“Cada dia que passa, o BES mais parece um BPN”

09 de August 2014 - 5:45

Esta sexta feira, o coordenador do Bloco acusou o Governo de ser “o seguro de vida de banqueiros aflitos e bancos em falência”. Durante o comício que teve lugar em Portimão, João Semedo alertou ainda que, “potencialmente, o buraco do BES pode ser até dez vezes maior do que o do BPN". A eurodeputada Marisa Matias destacou, por sua vez, que a desregulação do sistema financeiro já custou 26% do PIB europeu. A iniciativa contou ainda com as intervenções da deputada Cecília Honório e do dirigente bloquista João Vasconcelos.

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Lembrando que “as fraudes do BPN já custaram ao país, já custaram ao orçamento do Estado, ao bolso dos contribuintes, 4 mil milhões de euros, aos quais se podem vir a acrescentar 3 mil milhões de euros”, o coordenador nacional do Bloco de Esquerda defendeu que “há muitas semelhanças e podemos até dizer que, cada dia que passa, o BES mais parece um BPN”.

“O BES mais parece um BPN porque nos lembra o mesmo 'gangsterismo financeiro', as fraudes, as burlas, as contas marteladas, a ocultação dos buracos, o desrespeito pelas normas e regras e orientações e determinações do Banco de Portugal.

“E mais parece um BPN porque nos lembra o mesmo 'gangsterismo financeiro', as fraudes, as burlas, as contas marteladas, a ocultação dos buracos, o desrespeito pelas normas e regras e orientações e determinações do Banco de Portugal. Tudo isso se passou no BPN e já se sabe que está a passar no BES”, acrescentou João Semedo durante um comício do Bloco em Portimão.

O dirigente bloquista assinalou ainda a mesma “miopia, inércia e falhanço”, do Banco de Portugal que, ainda que tenha tido vários alertas ao longo dos anos, acordou, quer no caso do BPN como do BES, “tarde e a más horas”.

“Também o BES nos lembra o BPN na promiscuidade política entre a política e os negócios, entre a banca e o poder político, entre os banqueiros e os governantes. Claro que há uma ligeira diferença: no caso do BPN eles saltaram do Governo de Cavaco Silva para a administração do banco. No BES foi diferente, foi ao contrário, saltaram da administração do banco para vários governos – tanto do PSD/CDS como do PS”, frisou o coordenador nacional do Bloco.

Segundo João Semedo, o BPN e o BES “tresandam a uma promiscuidade que empobrece e mutila a democracia”.

Alertando para o facto de o BPN ser “dez vezes mais pequeno do que o BES, pelo que, potencialmente, o buraco pode ser até dez vezes maior do que o do BPN”, o dirigente bloquista referiu não estar convencido de que este resgate não vai implicar custos para os contribuintes.

“Querem-nos convencer de que o novo banco, que tem 80% de capital público, 20% de capital privado, capital bancário, não põe em risco o nosso dinheiro, não põe em risco as contas públicas, não põe em risco os contribuintes? E sabendo nós que o banco vai ser conduzido pelo homem que foi escolhido para ser presidente pelo anterior presidente Ricardo Salgado?”, questionou.

“Desejamos que tudo corra pelo melhor, mas não nos iludimos sobre os perigos reais que há para as contas públicas e para os bolsos dos contribuintes”, avançou o coordenador do Bloco.

“E, por isso, dizemos que esta solução é errada e que se o esforço de recuperação de um banco privado deve ser assumido inteiramente pela banca privada então não devia haver lugar ao investimento público nesse banco. Mas se houve lugar a um investimento público tão pesado, então o que nós devemos exigir é que esse banco fique ao serviço do Estado, ao serviço do bem público, sob controlo público e não nas mãos de quem foi indicado por Ricardo Salgado para presidir a esse banco” , acrescentou.

“O caso do BES é bem a imagem de marca deste Governo. Só facilidades e favores para a alta finança. Só dificuldades para quem vive do seu trabalho"

“O Governo de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas tem sido o seguro de vida de banqueiros aflitos e bancos em falência”, acusou, sublinhando que “o caso do BES é bem a imagem de marca deste Governo. Só facilidades e favores para a alta finança. Só dificuldades para quem vive do seu trabalho.

Durante a intervenção, João Semedo salientou ainda que o caso do BES “distraiu as atenções", uma vez que “o Governo tem continuado a cortar nos apoios sociais e, portanto, com tanta rapidez se acode à banca falida quando nada se faz com aqueles que vivem em grandes dificuldades”.

