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Carta de uma mãe a Nuno Crato
Caro Nuno Crato, escrevo-lhe enquanto mãe, e nem sei por onde começar…
Recordo-me do entusiasmo inicial de muitos, quando foi nomeado Ministro da Educação: alguém de “fora do aparelho”, um matemático, que ia repor a ordem nas escolas, repudiava a burocracia, e se dizia empenhado em devolver o poder aos professores na sala de aula…
Mas não durou muito o seu estado de graça, pois não? Até esses que o apoiavam começaram a desconfiar, quando o seu preconceito contra a escola pública ganhou forma através das coisas inenarráveis que foi pondo em prática. Não sei qual foi a primeira medida que me arrepiou, é que já lá vão tantas! De há três anos para cá, o retrocesso tem sido tão rápido, que não consigo estabelecer uma cronologia exata, mas posso enumerar-lhe algumas das coisas que fez, e que me envergonham de tê-lo como ministro (e a si? terá ao menos um pingo de decência, que o permita sentir, nem que seja à flor da pele, a vergonha de que o seu nome se tornou sinónimo?).
Cortou brutalmente o investimento público da educação, ao mesmo tempo que aumentava o financiamento aos colégios privados e, através de mega-agrupamentos absurdos, forçou milhares de alunos a percorrer distâncias desumanas para frequentar a escola. Há três anos que fecha escolas indiscriminadamente, esvaziando ainda mais as localidades interiores deste nosso triste país, e roubando-lhes o parco futuro com que podiam, ao menos, sonhar.
A seguir, inventou as turmas de nível, e, nisso, dou a mão à palmatória: coerência não lhe falta no que toca à discriminação, uma das suas imagens de marca. É que não escapa ninguém — nem o ensino especial! Sabe que há uma criança cega em Mirandela que faz 120km diários para poder ir à escola e ter o acompanhamento necessário? Consegue dormir à noite?
A nível pedagógico, posso falar-lhe daquela aberração chamada «metas de aprendizagem». Já as leu? Eu já. Sabe porquê? Por causa da aflição dos meus filhos, quando se foram deparando com conceitos para os quais não têm, nem têm de ter, maturidade para lidar. E os sinistros exames do 4.º ano, que tanto condicionam a aprendizagem das crianças, sem que haja uma única vantagem reconhecida por quem quer que seja, para além dos saudosistas do cizentismo da ditadura, como o senhor?
Não sei se algum dia lhe explicaram que a escola não é um laboratório de sofrimento, e já percebi que tem uma embirração ideológica com tudo o que seja aprender. Só assim se explica que, graças a si, haja professores de rastos já em Outubro, por causa da quantidade de alunos e horários descabidos. Sabe como se descreve a situação de professores do 1.º ciclo que fazem 27 horas letivas? É pura violência. Para eles e para os alunos.
Falta ainda mencionar a desgraça que tem sido a colocação de professores. Nos últimos anos, as trapalhadas têm-se sucedido, mas este ano superou tudo. E, como se não bastasse o triste espectáculo do matemático que não sabe usar fórmulas, respondeu ao caos com mentiras, cinismo, mais caos e uma série de vidas destroçadas.
Diga-me, senhor Ministro da Educação, que escola é esta? Que escola é esta, que, passado um mês do início das aulas, continua com professores por colocar? Que escola é esta que despede professores e sobrecarrega outros de forma desumana? À minha filha, «só» faltam dois, e em que estado deixou a educação, para que ainda haja quem me diga que até tem «sorte»?
Há tempos, o senhor dizia que era necessário implodir o Ministério da Educação. (http://www.publico.pt/politica/noticia/nuno-crato-ainda-quer-implodir-o-seu-ministerio-1501062). Agora que já terminou este seu objetivo, pode, por favor, pedir a demissão? Não chega já tanta destruição? É que o seu proclamado rigor é só um - o rigor mortis da escola pública; e de ministro já não tem nada, é apenas o coveiro.
Comments
Cara Rita,
Cara Rita,
então teve expectativas quanto à categoria e competência de Crato ? Santa ingenuidade !!! Então se ele foi despistado e escolhido pela direita mais anacrónica do mundo, foi por ser diferente e ir pôr "ordem" na educação e no ministério respectivo ?
Desculpe-se então a figura de estilo, a entrada convencional no assunto, com tal tirada absolutamente absurda aliás como acaba por demonstrar em todo o seu texto subsequente !!!
Caro e Soares, se ler com
Caro e Soares, se ler com atenção o texto percebe que não estava a falar de mim, mas da opinião generalizada que circulava e que era difundida pelos media. Ouvi muitas pessoas, algumas até de esquerda, que achavam que este ministro seria diferente. Aliás a propaganda do governo quando foi eleito passou exatamente por dizer que teria ministros "independentes". Se não se recorda do que se dizia na altura da sua nomeação, convido-o a ver esta reportagem bastante esclarecedora https://www.youtube.com/watch?v=fg-rpDY1V-k
Cara Rita Gorgulho,
Cara Rita Gorgulho,
Estou encantado com o que escreveu.
Não mostra direitismos nem esquerdismos! Aliás eu próprio desiludo-me com a falta de ideias de um lado ao outro das bancadas daquela Assembleia!
Como pai e como professor que acredita na escola pública sinto o mesmo e olho para uma notícia que dá conta de menos 700M€ na Educação, no próximo ano.
Estou estarrecido com o facto de as Associações de Pais estarem precupadas com mais 2 dias de aulas em cada período.
Deviam sim sair à rua e juntar-se a nós contra este estado de coisas e mandar aquele para onde nunca deveria ter saído.
Devolver a autoridade aos professores é dar-lhes a capacidade e vontade de ensinar o futuro deste país, com responsabilidade e dignidade e muito respeito por todos os que todos os dias fazem um esforço desumano - alunos, pais, funcionários e professores.
Admiro tudo o que escreveu. Junto-me à sua causa! Parabéns!!!
Abraço sentido e orgulhoso a todos os pais que representa nesta sua carta!
ola sou mãe e vou deixar o
ola sou mãe e vou deixar o meu testemunho pois enquanto professores não foram colocados ada minha filha começou com baixa medica fim de uma semana de aulas ate hoje não apareceu e com estou sem emprego a minha filha não pode ir para a escola porque não tem perlongamento e nem eu posso ir a procura de trabalho no entanto o material escolar que nos pediram para comprar esta la depois não querem que nos pais nos revoltemos as regras não são para todos, porque não colocam outra educadora no lugar desta pois como esta afectiva na escola faz todos os anos a mesma coisa.
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