Ex-ministro diz que contrapartidas aos submarinos eram “imaginárias”

28 de July 2014 - 18:02

Álvaro Santos Pereira afirma no Parlamento que o modelo das contrapartidas foi feito para convencer a opinião pública de que a compra de material militar era neutra. Assim, as contrapartidas eram “uma autêntica falácia”, sem base económica sólida, não eram realistas.

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Álvaro Santos Pereira: Contrapartidas imaginárias, irrealistas, uma falácia.
Álvaro Santos Pereira: Contrapartidas imaginárias, irrealistas, uma falácia.

O ex-ministro da Economia Álvaro Santos Pereira afirmou nesta segunda-feira, em depoimento à comissão de inquérito à compra de equipamentos militares, no parlamento, que as contrapartidas negociadas pelos vários governos em nome do Estado português na compra de equipamento militar eram "imaginárias", devido ao seu grau de incumprimento generalizado.

O antigo membro do atual governo PSD/CDS-PP entre junho de 2011 e julho de 2013 admitiu ainda ter sido aconselhado a "não mexer no dossier" por se tratar de um assunto com um grande "passivo reputacional".

Milagre de multiplicação dos euros investidos

Para Santos Pereira, "o modelo das contrapartidas foi desenvolvido para convencer a opinião pública de que a compra de material militar era neutra", apontou, classificando-as de "imaginárias".

O ministro afirmou que "os multiplicadores (por exemplo, a transferência de tecnologia dos fabricantes para o país comprador) utilizados, na ordem dos 20, 30 ou 40... estamos a falar de contrapartidas sem base económica sólida, não realistas. Seria um autêntico milagre de multiplicação dos euros investidos. Uma autêntica falácia", disse, acrescentando que, "muitas vezes, o próprio preço é empolado pelos consórcios porque sabem que vão ter de dar as tais contrapartidas".

Para Santos Pereira, "o modelo das contrapartidas foi desenvolvido para convencer a opinião pública de que a compra de material militar era neutra", apontou, classificando-as de "imaginárias".

Conselhos para não mexer no dossier

O ex-ministro disse ainda ter recusado todas as opiniões que lhe diziam para não falar nem mexer neste dossier, e “definiu uma nova estratégia para garantir a rápida execução dos valores devidos, dando privilégio à exportação e à criação de emprego", através da "renegociação das diversas contrapartidas".

"O objetivo era aproveitar e tentar trazer benefícios para a economia portuguesa. Não tive problema algum em mexer porque nada tinha a temer", continuou, exemplificando com o projeto de remodelação de um empreendimento turístico no Algarve, o Alfamar, acordado com um dos parceiros do consórcio alemão com o qual o Estado português contratou o fornecimento de dois submarinos U-291.

Os deputados José Magalhães (PS), António Filipe (PCP) e João Semedo (Bloco) insistiram em saber quem teria aconselhado Santos Pereira a não "mexer no assunto submarinos", cujo contrato fora formalizado em 2004 pelo então ministro da Defesa, Paulo Portas, atual vice-primeiro-ministro, mas Álvaro Santos Pereira apenas falou dos seus colaboradores e de pessoas próximas.