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Jornalistas: “A indignação não pode desaparecer com a espuma dos dias”

Um grupo de jornalistas reuniu-se na última quinta-feira na Casa da Imprensa, em Lisboa, para evitar que a crise que atinge os meios de comunicação, com o esvaziamento das redações, a precariedade e a concentração de propriedade não fique sem resposta por parte dos principais atingidos. “A indignação não pode desaparecer com a espuma dos dias”, dizem no manifesto aprovado no final da reunião, e que está ainda a recolher adesões.
A reunião foi motivada pelos recentes despedimentos no grupo Controlinveste, que atingiram 160 trabalhadores, entre os quais 65 jornalistas. Mas o consenso é que a crise vem de antes e que o que está em causa “é o próprio paradigma do direito e do dever de informar como sustentáculos fundamentais de uma sociedade moderna, livre e democrática”.
“Temos grande responsabilidade pelo estado a que chegámos”
Uma passagem mais importante do manifesto é aquela em que os jornalistas assumem as suas responsabilidades: “Como garantir qualidade informativa sem meios? A falta de tempo, a superficialidade, as redações amorfas, a precarização não são problemas novos. Temos grande responsabilidade pelo estado a que chegámos. Essa responsabilidade é coletiva mas começa por ser individual. Temos de ser exigentes com cada um de nós, com o colega do lado, com a chefia intermédia, a direção e a administração. Mas só temos força e poder para exigir dos outros se nos organizarmos, se percebermos que somos classe. (…) Juntos, somos e podemos. Cada um por si fica talvez muito pouco: a ilusão de um poder que já nem temos e que perderemos a oportunidade de recuperar se não agirmos já, com inteligência e exigência”.
Reflexão e formas de luta
O que está em causa “é o próprio paradigma do direito e do dever de informar como sustentáculos fundamentais de uma sociedade moderna, livre e democrática.
Por isso, os jornalistas decidiram organizar-se para promover a reflexão e formas de luta.
Decidiram organizar três grupos de trabalho para fazer o diagnóstico da situação do jornalismo; para, em colaboração com o sindicato, organizar um Congresso dos Jornalistas; e, finalmente, para preparar ações de luta e protesto e lançar projetos de colaboração, um espaço de coworking para precários, explorar as possibilidades de crowdfunding e de cooperativas, entre outras ideias.
O grupo voltará a reunir-se em setembro, e até lá a informação será centralizada no blogue Fórum dos jornalistas, “onde todos poderão comentar esses trabalhos e fazer bem-vindas sugestões”.
Em seguida, o manifesto na íntegra e as primeiras assinaturas:
"Vamos a isso que se faz tarde"
40 anos depois do 25 de abril, a liberdade de imprensa sofre um dos momentos mais negros da sua história. Sabemos que as questões que afectam o jornalismo não lhe são exclusivas: esvaziamento das redacções, precariedade, concentração da propriedade. Mas o jornalismo tem responsabilidades específicas e, nesta altura, está em risco. Em causa está o próprio paradigma do direito e do dever de informar como sustentáculos fundamentais de uma sociedade moderna, livre e democrática.
A intenção anunciada de um brutal despedimento colectivo na Controlinveste constitui mais um golpe no panorama informativo e serve hoje de pretexto para nos encontrarmos sem nos esquecermos que este é um processo com décadas. Editorias devastadas, partes significativas do território sem cobertura. É demais para quem parte e é demais para quem fica.
Como garantir qualidade informativa sem meios? A falta de tempo, a superficialidade, as redacções amorfas, a precarização não são problemas novos. Temos grande responsabilidade pelo estado a que chegámos. Essa responsabilidade é colectiva mas começa por ser individual. Temos de ser exigentes com cada um de nós, com o colega do lado, com a chefia intermédia, a direcção e a administração. Mas só temos força e poder para exigir dos outros se nos organizarmos, se percebermos que somos classe. Da classe que somos fazem parte os que têm (ainda ou desde há pouco) redacções, os que são precários há 20 anos, os que estão a chegar à reforma, os que saíram pelo seu pé, os que não chegarão nunca a ter uma redacção, os que sonham com uma e a merecem. Juntos, somos e podemos. Cada um por si fica talvez muito pouco: a ilusão de um poder que já nem temos e que perderemos a oportunidade de recuperar se não agirmos já, com inteligência e exigência.
