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Vidigueira: Câmara destrói armazém onde alojou famílias ciganas

Sem aviso prévio, a Câmara da Vidigueira destruiu o armazém, uma construção ilegal, onde tinha alojado cerca de 70 pessoas de famílias ciganas, que afirmam: “ É racismo contra o cigano”.
O presidente da Câmara da Vidigueira, Manuel Narra, eleito pela CDU, disse ao jornal "Público" que a demolição foi o “cumprimento da legalidade”

Segundo o “Público” desta terça-feira, a Câmara da Vidigueira alojou 70 pessoas de famílias ciganas numa construção ilegal da própria câmara. As famílias viviam há 30 anos num acampamento nas ruínas do castelo da Vidigueira. Em “finais de 2011, princípios de 2012” a câmara transferiu as famílias para o armazém que agora demoliu e chamou a este processo “Projeto Parque de Estágio”.

No passado dia 13 de junho, houve uma zanga grave e violenta entre duas famílias de etnia cigana, os Azul e os Cabeça. As duas famílias decidiram abandonar temporariamente o local, para acalmar os ânimos.

Porém, quatro dias depois, a 17 de junho, o armazém foi destruído e deitado lixo para o seu interior.

O empresário que prestou o serviço, por ordem da câmara, conta ao jornal que a ordem foi de “demolição” “com caráter de urgência”, refere que “o presidente estava lá, a gente realizou o serviço na presença deles todos” e salienta: “Foram eles [autarquia] que mandaram empurrar aquele lixo lá para dentro [do armazém]. Mandaram ripar a área à frente para criar instabilidade de terreno para que eles não pudessem voltar para ali.”

Um dos membros das famílias ciganas, Manuel Azul, afirma ao jornal: “É racismo contra o cigano. Ele [o presidente da câmara] aproveitou a gente sair e derrubou tudo.” Manuel Azul e a mulher disseram ao jornal que ficaram sem nada (roupa, eletrodomésticos, etc) e salientam: “Ele podia ter avisado: ‘Tirem o que têm a tirar.’ Dava um prazo.” As famílias queixam-se ainda de não serem recebidas pela autarquia e de estarem sem abrigo. “Ao menos que nos deem uma indemnização ou um bocado de terra para a gente ficar.”

O presidente da Câmara da Vidigueira, Manuel Narra, eleito pela CDU, disse ao jornal que a demolição foi o “cumprimento da legalidade” e afirma que em “finais de 2011, início de 2012”:“Transferimos cerca de 15 famílias, fizemos obras para que tivessem algumas condições – não eram bem habitações, não era a tradicional habitação que o resto da comunidade está habituada a ter”.

Manuel Narra diz que a ideia era passar as famílias para a vila quando os “técnicos nos dissessem que estavam em condições de respeitar a vizinhança”.

O jornal realça que em fevereiro de 2011, a ONG European Roma Rights Centre (ERRC) denunciou as condições precárias em que estas duas famílias ciganas viviam e o facto da câmara da Vidigueira lhes ter cortado a água, quando viam no castelo. A ERRC pedia à câmara que atuasse “urgentemente no realojamento da comunidade em habitações integradas, em conformidade com as obrigações de Portugal no respeito da Lei Internacional do direito a habitação adequada”.

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