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O conforto das “meias-tintas”!

Vivendo a Madeira debaixo de um Programa de Ajustamento Financeiro (PAEF) que, por irresponsabilidade do governo regional do PSD Madeira, lançou milhares de madeirenses na miséria e exclusão social, o que faria um governo regional do PS?!

No encerramento do Congresso do PS, António Costa, o novo Secretário-Geral do partido da rosa, de dedo em riste, virou-se para a sua Esquerda e vociferou: “- não esperem que vos ajudemos a continuarem no conforto do protesto!”.

O homem que domesticou alguns sectores à sua Esquerda, (vejam o que aconteceu, por exemplo, com Helena Roseta e o seu movimento de “independentes”, em Lisboa!) e promete domesticar outros que “querem puxar o PS para a esquerda”, tenta, a todo o custo, atingir politicamente aqueles que não consegue “encarneirar”! Para isso, não hesita deixar claro que terá mão dura, se chegar ao governo, contra os que nunca se calaram, nem se calarão!

Poucas horas depois, Catarina Martins, porta-voz nacional bloquista, acrescentou que o Bloco nunca faria como o PS, que se refugia no conforto das “meias-tintas”, para atacar direitos dos trabalhadores e do povo.

A este propósito, é, se calhar, oportuno, refletir sobre o conforto das “meias-tintas” de um PS que, também na Região, tarda em definir-se sobre uma série de coisas. Vivendo a Madeira debaixo de um Programa de Ajustamento Financeiro (PAEF) que, por irresponsabilidade do governo regional do PSD Madeira, lançou milhares de madeirenses na miséria e exclusão social, o que faria um governo regional do PS?! Rasgaria este Programa, como propõe o Bloco de Esquerda, ou limitava-se a, como já afirmaram alguns “socialistas”, promover uma solução de “meias-tintas”, fazendo uma revisão desse Programa, para manter uma austeridade, ainda que mais mais leve e soft?!

O que faria um governo regional do PS, quando confrontado com a obrigatoriedade de começarmos a pagar os 7,5 mil milhões de euros que decorrem do PAEF e de outras “engenharias” deste (des)governo?! Aceitaria de ‘bico fechado’, ou diria à República que só pagamos o que for, efetivamente, da nossa responsabilidade?! O que faria um governo regional do PS sobre o 'Off-Shore'?! Manter-se-ia numa posição de “meias-tintas”, dizendo ser contra os 'Off-Shores' mas que só mexeria no nosso quando não existisse mais nenhum no Mundo?! O que faria um governo regional do PS sobre a necessidade de reduzir a carga fiscal, repor direitos dos trabalhadores, voltar atrás nas privatizações da água, eletricidade e empresas de transportes?! Que faria um governo regional do PS sobre a necessidade de criar um imposto sobre as grandes fortunas regionais, que iria tocar a uns quantos capitalistas seus?! Manter-se-ia num limbo de “meias-tintas”, não querendo impor mais justiça social, onde os mais ricos pagassem a crise, para aliviar a canga aos que têm pago a austeridade que nos impuseram?!

Pois é... O conforto das “meias-tintas” é, de facto, mais fácil! Mas um Programa para a governação da Região – que nada tem a ver com um Programa para a governação de um município ou freguesia! – exige rutura de políticas, radicalidade contra a injustiça, clareza sobre a recusa da alternância sem alternativa e rejeita as malfadadas “meias-tintas”! Porque o (des)conforto do protesto, ao qual não viramos a cara, está já aí, ao virar da esquina!

Artigo publicado no jornal “Diário de Notícias da Madeira” de 9 de dezembro de 2014

Sobre o/a autor(a)

Técnico Superior de Educação Social. Ativista do Bloco de Esquerda.
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