parlamentar de Saúde. O filho da mais recente vítima da Hepatite C, que aguardava há um ano o acesso a um medicamento inovador com altas taxas de sucesso, tinha saído da sala pouco antes para prometer uma ação em tribunal contra o Estado.

“Alguém vai ser responsabilizado pela morte da minha mãe”, afirmou David Gomes aos jornalistas, citado pelo Público, por entre críticas aos cortes na Saúde por parte do Governo. Dentro da sala, José Carlos Saldanha, que espera há um ano pelo medicamento, não se conteve e interpelou diretamente o ministro, depois deste ter deixado sem resposta as suas cartas, saindo em seguida da sala enquanto pedia desculpas aos deputados presentes. O incidente levou o deputado do PSD Miguel Santos a apelar à presidente para retirar os doentes com Hepatite C da sala. “São pessoas que cá estão e que querem criar um incidente”, justificou, enquanto outros deputados laranja comentavam que se tratava de "um circo".

Durante a audição ao ministro, dezenas de doentes com Hepatite C à espera de medicamento manifestaram-se em frente ao parlamento. "É uma condenação à morte, morrem por ano entre 900 e 1200 pessoas. Se tivessem acesso ao medicamento, muitas delas estariam aqui connosco", afirmou um dos presentes no protesto.

"Toda a gente percebeu o que se passou ali: um homem doente fez um desabafo. E por sua iniciativa até saiu da sala e antes de sair pediu desculpa a todos os presentes. Querer dizer que isto é um circo deixa-me sem palavras. Só tenho uma palavra, é solidariedade para com estas pessoas que estão a sofrer", declarou a deputada bloquista Helena Pinto, presente na audição ao ministro Paulo Macedo.

Durante a audição ao ministro, dezenas de doentes com Hepatite C à espera de medicamento manifestaram-se em frente ao parlamento. "É uma condenação à morte, morrem por ano entre 900 e 1200 pessoas. Se tivessem acesso ao medicamento, muitas delas estariam aqui connosco", afirmou um dos presentes no protesto.

A Plataforma Hepatite C diz que dos 130 casos urgentes, apenas 60 já começaram o tratamento, enquanto outras 70 ainda esperam pelo medicamento, que poderá não chegar a tempo de salvar as suas vidas.

Helena Pinto: "É preciso bater o pé às farmacêuticas"

Para Helena Pinto, do que se trata é de "doentes que sofrem imenso, que sabem que podem morrer mas ao mesmo tempo sabem que existe um medicamento que os pode salvar. A obrigação do Estado é fazer todos os esforços para salvar essas vidas", defendeu a deputada.

"É preciso bater o pé às farmacêuticas e dizer que o conhecimento científico vale se salvar vidas, não pode ser propriedade das farmacêuticas", insistiu Helena Pinto, para quem "a responsabilidade do Governo é fazer essa negociação mas é também dar resposta. O SNS serve para salvar vidas e é em função disso - e não de números e valores monetários - que deve ser gerido".

"O ministro ainda não respondeu ao principal, que é saber porque é que as autorizações estão a demorar tanto tempo, como no caso desta mulher que teve direito ao medicamento mas ele não chegou a tempo", prosseguiu a deputada antes de exigir ao ministro da Saúde "um esclarecimento cabal, de uma ponta à outra, de forma transparente" desta situação dramática para centenas de pessoas.

Artigos relacionados: 

Termos relacionados Política
(...)