O chefe do governo local, Leung Chun-ying, anunciou que o território tem de voltar à normalidade até segunda feira, deixando antever ações contra os manifestantes caso estes não dispersem até ao fim de domingo.
"O governo e a polícia têm a responsabilidade e a determinação para tomar todas as ações necessárias para restaurar a ordem social”, frisou Leung num comunicado transmitido pela televisão.
A ideia de que o executivo de Hong Kong se prepara para agir foi reforçada pela intervenção do antigo deputado do Partido Democrático de Hong Kong Law Chi-Kwong, que, dirigindo-se ao movimento Occupy Central e às associações de estudantes, afirmou que os manifestantes estavam “numa situação muito perigosa” que devia ser resolvida “com brevidade”.
Esta noite, dezenas de milhares encheram as ruas do Admiralty, onde se encontra a sede do governo, mostrando não estar dispostos a recuar perante as ameaças.
Governo e autoridades são cúmplices das agressões
O vice-presidente da comissão de segurança do Conselho Legislativo de Hong Kong acusou o governo de trabalhar com grupos criminosos para acabar com os protestos pró-democracia. James To, do partido Democrático, referiu que o executivo “tem utilizado forças organizadas e orquestradas, inclusive elementos das tríades, para tentar dispersar os manifestantes”.
Os líderes estudantis cancelaram, entretanto, as negociações com o governo local, argumentando que as autoridades estão a permitir a violência de que estão a ser alvo.
Segundo avança o South China Morning Post, a Federação de Estudantes exige agora do governo de Hong Kong explicações sobre a onda de violência que teve lugar na sexta feira em Mong Kok, e uma investigação à atuação da polícia, para que possam ser retomadas as negociações.
"Não tivemos outra opção senão romper o diálogo, depois que o governo e a polícia permitiram atos violentos por elementos de associações criminosas contra manifestantes pacíficos do movimento 'Occupy'", declarou a Federação.
Os estudantes recusaram-se ainda a falar com o chefe do governo local, Leung Chun-ying, cuja demissão exigem há vários dias.
Durante os conflitos, que causaram mais de cinquenta feridos, a polícia deteve dezanove pessoas ligadas aos atos de violência contra os manifestantes.
Testemunhas citadas pela agência de notícias AFP referiram ter presenciado situações de assédio e agressões sexuais em diversos locais da cidade.
A Amnistia Internacional acusou a polícia de Hong Kong de "falhar no seu dever" de proteger os manifestantes da violência.
Pequim aplaude atuação das autoridades
As agressões contra os manifestantes surgiram após a publicação de um editorial do jornal oficial do partido comunista no poder, o Diário do Povo, no qual é elogiada a atuação da polícia de Hong Kong face aos “protestos ilegais”.
"Uma sociedade democrática deve respeitar as opiniões da minoria, mas isso não significa que as minorias têm o direito de recorrer a meios ilegais", lê-se no artigo, onde é ainda frisado que qualquer ideia de importar “uma revolução colorida” para a China continental a partir de Hong Kong é “pura fantasia”.
O editorial enaltece ainda a atuação das autoridades: “Face aos manifestantes que ignoram as ordens da polícia, que se precipitam para transgredir os cordões de segurança, e que querem atingir os polícias com os seus guarda-chuvas (...) a polícia não tem outra alternativa senão usar o gás lacrimogéneo”.