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Sou português, admito!

Sou português sem nada a perder. Sou português com tudo para ganhar e não quero partir por obrigação porque não tenho como ficar. Por Guilherme Costa
Dizer-se português é admitir-se o passivismo que assustadoramente nos deixa os bolsos cada vez mais vazios.

Admitir que se é português não é fácil. Não digo que se deva sentir vergonha por se ter nascido neste país retangular de mentes quadradas, mas sim porque a responsabilidade de se assumir como português é muito pesada.

Não que dê trabalho, porque não dá, e esse é um dos problemas, mas porque ao se admitir fazer parte de um povo admite-se a tudo o que isso implica.

Quando era pequeno o meu pai ensinou-me que grupo mais pequeno que a humanidade é um grupo sem interesse. Ele é um homem do mundo, nascido num país, crescido noutro e instruído noutro. Mas é português. É português porque escolheu ser português. Eu não tive escolha. Nasci em Lisboa, fui criado em Bragança e atualmente tenho como casa a cidade de Faro. Posso afirmar que conheço Portugal de lés-a-lés pelas inúmeras viagens que fiz com mochila às costas. Isto para confirmar o meu bilhete de identidade nacional.

A responsabilidade de ser português é grande porque o nosso pequeno e maravilhoso país está doente, com uma infeção que corrói até ao osso e até não restar nada. E a culpa é nossa. Os revoltados, e aqui a revolta não é uma coisa má por si, ficaram chocados com esta afirmação.

“A culpa não é nossa, é deles”, a culpa é nossa sim porque “eles” têm nomes, e foram votados. “Mas são todos iguais” porque nós deixamos que sejam. Dizer-se português é admitir-se o passivismo que assustadoramente nos deixa os bolsos cada vez mais vazios; é admitir políticas destruidoras de uma nação; é admitir que nada ou pouco se faz.

Ser português é admitir que se nasceu num país lindo, com praias e montanhas de igual beleza, com o melhor vinho do mundo, com o melhor tempo do mundo, com quatro estações que se passam com prazer e sem dificuldades; é admitir que temos tudo e não aproveitamos nada. Sou português e entendo o Fado. Entendo a tristeza melancólica que se arrasta pelo dia-a-dia, que me diz que nada que eu faça irá fazer diferença; que quem me dá de comer é quem decide que migalhas restarão para eu raspar, de um prato cheio de fruta que fui eu a colher. “Não é justo, mas que se há-de fazer”. Ser português é admitir que a culpa é nossa, é admitir que, como dizia Miguel Torga, nos falta o “romantismo cívico da agressão” por sermos “uma coletividade pacífica de revoltados”. Sou português, admito! Mas sou português sem nada a perder. Sou português com tudo para ganhar e não quero partir por obrigação porque não tenho como ficar.

Artigo de Guilherme Costa, licenciado em Línguas e Relações Internacionais e finalista de Ciências da Comunicação.

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