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Separando os factos da ficção - o que significa a Grã-Bretanha?

David Cameron e o seu lacaio Michael Gove querem introduzir “Valores Britânicos” na escolas britânicas. Querem ensinar à nossas crianças o que é ‘liberdade’, ‘tolerância’, ‘respeito pelas leis e pelo direito’, ‘crença na responsabilidade pessoal e social’ e ‘respeito pelas instituições britânicas’. Peguemos esta hipocrisia pelos cornos. Artigo de Suki Sangha.
Suki Sangha. Foto safi4yes.

As milícias islamitas sunitas ocuparam Mosul, a terceira maior cidade do Iraque, levando o país de volta a um estado de guerra civil. Passaram 11 anos desde a invasão do Iraque e 13 desde o início do “guerra contra o terrorismo” – uma guerra que para tantas pessoas da minha geração marca o momento no tempo em que nos tornámos internacionalistas. Vimos o céu de Bagdad iluminado por bombas enviadas pelo governo britânico. Vimos os efeitos das bombas de urânio empobrecido lançadas sobre Fallujah.

Na escola ensinam-nos uma narrativa falsa sobre o papel dos britânicos no mundo. Uma história que ensina às crianças as grandes aventuras levadas a cabo pela chamada “grande nação”. Falam-nos de reis e rainhas e de lugares distantes, mas longe destas informações fica a verdade sobre os generalizados roubos, fraudes, violências e assassinatos que povoam a história do imperialismo britânico. A Grã-Bretanha tem sangue nas mãos e o sangue nunca seca.

O apoio de JK Rowling ao movimento Better Together é uma persistente reminiscência da indiferença das classes abastadas em relação às classes trabalhadoras de toda a Escócia, que estão incansavelmente a fazer campanha pelo voto SIM. A campanha de apoio de Rowling à “Grã-Bretanha Unida” deixa de fora a discussão sobre a pobreza, desigualdades e democracia. A Grã-Bretanha é o 8º país mais rico do mundo desenvolvido e um daqueles em que as desigualdades são maiores. Rowling contribuiu com 1 milhão de libras para gritar ‘UK OK’.

David Cameron e o seu lacaio Michael Gove querem introduzir “Valores Britânicos” na escolas britânicas. Querem ensinar à nossas crianças o que é ‘liberdade’, ‘tolerância’, ‘respeito pelas leis e pelo direito’, ‘crença na responsabilidade pessoal e social’ e ‘respeito pelas instituições britânicas’. Peguemos esta hipocrisia pelos cornos.

Liberdade – os políticos britânicos querem pregar a liberdade enquanto a nossa política internacional é diretamente responsável pela privação da liberdade para povos por todo o mundo.

Tolerância – supostamente a Grã-Bretanha é um lugar para viver em tolerância. Um lugar onde o governo envia carrinhas para junto de comunidades étnicas minoritárias gritando às pessoas “Voltem para as vossas terras!”.

Respeito pela Lei e pelo Direito – é um conceito peculiar para alguém que tenha perdido um ente querido por causa da brutalidade da polícia ou assassinado enquanto sob custódia da polícia.

Crença na Responsabilidade Pessoa e Social – num tempo em que os deputados continuam a brincar com as ajudas de custo e em que os banqueiros e executivos recebem milhões em bónus.

Respeito pelas Instituições Britânicas – respeito por governos que nem sequer elegemos. Respeito por decisões tomadas em gabinetes de milionários e ratificadas por uma poderosa ‘Câmara dos Lordes’ que não têm a mais pálida ideia do que seja a luta diária das pessoas comuns.

Sendo mulher, pertencendo a uma minoria étnica, sou chamada a optar entre uma Escócia que sabe acolher os contributos dos que escolheram emigrar para aqui, e uma Grã-Bretanha que transforma os emigrantes e as minorias étnicas em bodes expiatórios.

Sendo mulher, pertencendo a uma minoria étnica, sou chamada a optar entre uma Escócia que sabe acolher os contributos dos que escolheram emigrar para aqui, e uma Grã-Bretanha que transforma os emigrantes e as minorias étnicas em bodes expiatórios. Sendo jovem sindicalista, é-me pedida uma escolha entre uma Escócia com quem podemos colaborar e uma Grã-Bretanha onde os partidos emergentes propõem uma agenda de cortes e reduções sucessivas dos direitos dos trabalhadores. Se ‘é melhor estarmos juntos’ significa mais austeridade no país e guerra fora de portas, então pedimos algo melhor, merecemos algo melhor.

