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Assim se trata da nossa saúde

Temos um dos sistemas de saúde mais privados da UE e, apesar de sermos um dos países em que a despesa total mais diminuiu, somos aquele em que os pagamentos das famílias mais aumentaram.

O Negócios teve a 3 de dezembro uma notícia interessante sobre as tendências mais importantes ao nível dos sistemas de saúde na UE, descritas num relatório da OCDE. O centro da notícia é que Portugal foi um dos países em que a despesa de saúde total (pública e privada) em % do PIB mais caiu. A notícia salvaguarda, no entanto, que a despesa total com Saúde mantém-se acima da média da UE. Em percentagem do PIB, bem entendido. O relatório não faz todos os desdobramentos que seriam úteis para uma análise da evolução, mas há alguns aspetos que merecem ser realçados:

1. A despesa em % do PIB desce muito mais do que a média da UE em anos em que o PIB português também caiu mais do que a média da UE, ou seja, a queda em valores absolutos é ainda mais acentuada.

2. Somos, a seguir à Grécia, o país com maior percentagem de maiores de 65 no total da população. Isto em 2012, antes do grande surto de emigração que este Governo provocou.

3. Por outro lado, em termos absolutos per capita, a despesa de saúde em Portugal está bem abaixo da média, apenas à frente dos países de Leste e Grécia.

4. Se considerarmos apenas a componente pública da despesa, passamos para trás da Grécia, ou seja, somos o país que menos gasta da Europa Ocidental.

5. Em termos de proporção dos gastos públicos nos gastos totais, temos uma das percentagens mais baixas (62%) de toda a UE, apenas acima da Bulgária, Hungria e Chipre, ou seja, temos um dos sistemas menos públicos.

6. Finalmente, o dado que mais salta à vista é o de que somos, de longe, o país em que a contribuição dos utentes mais aumentou nos últimos anos, (já representa 32% da despesa total) ao mesmo tempo que a tendência da média Europeia é de estabilização.

Em resumo, temos um dos sistemas de saúde mais privados da UE e, apesar de sermos um dos países em que a despesa total mais diminuiu, somos aquele em que os pagamentos das famílias mais aumentaram. Não é preciso ser um génio para fazer as contas. Aquilo a que temos assistido é a uma transferência dos custos da saúde para as famílias. As que podem, bem entendido. O relatório da OCDE não apresenta a evolução dos valores absolutos da despesa pública em cada país. Mas, se a nossa despesa total é das que mais desce, num contexto do maior aumento da despesa direta das famílias (que representa um terço do total), como dizia o outro, é fazer as contas.

Artigo publicado em Ladrões de Bicicletas a 3 de dezembro de 2014

Sobre o/a autor(a)

Eurodeputado e economista.
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