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Reorganizar para fechar é obra de Crato

Reformar, reorganizar, redimensionar: no léxico da direita, tudo sinónimos da palavra extinguir. O país vai ter menos 311 escolas com vida.

O passado dia 21 de Junho revelou-se um dia negro para a Escola Pública. O Ministério da Educação e Ciência anunciou mais cortes no Ensino. No âmbito do programa de ‘Reorganização Escolar’, apresentou uma lista de 311 escolas do 1º Ciclo que já não abrirão portas em Setembro, aquando do início do próximo ano letivo.

Acrescendo ao facto do encerramento destes estabelecimentos de ensino ser já de si desastroso para as populações mais afastadas dos centros urbanos, o Governo não apresenta qualquer alternativa viável de transportes para aqueles e aquelas que se vêm obrigados a mudar de escola para continuar o seu ciclo de ensino.

Os custos indiretos do ensino cada vez são mais altos e sobem exponencialmente para as famílias mais carenciadas e isoladas geograficamente. A pobreza rural e do interior é motivo de vergonha para todos menos para o Governo PSD/CDS. O encerramento destas 311 escolas, que afeta diretamente o interior do país e os concelhos mais rurais do litoral do país não põe só em causa a deslocação de milhares de crianças para outras escolas, ela traz também o despedimento de professores e funcionários.

Não há distrito que escape na lista do Ministério da Educação. Todos eles vão ter escolas encerradas. O concelho de Baião – distrito do Porto – é um dos concelhos mais afetados. 11 das 311 escolas com morte anunciada estão em Baião.

Baião perdeu 1.500 habitantes entre 2001 e 2011. É um dos concelhos mais desertos do distrito do Porto. O fecho de vários serviços públicos, fábricas de têxtil e calçado e as medidas de austeridade têm marcado a razão do adeus de muita gente que, ou parte para qualquer cidade do litoral ou tenta a sua sorte além-fronteiras. E pergunto eu: faz algum sentido fechar 11 escolas num concelho deserto, desistindo dos pouco que ainda resistem à vaga de emigração e envelhecimento que Baião atravessa?

São as más escolhas políticas que levaram a uma sucessiva desertificação do interior. A visão economicista na gestão dos serviços públicos e a centralização cada vez mais feroz das decisões esvazia as várias regiões de capacidade de criação de respostas à crise. Até ao anúncio público do fecho destas três centenas de escolas, nenhum órgão autárquico foi ouvido nem tido em conta durante todo o processo. Modus operandi característico nas governações mais conservadoras e autoritárias.

Para quem achava que a Troika se tinha ido embora, ela acabou de roubar 311 escolas à geração portuguesa mais jovem, destruir centenas de postos de trabalho entre professores e funcionários, contribuir para o aumento da desertificação do interior e afundar ainda mais a economia numa espiral recessiva. Se aqui houve alguma reorganização, reforma ou redimensionamento foi com certeza na vida das pessoas que estudavam e dependiam dos postos de trabalho existentes nestas escolas. ‘O país está melhor mas as pessoas não’, dizia-nos o líder da bancada parlamentar do PSD Luís Montenegro há umas semanas atrás. Mas que país é este sem pessoas? Sem paz, pão, habitação, saúde, educação?

Sobre o/a autor(a)

Museólogo. Investigador no Centro de Estudos Transdisciplinares “Cultura, Espaço e Memória”, Universidade do Porto
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