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O inaceitável silêncio
Em Hong Kong resiste-se pela democracia contra a tirania de um partido que decide quem é a elite que pode ter o privilégio de votar e que impõe a todos os demais que se calem e aceitem. Para Pequim, eleições é coisa que deve ficar reservada a 7% da população ou em que os cidadãos se devem limitar a ratificar dois ou três (literalmente) candidatos escolhidos pelo governo. A resposta dos cidadãos está há semanas na rua para se fazer ouvir em Hong Kong, em Pequim e no mundo inteiro: só a escolha do povo inteiro é soberana e esse direito define uma fronteira entre a democracia e a tirania.
Ao Occupy Central, que enfrenta as maiores provocações e as mais insuportáveis pressões, o mundo escasseia em prestar solidariedade concreta. Como se lutar pela democracia em Hong Kong fosse um devaneio e lutar por ela em Bagdade ou em Tripoli fosse um imperativo da decência humana.
Em Kobani resiste-se pela liberdade contra o amesquinhamento do pensamento próprio e da dignidade. No Curdistão sírio, a cidade espera o esgotar das forças de quem a defende com armas ligeiras para ser o cemitério de milhares de curdos. E, também ali, o silêncio das mortes é acompanhado pelo silêncio das conveniências. Aos curdos nunca ninguém quis valer. A Turquia fecha-lhes a entrada, a Arábia Saudita financia os seus algozes, os Estados Unidos armaram os seus torcionários quando lhes chamava combatentes da liberdade, a Rússia nega-lhes o apoio que pode pôr em perigo o seu aliado Assad.
Em Kobani e em Hong Kong jogam-se linhas vermelhas do aceitável. Diante delas, todo o silêncio conveniente de quem tem a liberdade e a democracia como causas irrenunciáveis é inaceitável. Porque cúmplice do pior que a humanidade consegue sempre fazer.
Comments
Recomendam-se os noticiários
Recomendam-se os noticiários da CNN.
Essa emissora do mal-afamado Império é onde sempre encontro notídias que a imprensa portuguesa ignora, ocupada que está em olhar para o enorme umbigo que agrega factos, boatos e especulações.
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