A desregulação do sistema financeiro custou 26% do PIB europeu”

“Há um ano atrás estávamos a discutir uma crise política que teoricamente era irrevogável: a birra entre vice primeiro ministro e primeiro ministro, que passou em nome dos interesses que comandam este Governo, que comandam este país, e que são os interesses financeiros”, lembrou a eurodeputada Marisa Matias no início da sua intervenção.

Referindo que o novo mecanismo único de resolução dos bancos, aprovado pelo Parlamento Europeu em abril, e que supostamente iria salvar os contribuintes de pagar a crise da banca, vai demorar oito anos até estar concluído, a dirigente bloquista lamentou que as propostas apresentadas pelo Bloco sobre esta matéria tenham sido chumbadas sob o argumento de que não existia qualquer ameaça de uma falência eminente na banca europeia.

Marisa Matias destacou ainda que a desregulação do sistema financeiro já custou 26% do PIB europeu.

"Se quisermos saber quanto é que foi gasto em recapitalização da banca diretamente do dinheiro dos contribuintes, aí falamos de seis orçamentos europeus”

“26% de toda a riqueza produzida no espaço europeu nos últimos seis anos foi aplicada em recapitalização da banca, em empréstimos, em garantias, em troikas. Mas se quisermos saber quanto é que foi gasto em recapitalização da banca diretamente do dinheiro dos contribuintes, aí falamos de seis orçamentos europeus”, avançou a eurodeputada.

“A pergunta é: e a banca está salva? Não, porque continua nesta voragem dos interesses privados que se sobrepõem aos interesses comuns”, acrescentou.

Segundo Marisa Matias, as promessas no sentido da regulação da banca falharam no seu essencial: “criar um quadro regulatório que disciplinasse o sistema financeiro e que pusesse o seu controlo nas mãos de todos nós”.

No caso português, a dirigente do Bloco lembra que, por altura das últimas eleições, “PS, PSD e CDS garantiram que estava tudo resolvido, que mais nenhum cêntimo iria ser retirado dos bolsos dos contribuintes” e que “passaram apenas três meses até surgir o caso BES”.

A eurodeputada recordou também que 25 governantes passaram pelo BES, e que é preciso recuar ao governo de Maria de Lourdes Pintassilgo para encontrar um executivo cujos membros não estiveram vinculados a este banco.

“É preciso romper com esta teia de interesses comuns”, frisou.

Durante a sua intervenção, Marisa Matias fez questão, tal como tinha acontecido com o dirigente do Bloco João Vasconcelos, de fazer referência à agressão contra Gaza, sublinhando que “o nosso silêncio é conivência com o massacre”.

O desemprego e a pobreza são chagas sociais”

“Nos últimos três anos temos assistido a uma destruição das vidas daqueles que menos têm, fruto da governação do executivo PSD/CDS-PP e da troika”

“Nos últimos três anos temos assistido a uma destruição das vidas daqueles que menos têm, fruto da governação do executivo PSD/CDS-PP e da troika”, alertou o dirigente e vereador do Bloco em Portimão, João Vasconcelos, defendendo que “o desemprego e a pobreza são chagas sociais”.

O dirigente bloquista lembrou que as portagens na Via do Infante, introduzidas pelo PSD e CDS-PP com a conivência do PS, têm contribuído para o aumento do desemprego e a falência de empresas, e realçou o empenho do Bloco na luta contra esta medida.

João Vasconcelos fez ainda referência à “catástrofe de proporções incalculáveis” a que se assiste no Algarve no que respeita aos serviços de saúde, e que é fruto da política de cortes imposta pelo Governo.

A Portimão Urbis, que levou o município, sob gestão do PS, à falência, também é alvo de crítica por parte do vereador do Bloco, que recordou que o concelho conta com uma dívida de mais de 160 milhões de euros.

João Vasconcelos reforçou o seu compromisso, e o dos restantes autarcas eleitos pelo Bloco, no sentido de continuar a lutar pelas causas da população de Portimão.

Bloco não pactua com estas dinastias de poderosos”

A deputada do Bloco Cecília Honório lembrou, por sua vez, que o Governo PSD/CDS-PP tem imposto cortes aos mais fragilizados – como os desempregados, os idosos e os mais pobres – enquanto os multimilionários aumentaram durante o período da troika.

“Há gente que ganhou e bem com o destino da troika”

“Há gente que ganhou e bem com o destino da troika”, referiu a dirigente bloquista.

“Quem é que vai pagar pela cratera deixada pela família Espírito Santo?, questionou Cecília Honório, frisando que “o Bloco não pactua com estas dinastias de poderosos, com esta promiscuidade entre banca e poder político, o negócio e o poder político”.

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