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O BES e as mentiras de Passos Coelho

O direito comunitário diz que todos os credores devem ser chamados à responsabilidade e o governo de Pedro Passos Coelho decidiu proteger alguns: os grandes. Com o dinheiro de todos nós decidiu que se lhes ia pagar, mas apenas aos tubarões.

'Os depositantes do BES têm razões para confiar no Banco e os portugueses têm razões para ter toda a confiança em relação às suas poupanças'. 'Uma coisa são os negócios da família Espírito Santo e outra coisa é o Banco'. 'O BES pode garantir as economias dos seus clientes e não há nenhuma razão para a intervenção do Estado'.
Pedro Passos Coelho, 11 de Julho de 2014

'A solução encontrada para o BES é a que melhor defende os contribuintes'. 'Nós o que no passado tivemos e que não deveria voltar a repetir-se, e que não vai repetir-se, é serem os contribuintes a ser chamados à responsabilidade por problemas que não foram criados pelos contribuintes'.
Pedro Passos Coelho, 4 de Agosto de 2014

Confusos com o Pedro Passos Coelho de Outubro de 2014? O mesmo que diz que, afinal, vai haver dinheiro dos contribuintes a pagar o BES? Não vale a pena ficar confuso. A banalização da mentira está, infelizmente, inscrita no ADN deste governo. Ao longo deste processo o governo fez uma escolha: induzir os contribuintes em erro e salvar os grandes credores. Quando um banco vai à falência alguém tem de perder dinheiro, não há volta a dar, e este governo escolheu salvar os grandes credores. Como? Colocando-os no 'Banco Bom'. Foi exatamente nesse momento que o governo decidiu penalizar os contribuintes do mesmo passo que continuava o primeiro ministro a mentir descaradamente. O direito comunitário diz que todos os credores devem ser chamados à responsabilidade e o governo de Pedro Passos Coelho decidiu proteger alguns: os grandes. Com o dinheiro de todos nós decidiu que se lhes ia pagar, mas apenas aos tubarões.

O que um governo decente deveria fazer - sobretudo depois de um BPN - era garantir de uma vez por todas que nem mais um cêntimo dos contribuintes seria gasto na resolução de um banco. Nem contribuintes, nem Estado, nem Caixa Geral de Depósitos meterá um cêntimo que seja num banco falido. Esta deveria ser a regra. O que um governo decente deveria fazer ainda era evitar um erro a dobrar. Depois de uma má resolução, preparam-se agora para uma má venda. Se o 'Banco Bom' é viável, o governo não deveria vendê-lo por 'dá cá aquela palha', mas sim mantê-lo na esfera pública e usá-lo para fazer chegar dinheiro à economia real, sobretudo como um instrumento para uma política de crédito dirigida às PMEs. Mas este não é um governo decente. Este é um governo mentiroso.

Sobre o/a autor(a)

Eurodeputada, dirigente do Bloco de Esquerda, socióloga.
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