BES: “Banco Novo que Carlos Costa anuncia é um banco limpo por dinheiros públicos”

04 de August 2014 - 0:51

Catarina Martins criticou este domingo, à margem de um comício em Lagos, a injeção de 4400 milhões de euros públicos no Banco Novo, que deterá os ativos “limpos” do Banco Espírito Santo.

PARTILHAR
Catarina Martins no Comício em Lagos, que contou com uma bandeira da Palestina na tribuna. Foto de Catarina Oliveira

“Nós não vivemos numa “bancocracia”, vivemos numa democracia, o primeiro-ministro não pode estar a banhos enquanto o dinheiro que cortou em salários, em pensões e em serviços públicos está a ser canalizado para um banco privado", afirmou, sublinhando que não é admissível que o anúncio tenha sido feito pelo governador do Banco de Portugal.

Catarina Martins falava no domingo à noite aos jornalistas, à margem de um comício realizado no centro de Lagos, pouco depois da comunicação pública de Carlos Costa sobre a solução encontrada para o BES, que passa por um plano de capitalização de 4900 milhões de euros, sendo 4400 provenientes do Estado, e a separação dos ativos tóxicos dos restantes que ficam numa nova instituição, o Novo Banco.

Apesar da garantia do governador do Banco de Portugal de que o plano de capitalização não afeta as finanças públicas, a coordenadora do Bloco não se mostrou convencida, argumentando que existe risco para os contribuintes, uma vez que vai ser injetado dinheiro público num banco que vai ser gerido por privados.

“Aquilo a que estamos a assistir é uma solução que põe em risco o dinheiro dos contribuintes, para entregar um banco limpo a privados, o Banco Novo que Carlos Costa anuncia é um banco limpo por dinheiros públicos, que vai ser gerido por privados", afirmou Catarina Martins.

Considerando que existem ainda muitas perguntas por responder - como, por exemplo, o que vai ficar no banco bom e no banco mau e quem vai gerir um e outro -, a Catarina Martins acrescentou que vai continuar a acompanhar a situação.

“Podemos chamar nomes novos, podemos tentar encontrar novas formas de o justificar, mas o que acabou Carlos Costa de anunciar foi que o Estado vai fazer um empréstimo gigantesco a um sindicato bancário privado, para um sindicato bancário privado ficar com um banco limpo para gerir”, concluiu.

Para além de Catarina Martins, no comício participaram ainda Cecília Honório, deputada eleita pelo círculo de Faro, e Luís Casinhas, dirigente do Bloco de Esquerda no Algarve.

Francisco Louçã considera que o essencial ficou por esclarecer

Num post no blogue do Público “Tudo Menos Economia”, Francisco Louçã colocou várias questões sobre a solução encontrada pelo Banco Portugal, que ainda carecem de resposta.

“Os bancos que se responsabilizam pelo empréstimo da troika ao Fundo de Resolução não exigem uma garantia do Estado? Quem acredita que Ulrich ou Amado vão tirar as castanhas do lume dos Espírito Santo, arriscando os seus próprios bancos, que levante a mão. Se, além disso, acredita que estes bancos esperam em seis meses recuperar o valor (para ser logo depois ser vendido a um novo proprietário que lhes vai disputar o mercado) de um banco de que tanta gente vai tirar os depósitos na 2ªf de manhã, então merece ser santificado. O Estado, ou seja, as nossas carteiras, vai dar a garantia. Vamos ter de pagar”.

“Os credores que foram exilados no “banco mau”, mas que fizeram operações com o BES, o tal banco de dois milhões de depositantes, vão aceitar agora perder o seu dinheiro sem levarem a tribunal o Estado ou o “novo banco”? E os pequenos acionistas? Vamos ter de pagar, se a coisa corre mal”, acrescenta Louçã.

“Nos empréstimos com dinheiro da troika ao BCP e BPI, o Estado ficava com ações do banco (embora fossem ações especiais com direitos diminuídos) e tinha ainda assim uma palavra nas suas operações. Agora, vai emprestar a um Fundo que não tem recursos próprios, entrega o controlo da coisa aos outros bancos e não tem uma palavra a dizer sobre a condução e estratégia das operações financeiras. É dar o ouro ao concorrente do bandido”, acusa.

“Qual o prazo, quais os juros, quais os contratos, quais os despedimentos, tudo isso é mistério”, conclui o economista.

Termos relacionados: Política