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“O Governo já desistiu de governar e só lhe importa a propaganda”

No encerramento do Encontro do Bloco dedicado às lutas dos trabalhadores, Catarina Martins afirma que a propaganda do Governo “à volta de umas décimas de imposto” não disfarçará um Orçamento de Estado tão injusto como os anteriores.
Encerramento do VII Encontro Nacional do Trabalho do Bloco de Esquerda.

“O Governo é capaz de ficar 18 horas fechado numa sala para decidir com quantas décimas de imposto se pode fazer um número de propaganda eleitoral, mas não discute nunca o que é essencial”, declarou Catarina Martins. Sobre a proposta de Orçamento de Estado que dará entrada esta semana na Assembleia da República, a coordenadora do Bloco antevê que “do ponto de vista fiscal será igual aos anteriores: faz cair todo o peso sobre quem trabalha e toda a desigualdade a quem tem menores rendimentos”.

“Com este Governo, o IRS deixou de ser um quinto da receita fiscal e passou a ser um terço. A fatia de leão da receita fiscal é o IRS e o IVA, ou seja, sai diretamente dos bolsos de quem trabalha”, resumiu, concluindo que o colapso da abertura do ano letivo ou do ano judicial mostram bem que “o Governo já desistiu de governar e só lhe importa a propaganda” em ano de eleições.

"Só a proteção dos direitos dos trabalhadores pode proteger o nosso país”

A coordenadora do Bloco defendeu que “a resposta à crise tem de ser emprego e direitos para quem trabalha” e neste contexto as 35 horas semanais são urgentes “num país em que tanta gente não tem trabalho e tanta gente trabalha horas demais”.

O VII Encontro Nacional de Trabalho do Bloco de Esquerda decorreu este fim de semana em Lisboa e aprovou uma resolução a favor de uma campanha nacional pela redução do horário de trabalho para as 35 horas sem perda de salário. A coordenadora do Bloco defendeu que “a resposta à crise tem de ser emprego e direitos para quem trabalha” e neste contexto as 35 horas semanais são urgentes “num país em que tanta gente não tem trabalho e tanta gente trabalha horas demais”.

Outro tema que mereceu destaque na intervenção de encerramento foi o da contratação coletiva. Para Catarina Martins, numa altura em que apenas um em cada doze trabalhadores está hoje protegido em Portugal por algum tipo de Convenção Coletiva de Trabalho, “sabemos que não há um problema de rigidez, há sim um problema de dignidade do trabalho e sabemos que só a proteção dos direitos dos trabalhadores pode proteger o nosso país”.

Mas para defender a contratação coletiva “é preciso contrariar a ideia absurda e repugnante” do empreendedorismo e individualização das relações de trabalho, que nos últimos anos “foi injetada pela direita na comunicação social com os seus comentadores e senadores” “Zeinal Bava e Ricardo Salgado eram apontados como exemplo de grandes empreendedores”, recordou a coordenadora do Bloco.

A precariedade também foi tema deste encontro e Catarina Martins referiu-se à situação atual, em que “os falsos recibos verdes vão dando lugar as empresas unipessoais” “Ainda há-de vir um ministro da economia gabar-se de haver tanto empreendedorismo”, ironizou, antes de questionar os participantes sobre “quantos estagiários terão de ocupar o mesmo posto de trabalho e quantos estágios terá alguém de fazer para se tornar trabalhador?”.

"Interesse acionista é o vampiro do país"

“O que falta nos salários e nas pensões, o que falta na saúde e na educação, na justiça, o que falta em tudo o que é essencial tem vindo a engrossar as taxas de lucro do capital e a especulação financeira", afirmou Catarina Martins.

Referindo-se à queda do Grupo Espírito Santo e da Portugal Telecom, a coordenadora do Bloco acusou o interesse acionista de ser “o vampiro do país que tem vindo a destruir a atividade produtiva” para conseguir liquidez para os acionistas, enquadrando os dois casos no panorama mais vasto da transferência de rendimento do trabalho para o capital.

“O que falta nos salários e nas pensões, o que falta na saúde e na educação, na justiça, o que falta em tudo o que é essencial tem vindo a engrossar as taxas de lucro do capital e a especulação financeira. O problema é para onde está a ir esse dinheiro: está a ir do trabalho para o capital, por força da exploração laboral, da destruição do Estado Social e de um sistema fiscal cada vez mais injusto”, concluiu Catarina Martins.

ESQUERDA.NET | VII Encontro nacional do Trabalho | Catarina Martins

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