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Agrotóxico é apontado como culpado pelo declínio de aves

Pela primeira vez, investigadores estabelecem ligações claras entre os efeitos sistémicos da imidacloprida, da família dos neonicotinóides, com a retração de populações de aves. Artigo de Fernanda B. Muller, Instituto CarbonoBrasil.

Na Holanda, investigadores e ornitólogos preocupados com a redução de populações de aves insetívoras em áreas agrícolas avaliaram diversas causas e concluíram que esta problemática está a ocorrer devido aos altos níveis de imidacloprida, um inseticida sistémico.

Da família dos neonicotinóide, a imidacloprida é muito utilizada na agricultura e horticultura para tratar sementes e bulbos, afetando o sistema nervoso central dos insetos e deixando-os desorientados ou paralisados antes de morrerem. O mesmo agrotóxico é ligado à mortalidade de abelhas e outros invertebrados.

Este é o primeiro estudo que correlaciona o agrotóxico com possíveis efeitos danosos – através da cadeia alimentar – para vertebrados.

“O uso da imidacloprida é o fator que melhor explica o declínio das populações em comparação com outros fatores, como o uso da terra”, explicou o professor Hans de Kroon, da Universidade de Radbound, que supervisionou o estudo, publicado na revista Nature.

“Os nossos resultados indicam que o impacto dos neonicotinóides sobre o ambiente natural é ainda mais substancial do que tem sido relatado recentemente, e relembra os efeitos dos inseticidas persistentes no passado”, enfatizou.

A pesquisa foi realizada em parceria com o Centro Sovon para Ornitologia de Campo, e abrangeu dados detalhados sobre as tendências e fatores ambientais que afetam as populações locais de 15 espécies de aves, como estorninhos e andorinhas.

Os biólogos combinaram informações da secretaria de água distrital com contagens sistemáticas das aves feitas antes e após a introdução da imidacloprida, em 1995.

Eles concluíram que, quanto maior as concentrações de imidacloprida na superfície da água, maior é o declínio no número de aves. Para as 15 espécies, o número de indivíduos caiu em média 3,5% por ano nas áreas com mais de 20 nanogramas de imidacloprida por litro de água.

Osinvestigadores ainda não sabem precisamente o que causa o declínio: se é a falta de comida, a ingestão de insetos contaminados ou uma combinação dos dois. Para algumas espécies, a ingestão de sementes preparadas com inseticida não pode ser excluída das explicações.

Também ainda não está claro se o sucesso na reprodução das aves está a cair, se a mortalidade está a aumentar, ou ambos, apontam os investigadores.

“Os neocotinóides sempre foram considerados como toxinas seletivas. Mas os nossos resultados indicam que podem afetar todo o ecossistema. O estudo mostra o quão importante é ter boas séries de dados de campo e a sua análise rigorosa”, disse Kroon.

No Brasil, a ausência de séries temporais para a avaliação dos efeitos das atividades humanas sobre a biodiversidade é um problema sério. Já nos países europeus, os dados já têm vindo a ser recolhidos há muitas décadas devido ao estímulo que se oferece às pesquisas de base.

No caso holandês, o sistema de monitorização das aves é um dos mais densos do mundo.

“Temos dados suficientes disponíveis de espécies de aves comuns para analisar as densidades e tendências nos seus números”, disse Ruud Foppen, do Centro Soven, que organiza e analisa as contagens de aves.

Assista ao vídeo sobre a pesquisa.

Declines in insectivorous birds associated with neonicotinoid concentrations (English subtitles)

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