Votar SIM no referendo sobre a independência não tem a ver com nações e fronteiras. Não tem a ver com expetativas irrealistas e utopias socialistas. Há uma razão para milhões de pessoas se sentiram  motivadas para estar, pela primeira vez, envolvidas e participantes em temas políticos. É o facto de, no coração deste debate sobre o futuro constitucional da Escócia estar a ideia que as pessoas comuns podem intervir na política.

As notícias da Grã-Bretanha parecem não melhorar nunca. O voto SIM permite-nos criar as nossas próprias manchetes.


Suki Sangha é ativista do International Socialist Group.
Publicado inicialmente no site Scots Asians for Yes to an Independent Scotland, a 13/06/2014. Traduzido por Isabel Gentil

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Neste dossier:

Referendo na Escócia: o fim do Império?

A poucos dias do referendo de 18 de setembro, o poder político de Londres treme ante a subida das intenções de voto do Sim à independência da Escócia. No meio da austeridade que nos últimos anos tem cortado nos salários, pensões e serviços públicos, a população escocesa atreveu-se a imaginar um país novo e mais justo e a discutir as opções do seu futuro. Dossier organizado por Mariana Vieira.

A Escócia já ganhou

O referendo de 18 de Setembro trouxe para o quotidiano discussões sobre história, política e economia, sobre o que foi o passado e o que se quer do futuro. Quase ninguém responde agora “ah, eu não falo dessas coisas”. E já não era sem tempo! Artigo de Mariana Vieira, em Edimburgo.

Por que passei a dizer SIM à Independência da Escócia

Podemos dizer que da União não sobra muito, a não ser sentimento, história e família. Algumas das razões pragmáticas para a subsistência da União, que emergiram nos séculos XVIII e XIX, desapareceram. Artigo do historiador Tom Devine, a principal referência do estudo da Escócia moderna .

Quem irá escrever a Constituição da Escócia?

Se a Escócia votar pela independência teremos de enfrentar importantes perguntas na área constitucional: Qual será a relação entre os cidadãos e os Estado? Quem escreverá a Constituição? Poderá o escocês comum a contribuir para esse processo? E como poderemos todos nós ser incluídos nele? O modelo islandês é um exemplo a seguir? Artigo de Jamie Mann.

A Economia e a Independência

O principal argumento do Better Together, de que as maiores economias são mais resistentes e flexíveis, ainda está por escrutinar. As pequenas economias do Norte, geograficamente semelhantes à Escócia, mantiveram as suas moedas independentes, mais estáveis do que a libra esterlina. Artigo de James Foley e Pete Ramand.

O voto no SIM na Escócia soltaria a mais perigosa das coisas: a esperança

O mito da apatia foi já destruído pelo movimento tumultuoso a norte da fronteira. Assim que há uma coisa pela qual vale a pena votar, as pessoas fazem filas pela noite fora para ter o nome no caderno eleitoral. A pouca participação nas eleições para Westminster reflete não a falta de interesse, mas a falta de esperança. Artigo de George Monbiot.

Petróleo do Mar do Norte: o que importa não é se vai haver um “boom” mas a quem pertence o petróleo

A única forma de diminuir o deficit e retomar os serviços públicos depois dos cortes da coligação, bem como de conseguir ter dinheiro para investir e reconstruir a economia escocesa será nacionalizar o petróleo do Mar do Norte. Artigo de Ralph Blake.

Cronologia da Independência

Momentos importantes da história da Escócia e das suas várias conquistas e sucessivas perdas de independência através dos séculos. Mais informação sobre cada época pode ser consultada, por exemplo, aqui.

Glossário do referendo

Quem é quem nesta campanha do referendo à independência? Quais os sites e blogs que defendem a campanha do Sim e têm tentado furar o bloqueio dos grandes meios de comunicação a favor do Não? Reunimos aqui alguma informação básica para acompanhar melhor esta campanha.

O SNP não pode fugir para sempre ao debate sobre a monarquia

Será interessante a resposta dos membros do SNP às possibilidades constitucionais abertas pela independência. Vão acomodar-se à monarquia pragmática dos seus dirigentes ou exigir uma alternativa mais radical e genuinamente democrática? Artigo de James Maxwell.

O Left Unity e o debate da Independência

Por explicarem o quadro geral das duas posições opostas, publicamos aqui dois textos do debate em curso no Left Unity, novo partido que pretende ser um agregador da esquerda por todo o Reino Unido. Até à data, o partido escolheu não tomar posição oficial, apesar de os seus membros participarem activamente nas campanhas respectivas. Alan Mackinnon defende o NÃO; Allan Armstrong responde-lhe pelo SIM.

