O Partido Socialista vive, atualmente, um estado de euforia, em particular, o PS/Açores que, de uma forma esmagadora, apoia a candidatura de António Costa a Secretário- Geral do Partido.
Este estado de alma coletivo deve-se à convicção de que o Partido Socialista vai ganhar as próximas eleições legislativas e, assim, o PS volta ao poder e abrem-se mais amplas perspetivas de carreira para muitos socialistas. Ou, se calhar, à convicção de que, com Costa no poder, as políticas contra o país - e, particularmente, contra os/as trabalhadores/as e pensionistas - vão acabar.
Confesso que, depois da apresentação da Moção de Estratégia do futuro Secretário-Geral, inclino-me bastante mais para a primeira hipótese… infelizmente!
A dita Moção de Estratégia, para além de um inegável recorte literário, é um contínuo eufemismo, sobre aquilo que, de facto, interessa aos/às portugueses/as.
Sobre questões centrais como a ‘dívida’, o essencial da ideia apresentada por António Costa é idêntico à de Passos Coelho e, bem entendido, ‘quando’ e ‘se’ a Senhora Merkel deixar.
Uma dívida que não pára de aumentar, que consome ao país mais de 8 mil milhões de euros por ano (só de juros!) e que, por esta via, impede o investimento no crescimento económico e no emprego, impondo, ainda, a redução das funções sociais do Estado.
Sobre o Tratado Orçamental (assinado pelo PSD, PS e CDS) que obriga, não só o assumir da totalidade da dívida, como a uma política de austeridade permanente - através da redução do défice orçamental, independentemente da situação económica e social do país -, António Costa assume a hermética frase de que “é preciso ter uma leitura inteligente do Tratado orçamental”…
Não esqueçamos que esta política é responsável por, em três anos, mais de um terço dos portugueses auferirem um ordenado mensal de 600 euros ou ainda menos.
Afinal, será esta leitura assim tão ‘inteligente’ que, nem o comum dos mortais, nem mesmo a maior parte dos socialistas consegue descodificar?
Sobre a contratação coletiva, Costa diz que é para negociar com os parceiros sociais. Certo. Mas qual é a posição de partida do PS?!
Sobre a lei dos despedimentos, o banco de horas, os impostos sobre o trabalho, a diminuição do IVA na restauração, a pergunta é: - mudam ou fica tudo na mesma?
E não coloco mais questões para não empalidecer a euforia socialista. Lendo bem as coisas, o tão desejado Costa a nada responde.
E fico ainda mais perplexa pela euforia nas hostes socialistas açorianas, ao verificar que, sobre questões vitais para a Região, o tão festejado documento diz coisa nenhuma!
Por exemplo, vai ser reposta a Lei de Finanças Regionais de 2010 ou não? A criminosa lei sobre os recursos marinhos (tão lesiva para os Açores) vai ser alterada ou não? A política de asfixiamento das universidades e da investigação científica (que tanto lesa a Região) vai ser alterada ou não?
Pois é, sobre tudo isto Costa diz nada sobre nada. E sobre políticas diferentes que tirem, de forma corajosa, o país deste atoleiro e os/as portugueses/as do empobrecimento forçado (enquanto proliferam novos milionários!) nada diz!
Sinceramente, não vejo razão para tanta euforia, no que diz respeito ao país e à região. Já quanto aos novos lugares que se abrem aos socialistas e amigos, a conversa é outra…
