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A China entra no “fracking” em yuans e ameaça a arma principal dos EUA

Pequim tem as maiores jazidas de gás de xisto, seguida da Argentina, Argélia, e EUA. Com isso reduziria o uso de carvão, principal contaminador da atmosfera. Mas as ameaças ambientais do “fracking” podem significar ir de mau a pior. Por outro lado, os chineses querem impor o comércio de gás de xisto em yuans. Por Marco Antonio Moreno, El Blog Salmón

A China tem as maiores jazidas de gás de xisto do mundo e está decidida a extraí-lo pela via do “fracking”. O gigante asiático enfrenta os desafios económicos e ambientais para desenvolver a fatura hidráulica numa geologia complexa e de alto custo. Mas esta opção permitir-lhe-ia abandonar o carvão, recurso pelo qual a China é acusada de ser o país que mais contamina o planeta. A China é o principal consumidor mundial de carvão, e portanto a maior fonte contaminante de dióxido de carbono. Por isso se pensa que a extração do gás de xisto poderia provocar uma viragem nas alterações climáticas e travar a deterioração ambiental, como sugere a Scientifican American. A China quer negociar o gás em yuans, ameaçando a arma principal dos Estados Unidos.

O custo de um milagre energético

O gás de xisto transformou-se na nova fonte energética dos Estados Unidos e isto tem muito a ver com a guerra do Iraque de 2003. Até antes desse conflito, o barril de petróleo era cotado em 20 dólares. Desde então, o barril de petróleo não tem parado de subir e hoje está cotado a 100 dólares, depois dos preços recorde de julho de 2008, quando chegou a 147 dólares o barril. O que levou o petróleo a subir 400 por cento em menos de uma década? Nada menos que o financiamento do “fracking”, uma tecnologia muito cara e arriscada para a saúde e o meio ambiente.

Apesar dos riscos, o gás de xisto transformou-se num sistema de energia central dos Estados Unidos, gerando um auge económico em plena crise financeira. Quanto tempo vai durar este fenómeno? Ninguém sabe. Como também ninguém sabe os riscos reais que implica a extração do recurso a 3 mil (ou mais) metros de profundidade, que requer o uso de elementos altamente tóxicos e cancerígenos e a inevitável contaminação das camadas subterrâneas. E quando se trata de contaminação, podemos estar perfeitamente a ir de mau a pior.

O assunto não acaba aqui. Dos 7.300 biliões de pés cúbicos de gás de xisto reconhecidos pela AIA, 15,5 por cento (1.130 biliões de pés cúbicos) ficam na China (ver imagem); 802 biliões de pés cúbicos na Argentina (razão pela qual George Soros duplicou o seu investimento na YPF); 707 biliões de pés cúbicos na Argélia, enquanto os Estados Unidos entram no quarto lugar, com reservas de 650 biliões de pés cúbicos.

Um plano para abandonar o carvão

A China produz e consome tanto carvão quanto o resto do mundo junto, como mostra esta imagem com dados da AIA. Desde 1980, a China baseou no carvão 70 por cento do seu consumo energético, sendo este elemento a principal fonte por trás do seu sólido processo de expansão das últimas três décadas. Desde 2007, deu impulso ao gás, e o consumo de gás tem crescido à taxa de 10 por cento, e os planos para os próximos anos do presidente Xi Jinping procuram expandir ainda mais o consumo do gás para diminuir o uso do carvão... e a contaminação do planeta.

A China quer impulsionar a produção de gás de xisto no país e entrar no desenvolvimento do “fracking” e a exportação de gás de xisto. No entanto, declarou que negociará o gás diretamente em yuans. Desta maneira, o dólar dos Estados Unidos começa a sofrer a ameaça de ser substituído como moeda de intercâmbio no comércio mundial de energia. O golpe atinge diretamente os petrodólares e a China já está a pagar o petróleo procedente da Rússia e do Irão em yuans. Isto significa que perto de 2 biliões de barris diários, dos 20 biliões de barris que se usam por dia, estão a ser liquidados em yuans.

Países como Angola, Sudão ou Venezuela preparam-se para seguir o exemplo da China e abandonar o dólar nas transações do petróleo, com o que a China avança na internacionalização da sua moeda. Como apontamos, uma parte cada vez maior do comércio mundial realiza-se em yuans, e a emissão de instrumentos financeiros em yuans aumenta. Nos centros financeiros do Luxemburgo, Londres, Paris e Frankfurt estão a emitir-se instrumentos financeiros em yuans e a tendência vai em aumento. O “fracking”, responsável pelo auge económico dos Estados Unidos nos últimos anos, pode também ser responsável pela derrota financeira dos Estados Unidos, ao fazer nas suas transações um olímpico abandono da nota verde, a divisa que tem servido como meio de pagamento dos recursos energéticos nos últimos 70 anos.

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