Os socialistas e o SIM

Apoiar o direito democrático de nações como a Escócia à autodeterminação não faz de ti um nacionalista escocês, faz ti um democrata. Artigo de Colin Fox, porta-voz do Scottish Socialist Party.

Como se aproximam os sindicatos da independência?

O princípio da devolução e da transferência de controlo para Edimburgo de, entre outras, políticas de transportes, saúde e educação, criou uma nova camada de poder do estado com as quais as secções escocesas dos sindicatos britânicos passaram a ter de negociar, reduzindo a sua dependência nas estruturas mais alargadas, de todo o Reino Unido. Artigo de James Maxwell.

Quem são os donos da Escócia?

John Glen, o diretor executivo de Buccleuch Estates diz que os membros da Scottish and Land Estates “gerem um razoável volume de recursos naturais”. E tem razão: entre eles, os 2.500 membros devem ser proprietários de três quartos do território escocês. Artigo de Peter Geoghegan.

Tariq Ali: "A separação da Escócia desmantela o estado britânico"

Nesta entrevista conduzida por James Foley, o escritor, realizador e editor da New Left Review explica o seu apoio à independência da Escócia e fala das consequências do voto Sim neste referendo.

Ken Loach: Escócia independente poderá ser a "ameaça do bom exemplo"

O cineasta e fundador do partido Left Unity defende que a independência não resolve todos os problemas da Escócia, mas abre a possibilidade de criar uma sociedade mais justa.

O direito a sonhar

Votar Não significa votar sim a um estado para quem a defesa e a política internacional passam por fingir que não fazem parte da Europa. Fingir que vivemos numa espécie de isolamento glorioso com os nossos “amigos” Estados Unidos. Artigo de Jo Clifford.

O Modelo Nórdico

Na sequência da carta aberta de 17 escritores e jornalistas escandinavos que apoiam a campanha do SIM, Pete Ramand e James Foley, cofundadores da Campanha Radical pela Independência e autores de Yes: The Radical Case for Independence, defendem a tese de que uma Escócia Independente deveria abandonar o capitalismo Anglo-Americano em favor de uma social democracia Nórdica.

Um salva-vidas para as pessoas com deficiência que se afundam neste mar de cortes orçamentais

O Livro Branco sobre a independência lançado pelo Governo promete mudanças no regime de apoios sociais. Ao invés, o Labour só garante que a austeridade e os cortes vão continuar. Artigo de John McArdle.

Votar SIM é a única maneira de salvar da privatização o Serviço Nacional de Saúde

Enquanto o Serviço Nacional de Saúde Inglês está a ser privatizado, o Escocês regressou à filosofia tradicional do serviço unificado e de fundos públicos. Artigo de Philippa Whitford.

A negatividade do SIM

É também enquanto socialista que recuso acreditar que os nossos irmãos e irmãs sejam uma causa perdida. Para mim, um voto SIM soa a desistência e eu acredito que a única forma de ser socialista é manter viva a ideia de que venceremos, num dia distante, talvez, mas venceremos. Artigo de Juan Pablo Lewis Jr.

A Guerra e as Mulheres

A independência é a maior ameaça ao Reino Unido enquanto potência mundial desde a descolonização, fornecendo a uma Escócia independente a oportunidade de adoptar uma política estrangeira independente e justa. Artigo de Cat Boyd e Jenny Morrison.

Imigração na Escócia pós-referendo

A diferença das necessidades demográficas e de migração da Escócia significam que a atual política de imigração do Reino Unido não contemplou as prioridades escocesas no campo da migração. Excerto do Livro Branco do governo escocês, “Scotland’s Future”.

Separando os factos da ficção - o que significa a Grã-Bretanha?

David Cameron e o seu lacaio Michael Gove querem introduzir “Valores Britânicos” na escolas britânicas. Querem ensinar à nossas crianças o que é ‘liberdade’, ‘tolerância’, ‘respeito pelas leis e pelo direito’, ‘crença na responsabilidade pessoal e social’ e ‘respeito pelas instituições britânicas’. Peguemos esta hipocrisia pelos cornos. Artigo de Suki Sangha.

Os planos A, B, C, D, E, F… da moeda Irlandesa desde a independência

Se a libra esterlina passar em 2020 por uma crise como a dos anos 70, o governo da Escócia independente, SNP ou outro qualquer, fará o que fez a Irlanda: vai abandonar a libra esterlina sem hesitar e usar a libra escocesa, mantendo-a dentro dos limites estabelecidos com as moedas dos seus parceiros de mercado, por exemplo, a Zona Euro, os EUA, a Noruega, etc. Artigo de Sean O’Dowd.