O presidente de Burkina Fasso, Blaise Compaoré, anunciou nesta sexta-feira (31/10) a sua renúncia ao cargo, encerrando 27 anos de poder à frente do país africano. Em comunicado, Compaoré confirmou que a presidência está vaga e pediu a convocação de eleições "livres e transparentes" em 90 dias. O chefe das Forças Armadas, general Honoré Traoré, já afirmou que é o novo presidente interino do país.
Antes da confirmação de Compaoré, um alto oficial do Exército de Burkina Fasso adiantara que o presidente havia sido de facto deposto e já não estava no poder.
Mais cedo, o político dissera, em resposta aos protestos da população, que permaneceria no cargo em 2015 durante "período de transição", cedendo o comando do país após eleições democráticas que deveriam ser convocadas no prazo de 12 meses.
"A partir de hoje, Compaoré já não está no poder", disse o coronel Boureima Farta a dezenas de milhares de pessoas, que se aglomeraram em frente ao quartel-general do Exército para pedir a deposição do político, que procurava obter o quinto mandato presidencial.
Reivindicação dos manifestantes
A renúncia do presidente acontece um dia depois dos protestos que mobilizaram uma multidão na capital do país, Ougadougou. Por conta disso, o presidente declarara estado de sítio no país — já revogado — para conter as fortes manifestações iniciadas para rejeitar o desejo de Compaoré de prolongar mais uma vez o seu mandato. O levante popular foi uma resposta a uma manobra legislativa, na qual os parlamentares pretendiam votar uma emenda constitucional que concederia o quinto mandato a Compaoré.
No conflito, pelo menos três manifestantes foram mortos a tiros pela polícia, sendo que inúmeros foram feridos.
Nas ruas, a população que pôs fogo à sede do Parlamento gritava "27 anos é suficiente", em alusão ao tempo em que Compaoré está no poder. O atual presidente assumiu o cargo em 1987, à frente de um golpe de Estado que destituiu o seu antecessor, Thomas Sankara.
Oposição
O chefe das Forças Armadas, general Honore Traore, anunciara ontem que o governo e o parlamento tinham sido destituídos, além de ter imposto um toque de recolher em todo o território nacional. No lugar, seria nomeado um novo "governo de inclusão", cujo comando "de transição" incluirá representantes de todos os lados da cena política e trabalharia para convocar eleições no período de 12 meses. Agora, com a renúncia do presidente o voto está previsto para 90 dias, mas não se sabe quem ficará no comando durante o período.
Após a declaração do presidente dizendo que permanece no comando em 2015, líderes da oposição vieram a público para renovar os pedidos de renúncia. Uma declaração do opositor Zephirin Diabre também convoca a população a continuar nas ruas e ocupar prédios públicos. Outro expoente da oposição, Emile Pargui Pare, do Movimento das Pessoas para o Progresso, afirmou que os protestos de ontem eram a "Primavera negra de Burkina Fasso", fazendo referência ao processo que ficou conhecido como Primavera Árabe.