Passos Coelho não é nada. Podia ser. Podia ser um tipo de direita de quem a gente não gosta, mas é obrigado a ouvir para pelo menos poder rebater. Podia ser mais um desses pensadores neoliberais que têm conhecimento das bases mínimas da coisa e percebem os lances, ponderam as jogadas e, embora enlouquecidos pela ganância, estruturam programas e pensamentos. Em Passos Coelho não há nada, nem coisa nenhuma. Só ignorância espessa e arrogante, como aliás são todas as ignorâncias, umas mais balofas que outras.
Que há ali um programa, lá isso há. Mas não foi Passos a traçá-lo. Vem de compêndios geométricos de interesses confessados, de gente sem rosto e fala ventríloqua, agitando Gaspares e outros pares, brandindo bandeirolas, insensível aos gritos de alarme que a acústica possível dos media vai permitindo.
No meio disto tudo, no Portugal de 2014 há vários idiotas de serviço.
O ministro da Economia, seja lá isso o que for, faz parte da colecção. Já tínhamos conhecido a loucura informática da justiceira; a anedota de um Crato feito timoneiro; a boca rota dos negócios estrangeiros de espinha flácida e apetências delatórias. Agora foi isto.
Puro espetáculo de desbragamento, o ministro sozinho fez mais por António Costa que o PS todinho ao vivo e a cores.
O ministro das cervejolas. Ia acabar com o IVA na restauração. Pois ia.
Ia criar emprego, pois ia. Setecentos trabalhadores da UNICER despedidos na sua administração, foi o emprego que o bicho criou.
Disse que o CDS tinha de ser um partido sexy. Como é um homem acelerado, de sexy passou a obsceno.
Aquela intervenção é, de facto, uma obscenidade. Não é o conteúdo, é a forma. É como se o ministro tivesse ido ao Parlamento de cuecas, não porque tivesse enlouquecido, mas por considerar que os que lá estavam representados não mereciam mais que isso.
Luís XVI recebia o terceiro estado na cama. Deitadinho, refastelado, falava com quem se preparava para lhe cortar a cabeça. Este ministro vai ao parlamento ou de cueca ou de bjeca no bucho.
Esta gente anda a precisar de um susto.