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Massacre de Peshawar é nova etapa na espiral de terror

O ataque talibã a uma escola no Paquistão deixou o país traumatizado. Entre o "fascismo religioso" e o "terrorismo de Estado", a esquerda luta em condições cada vez mais difíceis. Artigo de Pierre Rousset.
Massacre de estudantes em Peshawar traumatizou o Paquistão. Foto AP

A 16 de dezembro, um comando do Movimento dos talibãs do Paquistão (TTP) atacou uma escola pública de Peshawar - no noroeste do Paquistão - destinada a filhos de militares. 146 pessoas foram mortas, entre as quais 136 crianças e adolescentes entre os 10 e os 17 anos. Estas crianças não foram as vítimas "colaterais" de combates, bombardeamentos ou atentados; eram elas mesmas o alvo, alinhadas ao longo de um muro e abatidas depois, uma a uma . Quem tentava fugir era perseguido e apanhado. Sem piedade.

Os talibãs já destruíram centenas de escolas públicas - em especial as destinadas a raparigas (em 2012 o TTP tentou assassinar Malala Yousafzaï porque ela lutava pelo seu direito à educação). Mas desta vez passaram a uma nova etapa dessa espiral de terror. O país ficou traumatizado. As crianças perguntam aos pais, "se a minha escola for atacada, devo ficar na fila ou fugir?" A 17 de dezembro, os transportes foram paralisados por uma greve geral espontânea, e muitos estabelecimentos comerciais encerraram em sinal de luto.

O exército paquistanês está representado nas assembleias de talibãs no Afeganistão. O poder deixou que se desenvolvessem as madrassas, escolas religiosas que servem de viveiros ao fundamentalismo. Os partidos burgueses negoceiam os favores dos talibãs "bons" para garantir a sua base eleitoral.

Todo o establishment foi abalado, uma vez que está envolvido na subida em força do extremismo religioso e se mostrou incapaz de proteger os estudantes. A islamização do país foi iniciada pela ditadura de Zia. O posterior desenvolvimento dos talibãs teve o apoio do poder (e de Washington) em nome do combate contra a URSS. O exército paquistanês está representado nas assembleias de talibãs no Afeganistão. O poder deixou que se desenvolvessem as madrassas, escolas religiosas que servem de viveiros ao fundamentalismo. Os partidos burgueses negoceiam os favores dos talibãs "bons" para garantir a sua base eleitoral.

Os movimentos talibãs estão divididos e a competição entre eles alimenta a espiral da violência. O TTP, fundado em 2007, tem como prioridade o combate contra os militares e o Estado paquistanês, enquanto outros grupos têm como primeiro horizonte o Afeganistão. Os combates acabaram por ganhar magnitude, com importantes ofensivas do exército nalgumas zonas fronteiriças do Noroeste. As crianças de Peshawar pagaram o preço da vingança do TTP.

Nasceu um talibanismo paquistanês, que se estende bem para lá das zonas de população pashtun, na fronteira com o Afeganistão. Nestes tempos de crise social e nacional, de guerras imperialistas, de incúria e violência de Estado, ganhou uma influência importante no seio das classes médias, educadas e nos meios populares. Ele assume a consistência de um novo "fascismo religioso em formação", segundo a fórmula de Farooq Tariq, do Partido Awani dos Trabalhadores (AWP), e tem como contraparte um terrorismo de Estado que faz dos quadros dos movimentos sociais progressistas as suas vítimas.

A crise paquistanesa só se tem agravado, Em resposta, a esquerda militante cerra fileiras. Contra o "fascismo religioso" e o "terrorismo de Estado", uma manifestação juntou este domingo em Lahore o AWP e o CMKP (um partido comunista). É um combate que tem sido travado em condições cada vez mais difíceis e que merece a nossa solidariedade.


Pierre Rousset é fundador e um dos responsáveis pelo portal Europe Solidaire, que publicou este texto. Tradução de Luís Branco para o esquerda.net.

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