Noutros países, há órgãos colegiais ouvidos pelos partidos, pela tutela, pelos patrões, pelo público. Há fundos de greve usados para fazer greve, quando ela é a última possibilidade para salvar empregos, condições de trabalho, independência, liberdade, democracia. Sim, para tudo isso podemos contribuir, e tudo isso podemos ajudar a destruir. A indignação não pode desaparecer com a espuma dos dias. É obrigatório não prescindir de eleger os órgãos representativos em cada órgão de comunicação social (CR, CT e delegados sindicais) e importa pensar se não será útil formar um colégio que junte representantes de cada um para tornar mais eficazes acções de luta e projectos jornalísticos.
Por fim, mas não por último, é urgente pensar em soluções conjuntas para garantir que as centenas de jornalistas que nos últimos anos perderam os seus empregos possam, se essa for a sua vontade, voltar a trabalhar. Aceitar a inexorabilidade de decisões alheias sobre as nossas vidas e a nossa profissão é aceitar a nossa impotência e, em última instância, a morte do chamado 4º poder. Chegou a hora de acordarmos. Parafraseando o já tão saudoso Manuel António Pina: não é ainda o fim do mundo, mas já se faz tarde.
Ana Luísa Rodrigues
Myriam Zaluar
Sofia Lorena
Cláudia Henriques
Sofia Branco
Ricardo Alexandre
Nicolau Ferreira
Nuno Aguiar
Camilo Azevedo
António Granado
Fátima Mariano
Paulo Pena
Carla Baptista
Pedro Rainho
Tiago Contreiras
Paula Sofia Luz
Frederico Duarte Carvalho
Sara Figueiredo Costa
Augusto Freitas de Sousa
Guilhermina Sousa
Mariana Mata
Miguel Marujo
Alexandre Martins
Nicolau Ferreira
Luís Gouveia Monteiro
Maria João Guimarães
Cláudia Marques Santos
Ricardo J. Rodrigues
José Manuel Rosendo
Isabel Pereira Santos
José António Cerejo
Paulo Martins
Sandra Bernardes
Viriato Teles
Sandra Monteiro
Eugénio Alves
Sofia Quintas
António Loja Neves
Luís Reis Ribeiro
Catarina Almeida Pereira
Sofia Cristino
José David Lopes
Raquel Ribeiro
Carlos Lopes
Abel Coentrão
Nuno Ferreira
Isabel Gorjão Santos
Carlos Branco
Miguel Manso
Dulce Furtado
Bruno Rascão
Sandra Oliveira
Ricardo Bordalo
Manuela Barreto
João Dias
Leonor Figueiredo
Maria João Guardão
Luís Filipe Sebastião
Pedro Jerónimo
António Passos Leite
Margarida Neves de Sousa
Maria Augusta Casaca
Alda Rocha
Alfredo Mendes
Clara Barata
Isabel Lucas
Rui Peres Jorge
António Costa Santos
Isabel Moreira
Tânia Sousa Marques
Áurea Sampaio
António José Vilela
Inês Rodrigues
João Vasco
Rita Travassos
Sofia da Palma Rodrigues
Patrícia Alves
Patrícia Fonseca
Luís J. Santos
Enrique Pinto Coelho
Patrícia Fonseca
Carlos Júlio
Liliana Valente
Rodrigo Cabrita
Cátia Bruno
Neuza Padrão
Inês Forjaz
Maria João Rocha
Miguel Roque Dias
Tiago Cardoso Pinto
Rita Ferreira
Luís Silva
Filipe Paiva Cardoso
Emília Freire
Paulo Nobre
Helena Geraldes
Ricardo Dias Felner
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