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Kitsch

Passos Coelho é um primeiro-ministro kitsch.

O kitsch é aquilo que se pretende autêntico mas é tão grosseiro, tão gratuito, que dá cabo de tudo quanto está próximo ou mesmo distante.

O kitsch aplica-se a qualquer coisa, seja ela material ou imaterial. O seu valor é zero, não é gosto, é desgosto. O Kitsch é distorcido e avariado, é um exagero, ou seja é uma espécie de caricatura baratucha do modelo matricial.

O kitsch é lixo. Um lixo recheado de lugares comuns. No caso deste chefe de governo o Kitsch são as baboseiras proferidas em tom professoral, com voz calma a simular autoridade e, mais que isso, sapiência. O kitsch é sempre um simulacro de qualquer coisa.

O kitsch apodera-se do consumidor processando a osmose. É fácil, ostensivo, violento e medíocre. É inadequado na forma, no contexto, na função, no uso. É falsificado.

O Kitsch é um subproduto. Uma salsicha.

Os discursos de Passos Coelho são genuinamente kitsch, porque ornamentados de palavras fáceis, mal paridas e repetitivas, monólogos eticamente baratos e esteticamente medíocres.

O homem não sabe falar e julga-se um Cícero. Um simplório vestido de smoking esfarrapado, assim é este discursador.

São todos mais ou menos assim neste governo. De uma grande barateza de espírito. O que é barato sai caro, lá isso sai.

O governo de Passos Coelho também milita no Kitsch. Da assertiva ministra justiceira, surda e enlouquecida, ao matemático sonso, aí estão eles cheios de pose de estado, cobertos do pechisbeque que o cargo vai emprestando.

Um governo narcísico. Acha-se bonito.

Não há chico-esperto nenhum que não tenha conseguido qualquer coisita destes governos de plástico. A chica-espertice fez ninho no Estado. Nomeou o primeiro-ministro para porta-voz. Enquanto arauto da mediocridade, da sem vergonha, do despudor mais primário, tem-se saído bem, a criatura. Um trapaceiro eficaz. Lembram-se do Relvas? É tudo da mesma colheita.

O governo. O olhar corre Ceca e Meca e Vale de Santarém e não encontra uma partícula de decoro naquela paisagem humana. Há ali uma mancha homogénea de menoridade intelectual tão fosforescente e saloia que o melhor é pôr óculos escuros. Os óculos, que se querem bem escuros, também têm a função de nos proteger da vergonha de ter aquela gente a governar-nos.

Governos como estes e seus governadores são todos estrategas da crueldade do tempo infame que hoje vivemos.

Elogiam-se uns aos outros em comentários televisivos. Passos aparece honestíssimo pela mão professoral de Marcelos vários, sejam eles Sousas ou Mendes.

Bento, Vítor Bento, foi-nos apresentado como um Rambo, o Rambo do BES. Um Rambo respeitável, eficiente, austero. Ia salvar aquilo tudo. Armado de borboletas, aí estava ele com uma competência acima de qualquer suspeita. Afinal voou com as bichas. Agora vem aí um Schwarzenegger. Vai vender o banco bom. Tão bom como a retórica ministerial. Estes são apenas exemplos breves. Há outros menos breves e bem mais graves.

Uma retórica salsicha. Não há ali nem uma palavra, nem uma vírgula de pensamento político. É tudo kitsch. Linguagem menor. Lugares comuns, miseravelmente comuns, mau gosto e pensamento zero. É isto que temos. Tão kitsch.

Sobre o/a autor(a)

Advogada, dirigente do Bloco de Esquerda. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990
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