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Ex-ministro diz que as empresas de eletricidade até fazem leis

Álvaro Santos Pereira acaba de publicar um livro sobre a sua passagem pelo Governo. E diz que há responsáveis políticos que já aceitaram leis para o setor energético escritas pelas próprias empresas produtoras de eletricidade.
Álvaro Santos Pereira deixou escrita a sua versão dos anos que passou no governo de Passos Coelho e Paulo Portas. Foto Foreign and Commonwealth Office/Flickr

O jornal Público compilou uma série de citações do livro lançado na semana passada pelo ex-ministro da Economia Álvaro Santos Pereira. "Reformar sem medo, um independente no Governo de Portugal" é o título do livro que faz o balanço da sua passagem pelo governo de Passos Coelho. Numa das frases do livro, a propósito dos lóbis e da sua proximidade com o poder político o ex-ministro conta o seguinte episódio:

“Um dos membros da minha equipa foi abordado por um representante dos produtores da energia que lhe disse que, como sabia que estávamos muito ocupados e não tínhamos recursos, eles próprios poderiam fazer as transposições de directivas e que depois nos entregariam as leis para fazermos o que entendêssemos”, relata Álvaro Santos Pereira.

Outra das revelações do livro de Álvaro Santos Pereira é que o ministro responsável pela pasta do Emprego sabia que as estatísticas oficiais não correspondiam à situação real do país.

“Pelo que parece isso já tinha acontecido no passado. Como é óbvio, nós agradecemos, mas declinámos a 'gentileza’”, diz o ministro no seu livro, sem especificar a que passado se estava a referir.  O autor apresenta-se como uma voz quase isolada no Governo na luta contra os lóbis e considera “fundamental que uma estratégia anticorrupção seja proposta e consensualizada entre os principais partidos portugueses, de forma a acabar com os com­portamentos menos transparentes, por vezes altamente lesivos do interesse público.”

Outra das revelações do livro de Álvaro Santos Pereira é que o ministro responsável pela pasta do Emprego sabia que as estatísticas oficiais não correspondiam à situação real do país. E por isso, ao mesmo tempo que comentava os números oficiais, o gabinete do ministro preparava as suas próprias previsões da subida do desemprego “tendo em linha de conta a contração do crédito (que, recordo, alguns negavam estar a acontecer) e o quase colapso do sector da construção.”

“Quando chegaram os resultados, foi imediatamente evidente que as nossas previsões eram bastante mais pessimistas do que as es­tatísticas oficiais”, recorda o ministro.

Acusado de ter falta de peso político ao lado de Vítor Gaspar, do CDS e da troika, Álvaro Santos Pereira guarda as piores recordações de Paulo Portas após a ‘demissão irrevogável’ que abriu a crise política de 2013: “Senti que a Pátria tinha sido traída e que o país tinha sido atirado à lama. E pensei que tínhamos acabado de deitar o trabalho dos últimos dois anos para o lixo”, diz o ex-ministro, acrescentando que nem foi à tomada de posse dos novos ministros “pois recusei-me a apertar a mão a alguém que tinha feito algo tão prejudicial para o país.”

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