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PT fez aplicações na Rioforte quando a empresa já estava falida

A PricewaterhouseCoopers (PwC) alertou em março que a holding do Grupo Espírito Santo apresentava um valor patrimonial negativo de 945 milhões de euros. Um mês depois, a PT aplicava perto de 900 milhões de euros na empresa. Grandes bancos nacionais lucraram com fuga de depósitos do BES, mas não concederam mais crédito à economia.
Foto de André Kosters, Lusa.

Num relatório encomendado pelo Banco de Portugal (BdP) à PricewaterhouseCoopers (PwC) sobre o Grupo Espírito Santo, é feita referência ao facto de a Rioforte apresentar um valor patrimonial negativo de 945 milhões de euros.

No documento, datado de 14 de março de 2014, é ainda assinalado que a possibilidade de o grupo concretizar uma OPA/OPT de títulos, tal como previsto no plano de negócios do grupo, apresentava um “risco elevado”.

O trabalho de campo relativo ao GES “iniciou-se no dia 14 de outubro de 2014 de 2013 e conclui-se no dia 10 de fevereiro de 2014, pelo que não incorpora quaisquer factos ocorridos após essa data”, segundo esclarece a PwC no seu parecer, citado pelo jornal de Negócios.

Em abril de 2014, a PT aplicou, entretanto, cerca de 900 milhões de euros em papel comercial da empresa do Grupo Espírito Santo.

O negócio da Rioforte veio enfraquecer a posição de PT na fusão com a Oi. As duas empresas renegociaram os termos do acordo a que já tinham chegado. A PT passou a ficar com 25,6% da nova empresa, contra os 38% negociados anteriormente. Por outro lado, Oi comprometeu-se a pagar a dívida da Rioforte “em contrapartida de 474.348.720n ações ordinárias e 948.697.440 ações preferenciais da Oi".

A PT, outrora considerada como uma referência a nível nacional e internacional, está hoje totalmente afundada em dívidas e sem qualquer capacidade de investimento.

A venda iminente da empresa ao grupo francês Altice, do bilionário Patrick Drahi, que assim que adquiriu a Cabovisão impôs o despedimento de 100 funcionários, é apenas mais um capítulo na história da destruição da PT, à qual Zeinal Bava, que saiu da Oi com um pacote de benefícios que lhe garantem €150 mil euros por mês, e Henrique Granadeiro deram um importante contributo.

Em outubro, a PT SGPS foi a empresa que registou uma maior desvalorização no PSI-20, com perda de 22%. Os fundos de ações nacionais, que reforçaram a sua exposição à PT um mês antes, acabaram por ver anulados os ganhos acumulados durante o ano.

PwC alertava para os riscos potenciais em que se encontrava o GES

“Os planos de negócios disponibilizados não refletem o serviço da dívida contratualizada, assumindo o pressuposto de que a dívida será refinanciada e os bancos, bem como outros detentores da dívida, continuarão a apoiar o grupo económico”, alertava a PwC, referindo-se aos riscos potenciais em que se encontrava o GES, cuja dívida ascendia, em 2013, a 5.712 milhões de euros.

No que respeita à OPA/PT anunciada pelo GES, a PwC sublinhava que “o risco de o grupo não conseguir concretizar esta operação é elevado na medida em que os ativos do grupo no momento desta operação são a Rioforte (com um ‘equityvalue’ – valor patrimonial sem análises de sensibilidade, negativo em 945 milhões de euros, e o ESFG (cujas ações serão trocadas por parte de potenciais interessados na OPT)”.

Segundo escreve o Negócios, o auditor alertava ainda para o risco da operação de financiamento do Espírito Santo Finantial Group (ESFG), que previa a realização de uma OPA a seis euros por ação e posteriormente uma emissão.

“Caso a emissão das VMOC[i] não se concretize, o grupo aumenta o risco de refinanciamento em 2014 e, consequentemente, o nível de alavancagem, ficando com uma maior dependência da boa execução do plano de negócios do BES”, destacava a PwC.

Grandes bancos lucraram com fuga de depósitos do BES

Os portugueses retiraram cerca de 10 milhões de euros do novo banco, dos quais perto de cinco milhões de euros foram canalizados para aplicações sem risco. CGD, Totta, BPI e BCP foram os que mais lucraram com a fuga de depósitos do BES, contudo não concederam mais crédito à economia. Na realidade, ainda que os recursos dos bancos tenham aumentado, o crédito encolheu.

O crédito caiu 1.466 milhões de euros, sendo a queda mais expressiva no caso das empresas, com uma diminuição de 1200 milhões de euros em três meses. No acumulado dos nove meses, o valor encolheu 6,3%, face ao período homólogo.

 

 

 

 


[i] VMOC são aqueles que atribuem ao investidor um direito de crédito, obrigando-se a empresa emitente a entregar ações ou obrigações, na data de vencimento, nos termos fixados na deliberação de emissão. O investidor pode vir a receber menos do que o valor inicialmente investido se o preço das ações ou das obrigações que lhe são entregues for, na data fixada, inferior a esse montante.

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