O ex-primeiro-ministro que popularizou a expressão “o país está de tanga”, em referência à difícil conjuntura económica que o país já vivia à época, abandona a presidência da Comissão Europeia no próximo dia 1 de novembro.
O futuro político de Durão Barroso “a Deus pertence”, afirma o próprio. Se as saudades da cadeira de Bruxelas ou o sonho de uma candidatura à presidência da República vão marcar os próximos tempos do também ex-líder do PSD é, por enquanto, uma incógnita, apesar de já ter deixado escapar que “não está mal de convites” e de prometer que não pensa num “regresso à vida política ativa”.
Agora, o que todos os europeus ficaram a saber este fim-de-semana é que o momentâneo desemprego de Barroso será consolado com um extraordinário rendimento, contrastante com as políticas de austeridade e cortes salariais que defendeu nos países mais afetados pela crise, Portugal incluído.
Segundo a edição do jornal inglês Daily Mail deste domingo, o ainda líder da Comissão Europeia vai receber 11 mil euros mensais de reforma europeia, 132 mil euros anuais, um subsídio de “transição”, durante três anos, que irá variar entre 122 mil euros e 200 mil euros anuais e um salário extra de 25 mil euros, ao que acrescem despesas de deslocação.
As regras comunitárias definem que as compensações dos presidentes da Comissão Europeia variem entre 40 a 65 por cento do salário anual, que no caso de Durão são cerca de 306 mil euros.
Do MRPP à Comissão Europeia: uma ascensão meteórica
Após ter abandonado o MRPP e ter deixado para trás Mao Tse Tung e Estaline como referências ideológicas, Durão viveu uma ascensão meteórica entre os corredores do poder laranja.
Nos governos de Cavaco Silva foi secretário de Estado e ministro dos Negócios Estrangeiros. Em 1999 torna-se líder do PSD e, em abril de 2002, após a demissão de António Guterres, primeiro-ministro. Dois anos mais tarde, em 2004, com a economia portuguesa em recessão, 400 mil pessoas no desemprego e com um défice próximo de 7 por cento (o programado eram 2,8 por cento) decide abandonar o executivo para se candidatar à presidência da Comissão Europeia, deixando o país entregue a Santana Lopes, que escolhera como seu sucessor na chefia do Governo de coligação com Paulo Portas.
Pelo meio do seu curto mandato como líder do Governo português foi anfitrião da “Cimeira das Lajes”.
No meio do Atlântico, George W. Bush (EUA), Tony Blair (Reino Unido) e José Maria Aznar (Espanha), foram recebidos pelo governante português, na tarde de 16 de Março de 2003, para uma encontro que culminou, quatro dias depois, na madrugada de 20 do mesmo mês, com o início da intervenção militar no Iraque.
Da reunião na ilha Terceira, nos Açores, havia saído um aparente derradeiro ultimato à ONU e a Saddam Hussein no sentido de se evitar uma intervenção militar no Iraque, alegadamente por via de uma solução diplomática para uma crise em que já então parecia inevitável o recurso à força das armas.
"Ou o Iraque se desarma ou é desarmado pela força", afirmou George W. Bush, na conferência de imprensa final da Cimeira das Lajes, que decorreu na base militar portuguesa, que acolhe um destacamento militar norte-americano, ao abrigo do Acordo de Cooperação e Defesa assinado entre os dois países.
Bush referia-se à então tida como hipótese credível de o Iraque dispor de armas de destruição maciça, nomeadamente químicas, uma suspeita que, embora tivesse sido a principal justificação oficial para a intervenção militar externa no país, viria a revelar-se infundada e nunca suficientemente sustentada, como reconheceram anos depois, um a um, todos os protagonistas da Cimeira das Lajes.
Em novembro de 2004 torna-se Presidente da Comissão Europeia, sendo reeleito em 2009. Exatos 10 anos depois irá abandonar o cargo.