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Aumento do nível do mar provoca alterações em cadeia nos ecossistemas

Um novo estudo concluiu que os impactos das mudanças climáticas sobre os ecossistemas marinhos podem ser mais difíceis de prever do que se pensava. Por Fernanda B. Müller do Instituto CarbonoBrasil
O estudo foi conduzido nas Ilha do Lagarto (Lizard Island), na Grande Barreira de Corais (Austrália) / Chris Roelfsema / Universidade de Wollongong

Uma nova investigação avaliou pela primeira vez como as interações entre os ecossistemas marinhos são afetadas por alterações ambientais, e concluiu que os impactos das mudanças climáticas sobre essas áreas podem ser mais difíceis de prever do que se pensava.

Publicado no periódico Nature Climate Change, o trabalho revelou que o aumento do nível do mar causado pelo aquecimento global pode afetar negativamente os ecossistemas marinhos tropicais até meados deste século, quantificando o que até agora se sabia apenas empiricamente.

A principal autora do estudo, Megan Saunders, da Universidade de Queensland, explicou que a reposta de um ecossistema à mudança climática, como dos recifes de coral, pode ter impactos significativos nos ecossistemas vizinhos.

“Com o aumento do nível do mar, veremos águas mais profundas sobre os recifes de coral, levando a ondas maiores, mais erosão, danos à costa, e, finalmente, a condições mais duras para as gramas marinhas e outras comunidades oceânicas que dependem da proteção das ondas fornecida pelos recifes”, disse Saunders.

A investigadora ressaltou a importância de ecossistemas como as gramas marinhas, que além de estocarem carbono, servem de abrigo para peixes, produzem altos níveis de oxigénio e oferecem proteção contra as ondas. Portanto, a sua destruição teria consequências devastadoras, alerta Sauders.

Parametrizando modelos físicos e biológicos, os investigadores concluíram que o aumento do nível do mar terá efeitos negativos sobre as gramas marinhas antes da metade desde século. Isso porque as taxas de crescimento dos recifes provavelmente serão insuficientes para manter uma condição adequada nas lagoas internas aos recifes sob um cenário de emissões moderadas a altas de gases do efeito de estufa.

“Essa investigação indica que será mais complexo prever os impactos sobre as ilhas, pois isso não apenas dependerá de como os recifes respondem, mas a natureza desta resposta também terá efeitos sobre outros ecossistemas costeiros interdependentes”, ponderou o professor Colin Woodroffe, da Universidade Wollongong.

A investigação, conduzida na Ilha do Lagarto (Lizard Island), na Grande Barreira de Corais (Austrália), envolveu ecologistas, modeladores, geógrafos e engenheiros, que mapearam a presença dos recifes de coral, mediram a topografia do assoalho marinho e monitorizaram a perturbação das gramas marinhas e dos corais numa determinada área.

A equipa então estudou dados sobre os ventos para determinar prováveis mudanças nas condições das ondas com o aumento do mar e modelou a resposta do ecossistema.

“Habitats costeiros serão permanentemente perdidos e outros irreparavelmente alterados enquanto tentam se aclimatizar às condições mutantes”, lamentou o professor Hoegh-Guldberg, da Universidade de Queensland.

Além do impacto sobre os ecossistemas, o estudo também enfatiza a seriedade das consequências do aumento do nível do mar para as populações que vivem na zona costeira, especialmente nas ilhas cercadas de recifes.

Artigo de Fernanda B. Müller do Instituto CarbonoBrasil

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