Mariana Mortágua

Mariana Mortágua

Deputada. Dirigente do Bloco de Esquerda. Economista.

O Portugal do passinho-menor-que-a-perna ficará sempre atrasado, porque as condições de crescimento não passam no garrote da contenção orçamental.

O conceito de “nómada digital” está carregado de simbolismo ideológico e conta com o entusiasmo parolo de quem, ansioso por dar prova de cosmopolitismo, é presa fácil para histórias de unicórnios e carochinhas.

Com o sacrifício dos salários e do investimento estruturante, ressoam no debate orçamental ecos de outros tempos.

Esta é a minha última crónica. Na semana passada, o Jornal de Notícias comunicou-me que deixará de ter titulares de cargos públicos como colunistas regulares. Assim, termina hoje a minha presença nesta página, onde escrevi com dedicação quase todas as semanas ao longo dos últimos sete anos.

A política de António Costa - colocar o peso da inflação sobre os ombros de trabalhadores e pensionistas - pode ser chamada de muitas formas. Só não lhe chamem de esquerda, porque não é.

Em vez de promover a atualização de todos os salários, tanto no público como no privado, e de impedir as grandes empresas de lucrarem com o aumento continuado dos preços, o Governo escolheu combater a inflação com um velho truque de Direita: a deflação através da perda de poder de compra da população.

Em breve estaremos confrontados com a mesma escolha [dos anos 1970]: atualizar salários e pensões enquanto se controla os preços e as margens de lucro de setores estratégicos ou, pelo contrário, esmagar salários e pensões para proteger os lucros.

A indústria portuguesa de armamento abasteceu conflitos como os da Etiópia, Afeganistão, República Centro-Africana, Líbia ou Somália, em alguns casos com a venda de "agentes tóxicos químicos ou biológicos, agentes antimotim, materiais radioativos".

Vejo muita gente indignada com o nível dos impostos sobre a energia (eu incluo-me nessa crítica), mas muitos não se atrevem a falar do aumento dos lucros das companhias energéticas.

Levanta-se na Ucrânia, entre quem resiste à invasão, a exigência do cancelamento da dívida externa do país, em particular a parcela pertencente ao FMI. Esta medida não trará a paz, mas é essencial para oferecer a este povo já tão castigado um horizonte de democracia e direitos sociais.