Tudo começou com uma petição no site change.org, em dezembro de 2013. A ativista Emily Kenway, de 28 anos, reivindicava a melhoria das condições de trabalho para os funcionários da Amazon no Reino Unido. Os principais motivos: os salários não atingiam a chamada Living Wage, quantia mínima estimada pela fundação de mesmo nome para que alguém possa sobreviver no país e fixada em 9,15 libras [11,5 euros] por hora em Londres e, no restante do país, em 7,85 libras [9,9 euros ]. Mais de 65 mil pessoas aderiram à petição, que levou à criação da Amazon Anonymous (A.A.), um site a partir do qual Kenway começou um boicote a compras na loja durante o Natal.
A campanha está a dar resultado. Ao longo da primeira semana de dezembro, mais de 11 mil pessoas aderiram e, segundo dados do site, as perdas para a empresa de Jeff Bezos poderiam atingir mais de 3,5 milhões de libras [4,4 milhões de euros].
A mobilização para a causa está explicada no site da A.A.: a campanha denuncia que, além de não pagar o salário mínimo no Reino Unido – a empresa paga 7,39 libras [9,3 euros] por hora e pode-se chegar a 8,90 libras [11 euros] após 24 meses de trabalho –, a Amazon submete os seus funcionários a condições precárias de trabalho, já que os armazéns da empresa estão situados em regiões onde não há alternativa para os trabalhadores. Outra crítica é que a multinacional não paga impostos no Reino Unido, apesar de ter obtido mais de sete mil milhões de libras [8,8 mil milhões de euros] em vendas apenas entre 2009 e 2011. E, por último, a campanha sustenta que a Amazon é a principal responsável pelo encerramento de livrarias no país – uma por semana – ao diminuir demasiado os preços dos livros.
Procuramos a empresa, que não se quis manifestar: “Não temos nenhum comentário a fazer sobre este assunto”.
Emily Kenway não é uma desconhecida na imprensa britânica, onde em outras ocasiões foi associada ao movimento Occupy Wall Street. Segundo os seus dados na rede social LinkedIn, ela é graduada em Música pelo Royal College de Londres e em Ciências Sociais pela Universidade de Londres e já participou em campanhas contra as empresas petrolíferas BP e Shell e outras empresas britânicas.
“Quero consciencializar as pessoas sobre como os benefícios que uma empresa consegue não estão nem remotamente relacionados com o que se paga aos trabalhadores nas menores categorias da companhia. Quero tentar mudar a cultura das empresas”, afirmou em declarações ao jornal britânico The Telegraph.
A iniciativa contra a Amazon está a dar frutos porque se aproveitou de um movimento latente. Nos últimos meses, várias ONGs têm chamado a atenção sobre as políticas salariais da empresa em países como o Reino Unido, a França e a Alemanha. Foram publicadas reportagens e lançados livros como “Nos domínios da Amazon”, do jornalista francês Jean-Baptiste Malet, com denúncias de baixos salários e de como a empresa se esquiva de impostos ao ter sua sede em países como Luxemburgo, com condições fiscais favoráveis a grandes empresas.
Tim Hunt, da Ethical Consumer, organização não-governamental que também se juntou à campanha da Amazon Anonymous, disse recentemente ao jornal britânico The Guardian que eles promovem um boicote à empresa há dois anos, uma vez que a “evasão fiscal agressiva da Amazon comete danos incríveis. Nestes tempos de austeridade, é vital que as empresas paguem os seus impostos, algo que infelizmente a Amazon não faz”.
Em Espanha, no entanto, não há uma crítica tão unânime à empresa para além da comunidade de livreiros. Também é certo que, apesar de o comércio online continuar em alta – 29,2% em 2013, mais do que em 2012, segundo informações da Comissão Nacional de Mercados e Concorrência (CNMC) do país – não se depende tanto da Amazon.
No Reino Unido, a fatia da empresa apenas no mercado de livros supera os 60%, enquanto em Espanha não chega a 40%. Segundo fontes da própria Amazon, "este vai ser o melhor Natal para o comércio online da história”. De facto, segundo os dados divulgados ao El Diario, para estas datas já foram contratadas 440 pessoas, e “no dia de mais vendas no ano passado recebemos mais de 130 mil pedidos. Este valor já foi superada neste ano”.
O boicote da Amazon Anonymous, previsto para durar até o dia 25 de dezembro, poderá portanto medir a impopularidade alcançada pela Amazon neste ano de 2014 no Reino Unido.
Artigo publicado em El Diario e traduzido por Revista Samuel.